Mas se o acordo político não for obtido, estaríamos perante um cenário extremo de Brexit hard: em 1 de Abril de 2019 haveria um corte radical e o RU estaria fora da UE.

Passaram mais de dois anos após o referendo de 23 de Junho de 2016 que deu o SIM ao Brexit e a incerteza ainda não se dissipou. A principal certeza que existe é que o maior perdedor do Brexit será o RU, num cenário loose/loose em que os outros países europeus também sofrerão impactos negativos, mas assimétricos.

Para países, como Portugal, em que há a perceção da importância do relacionamento com o RU (nosso 4º maior destino exportador), há dimensões desse impacto que não se quantificam e que empolam o quadro de incerteza – os residentes portugueses no RU, os laços históricos e da banca existentes entre os dois países, os turistas britânicos que recebemos em Portugal, ou as implicações no quadro decisório da governação da UE pelos riscos que pode implicar para Portugal uma redução do orçamento comunitário.

A previsão do impacto do Brexit para a economia e as empresas portuguesas está feita. Os resultados do estudo patrocinado pela CIP – Confederação Empresarial de Portugal, com a participação da EY – AM&A, estimam que o impacto do Brexit possa vir a significar uma quebra das exportações portuguesas para o RU entre 15% a 26%, uma quebra nos fluxos de investimento direto estrangeiro britânico dirigido a Portugal entre 0,5% e 1,9% e uma quebra nas remessas de emigrantes entre 0,8% a 3,2%. Estes impactos não serão homogéneos em termos setoriais, nem regionais, e o balanço final entre riscos e oportunidades pode vir a ser surpreendente. Depende de se considerarem produtos ou serviços, de se relativizar a dimensão das exportações para o RU pelo seu peso em cada setor, de existirem outros parceiros comerciais com capacidade produtiva semelhante à portuguesa, de existirem fatores históricos que possam atenuar efeitos negativos, ou de existirem oportunidades de Portugal reforçar ou se substituir como parceiro comercial na turbulência implícita ao Brexit, etc.  (http://cip.org.pt/wp-content/uploads/2018/11/BREXIT_Estudo_Digital.pdf).

As recomendações multiplicam-se para que as empresas com negócios bilaterais entre Portugal e o RU, e para as regiões onde esse impacto é mais esperado, se preparem para o Brexit. E como se podem preparar as empresas, as associações empresariais, os setores e as regiões? Perceber os riscos em que incorrem e agarrar as oportunidades derivadas do Brexit. A receita será diferente consoante os setores, as empresas e as regiões. A única coisa que não se pode fazer é desvalorizar o impacto do Brexit