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Pandemia arrasa Airbnb e ajuda a reduzir rendas para moradores em cidades turísticas na Europa

Empresas de gestão de propriedades e proprietários contactados pela “Reuters” em cidades como Lisboa, Barcelona, ​​Praga e Veneza afirmam que o colapso do turismo devido à pandemia levou senhorios a desistirem das estadias de curto prazo.
8 Março 2021, 13h28

A pandemia de Covid-19 conseguiu o que muitos políticos por toda a Europa tentaram e não conseguiram – remover milhares de Airbnbs dos centros das cidades e, assim, ajudar a reduzir as rendas para os residentes locais. Os dados são da consultora ‘AirDNA’ que revela uma queda de 21,9% do número de anúncios em 2020, segundo a “Reuters”.

Embora as cidades da Europa recebam turistas há muito tempo, os críticos dizem que o aumento de propriedades listadas no portal da Airbnb nos últimos anos retirou muitos moradores dos seus próprios bairros, transformando-os em espaços “sem alma”, substituindo a identidade cultural por azáfamas turísticas, devido à contínua subida das rendas.

Empresas de gestão de propriedades e proprietários contactados pela “Reuters” em cidades como Lisboa, Barcelona, ​​Praga e Veneza afirmam que o colapso do turismo na pandemia significa que alguns senhorios substituíram turistas por inquilinos de médio a longo prazo, mudaram-se por conta própria ou desistiram das propriedades completamente.

Os dados da empresa de análise AirDNA mostram que o número de listagens do Airbnb com pelo menos uma noite reservada ou disponível no mês passado nas 50 maiores cidades da Europa caiu 21,9% em 2020 comparativamente a 2019.

A Airbnb diz que se adaptou aos padrões de viagem em constante mudança, com as pessoas a deslocarem-se para cidades menores, preterindo os principais pontos turísticos. “Tivemos mais anúncios em França, Alemanha, Portugal, Espanha e República Checa combinados no final de 2020 do que no final de 2019”, disse o porta-voz da empresa, Andreu Castellano.

Enquanto alguns senhorios nas principais cidades europeias planeiam retomar o negócio proporcionado pela Airbnb quando os turistas voltarem, outros preferiram simplesmente abandonar o antigo modelo.

“Se o turismo tivesse voltado mais rápido, talvez eu não tivesse tomado essa decisão. Mas não posso passar mais um ano sem ter uma noção clara de quando o dinheiro está a entrar”, disse Vanessa Rola, proprietária de quatro apartamentos no bairro da Graça, em Lisboa.

Em Veneza, outros dos pontos turísticos onde a plataforma de aluguer de casa foi muito criticada, os dados da AirDNA revelam que as reservas anuais para a Airbnb e a rival Vrbo caíram 67% em janeiro. Os residentes contestatários a estas plataformas aproveitaram o momento para pedir ao governo italiano que aproveite a oportunidade para limitar os dias de arrendamento e convertendo espaços vazio em habitação de baixo custo.

Em Lisboa, onde o crescimento de Airbnbs no centro histórico foi um dos mais significativos do mundo, cerca de cinco mil dos 25 mil anúncios da capital portuguesa desapareceram durante a pandemia, de acordo com o portal Inside Airbnb.

O preço das rendas caiu 15% entre março e dezembro de 2020, de acordo com a base de dados da ‘Confidencial Imobiliário’, em grande parte atribuída à repentina disponibilidade de milhares de alojamentos previamente usados apenas para férias.

Ainda assim, ainda existem muitos senhorios preferiram não abdicar das suas licenças. Em Portugal, embora milhares de propriedades tenham saído da lista no portal da Airbnb, apenas 114 desistiram das suas licenças de arrendamento para férias – um bem cobiçado nos bairros históricos da cidade.

A pandemia teve um impacto muito significativo para a Airbnb, especialmente em Portugal, registando-se perdas de 5,5 milhões de euros só em março de 2020, segundo os dados recolhidos pela AirDNA. As maiores perdas concentraram-se em Lisboa. Se não houvesse mais cancelamentos depois de 2 de abril de 2020, a capital portuguesa perderia 12 milhões de euros face a abril de 2019. No Porto, as perdas já eram de 3,4 milhões, em termos homólogos, no início do mesmo mês.

Por sua vez, os programas que tentam atrair os proprietários de Airbnb para o mercado de habitação social através de incentivos fiscais e a promessa de um contrato de cinco anos têm visto uma aceitação lenta. Apenas 34 propriedades em Lisboa e 12 no Porto, receberam estes apoios.

Em vez disso, alguns proprietários estão a utilizar portais de arrendamento de casa “tradicionais” de modo a apelarem a inquilinos para o longo prazo.

Eduardo Miranda, presidente da Associação do Alojamento Local em Portugal (ALEP), espera que 15% dos Airbnbs fiquem fora do mercado em Lisboa para sempre, mesmo quando o turismo retomar os níveis pré-pandémicos.

“Este será mais um ano de sacrifícios. O melhor deste verão estará perdido, e se o verão se perde, o ano fica perdido”, disse Eduardo Miranda à “Reuters”.

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