Apesar dos grandes desafios e incertezas do contexto atual, como a inflação crescente, o aumento das taxas de juro, (ainda) a evolução pandémica e os numerosos impactos, diretos e indiretos, da guerra na Ucrânia, o tema da sustentabilidade ocupa uma importante posição nas preocupações das seguradoras.

Pela sua natureza, o sector segurador não tem uma significativa “pegada carbónica”, mas desempenha, sem qualquer dúvida, um importante papel na sensibilização para atitudes sustentáveis, junto dos seus colaboradores, dos consumidores e também dos seus parceiros.

Além da sensibilização, o sector segurador tem procurado também adaptar-se aos novos desafios neste contexto, destacando-se de seguida algumas iniciativas no âmbito do desenvolvimento de novos produtos.

Em linha com os riscos envolvidos, as áreas relacionadas com os seguros de danos têm mostrado grande atividade no que se refere a produtos orientados para a sustentabilidade, embora a presença nas linhas de seguros pessoais também esteja a crescer gradualmente. São várias as áreas de negócio em que temos observado maior evolução.

Ao nível dos seguros de danos, especificamente dos seguros de construção, têm aparecido exemplos de produtos que procuram impulsionar a construção de “edifícios verdes”, adotando idêntico propósito no restauro de edifícios mais antigos, após um sinistro. Tem também surgido oferta que considera a eficiência energética das propriedades, das instalações e dos equipamentos, tendo em conta os ganhos reputacionais decorrentes de uma “construção verde”.

A título ilustrativo, podemos destacar um seguro com cobertura adicional para suportar os custos acrescidos de restauração provocados pela incorporação, em maior escala, de produtos “amigos do ambiente”, e que não são garantidos por um seguro standard.

Nos produtos relacionados com a mobilidade e transportes, no âmbito dos quais o seguro automóvel representa a linha de negócio com maior expressão, observam-se vários seguros que suportam a eficiência energética e a redução de emissões, nomeadamente operadores que atribuem descontos em seguros de veículos híbridos e de combustível alternativo, reembolsos em seguros baseados numa menor quilometragem e, ainda, coberturas destinadas a modelos como o car sharing.

Temos também o exemplo de seguros que oferecem cobertura de furto, roubo, danos ou avarias de bicicletas e bicicletas elétricas com velocidade até 45 km/hora, conjuntamente com um serviço adicional de assistência.

A crescente importância, a nível global, das energias alternativas, está a conduzir a uma maior aposta das seguradoras na cobertura de energias renováveis, quer nas fases de construção e exploração (eólica, solar, geotérmica), quer providenciando cobertura financeira para o desenvolvimento de projetos neste setor.

Nos riscos relacionados com o clima, e além da tradicional cobertura NatCAt, as seguradoras têm vindo a ativamente induzir medidas para prevenir e, assim, mitigar os riscos de catástrofes naturais. Observa-se o desenvolvimento de seguros paramétricos para pequenos agricultores e para trabalhadores agrícolas, seguros de inundações para colmatar a eventual falta de mecanismos públicos de apoio e produtos de financiamento de emergência com vista à prestação de ajuda humanitária.

No quadro das compensações das emissões de carbono as seguradoras podem facilitar o financiamento de projetos que visam a remoção ou desconstrução de instalações de risco, assumindo os riscos inerentes, sendo que alguns operadores fornecem cobertura que garante projetos de energias renováveis em países em vias de desenvolvimento ou cobertura para tecnologias CCS (Carbon Capture/Storage).

Finalmente, têm vindo a surgir alguns produtos especializados: várias seguradoras estão a oferecer produtos para lidar adequadamente com riscos relacionados com o clima, que podem resultar em indemnizações significativas com a limpeza de sítios após um sinistro, e que em alguns casos podem inclusivamente dar origem a ações judiciais apresentadas contra os órgãos de gestão da empresa.

Procura-se também incentivar os clientes a aderir aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, fixados em 2015 pela ONU, oferecendo um desconto nos prémios e oferecendo serviços de aconselhamento climático e de mitigação de riscos.

O papel do sector segurador na sociedade, economia e famílias é já sobejamente conhecido, e o reconhecimento tem vindo a aumentar nos últimos tempos. O seu papel em temas como o ESG é também crucial. As decisões que as seguradoras vão assumindo na aceitação de riscos, nos investimentos, na definição de políticas internas sobre a “pegada carbónica” e os novos produtos que lançam, constitui um importante contributo para a construção de um mundo mais sustentável, responsabilidade que, afinal, é de todos.