“Penso que a pandemia foi um grande desafio para todos e foi também um exemplo de como a Parceria Especial pode servir, nomeadamente Cabo Verde”, afirmou hoje a embaixadora da UE, Carla Grijó, à margem de um evento, na Praia, alusivo ao 15.º aniversário da Parceria Especial estabelecida pela União Europeia com Cabo Verde.
“A nossa equipa Europa foi muito importante na doação de vacinas em quantidades e atempadamente. Foi um esforço conjunto porque não chega só as vacinas estarem disponíveis. É preciso que haja, do lado do Governo que as recebe, capacidade logística para as administrar”, sublinhou a diplomata portuguesa e embaixadora da União Europeia na Praia.
Em declarações aos jornalistas, Carla Grijó afirmou que Cabo Verde “demonstrou uma grande capacidade de organização” da campanha de vacinação, em que 98,6% da população adulta elegível já recebeu pelo menos a primeira dose da vacina contra a covid-19 e 86,4% a segunda dose, enquanto 38,5% também já recebeu a dose de reforço, segundo dados do Governo.
“Foi muito importante. Estamos hoje aqui em Cabo Verde a níveis de vacinação muito elevados, dos mais elevados do mundo, eu não diria só de África, do mundo. E é isso em si é o resultado da parceria da União Europeia e dos seus Estados-membros com Cabo Verde. Portanto, é um exemplo concreto de um desafio, sim, que nos que nos desafiou no fundo todos, mas que conseguimos, por via da parceria, superar”, destacou.
A UE e Cabo Verde celebraram em 2007, após um longo período de negociações, uma Parceria Especial, a única do género no continente africano. Abrange áreas como a boa governação, segurança e estabilidade, integração regional, convergência técnica e normativa, sociedade da informação e do conhecimento, luta contra a pobreza e desenvolvimento, mas Cabo Verde já manifestou a intenção de introduzir outros pilares.
“O posicionamento de Cabo Verde como país seguro e com alianças fortes para defesa e segurança cooperativa nos domínios da segurança marítima, da cibersegurança e de crimes transnacionais são prioridades e desafios que queremos realizar e ganhar com o reforço da nossa Parceria Especial da UE, para um Cabo Verde mais resiliente e com uma economia mais diversificada”, destacou, na sua intervenção no evento de hoje, o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva.
“As nossas especificidades enquanto país da diáspora, pequeno Estado insular em desenvolvimento, inserido na Macaronésia e com uma localização geoestratégica que nos coloca entre o continente africano, a Europa, o Brasil e os Estados Unidos devem ser valorizadas como fatores distintivos nas nossas relações de parceria e de alianças para o deslocamento sustentável, para o investimento, transações económicas e para defesa e segurança”, reforçou o chefe do Governo.
Ulisses Correia e Silva recordou igualmente as crises que têm afetado o arquipélago, das secas consecutivas à ausência de turismo devido à covid-19 e agora a crise inflacionista provocada pela guerra na Ucrânia, bem como o respetivo apoio do bloco europeu.
“De 2017 a 2021, Cabo Verde foi fustigado por secas severas, as piores dos últimos 40 anos. A União Europeia deu uma resposta rápida e um apoio extraordinário para o programa de mitigação das secas e dos maus anos agrícolas. Gostaria também de reconhecer a pronta resposta da União Europeia e de países europeus a nível bilateral no apoio a Cabo Verde no combate a pandemia de covid-19. A disponibilização de vacinas em tempo e em quantidade foi determinante para o sucesso deste combate que ainda continua”, destacou.
Para a embaixadora da União Europeia, após 15 anos de Parceria Especial já é possível fazer uma “retrospetiva e ver quais são os ganhos alcançados”, perspetivando “uma ampla área para cooperação para o futuro”.
“A UE também ganha com a parceria com Cabo Verde. É muito importante para a UE poder contar com parceiros que partilham os mesmos valores. O Estado de Direito Democrático, o respeito pelos direitos humanos, a transparência, a boa governação, tudo isso são características que permitem que a nossa relação seja, de facto, de parceiros especiais”, disse Carla Grijó.
Reconheceu, contudo, que “há muita coisa ainda por fazer” e que a EU “está fortemente empenhada em apoiar Cabo Verde no cumprimento das suas metas nacionais para 2030”, até porque ajudará a Europa “a cumprir as nossas próprias metas”.
“Porque há temas, falo, por exemplo, da questão das alterações climáticas, em que nenhum país, por maior que seja, consegue resolver sozinho. Temos sempre que criar condições para decisões coletivas e volto à questão dos valores. É muito mais fácil que isso aconteça quando os países, neste caso a União Europeia não é um país, mas reúne um conjunto de 27 Estados membros que partilham com Cabo Verde os mesmos objetivos, nomeadamente em relação à transição verde e outras à transformação digital”, acrescentou.
Já o primeiro-ministro reforçou que a Parceria Estratégica assinada em 2007 “é de facto um ponto alto” do relacionamento com a EU, que resultou de “uma vontade comum que tem contribuído muito para o processo de desenvolvimento de Cabo Verde”, ao nível da boa governança, da segurança e estabilidade, do reforço do capital insular, da sociedade do conhecimento, da inclusão e coesão social e da economia, mas à qual se seguiram outros passos.
“A parceria para a mobilidade, reforçada com o acordo para a simplificação das regras relativas aos vistos, é um outro marco importante nas nossas relações. O Sistema de Preferências Generalizadas para a facilitação da entrada de produtos de Cabo Verde na União Europeia é e têm sido importantes para a economia deste país. Melhorámos o acordo de pescas em 2019 e temos margem e vontade de melhorar o próximo acordo”, vaticinou o chefe do Governo.
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