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Parlamento: Presidente dos CTT nega assédio moral aos trabalhadores

O Presidente dos CTT recusa ainda que a empresa esteja perante um despedimento colectivo. Francisco Lacerda foi ouvido na Assembleia da República, no mesmo dia que os Sindicatos e a Comissão de Trabalhadores dos Correios.
21 Dezembro 2017, 21h29

O presidente dos CTT, Francisco Lacerda, disse nesta quinta-feira no Parlamento que a administração que lidera “não pratica assédio” sobre os funcionários e justificou a redução de 800 postos de trabalho com a necessidade de ajustar o negócio postal à digitalização, avança a Lusa.

“A digitalização é tão certa como dia e noite se sucederem. O que fazemos é ajustar às consequências dessa digitalização”, disse Francisco Lacerda numa audição no Parlamento, na comissão de trabalho, convocada com urgência depois de ter sido anunciado o plano de reestruturação dos CTT e a intenção de redução de 800 postos de trabalho até 2020.

O gestor justificou a necessidade de reduzir pessoal com a “queda acentuada” do correio tradicional, com a digitalização, o que considerou que “poderá agravar-se nos próximos anos com a digitalização dos serviços governamentais”, e considerou que com o plano de reestruturação anunciado a empresa continuará sustentável e sem degradação do serviço prestado.

O presidente dos CTT recusou ainda que a empresa esteja perante um despedimento colectivo. Francisco Lacerda foi ouvido na Assembleia da República, no mesmo dia que os Sindicatos e a Comissão de Trabalhadores dos Correios.

Francisco Lacerda recusou falar em despedimentos referindo que o que estão em causa são saídas naturais de trabalhadores (por reformas), processos de rescisão por mútuo acordo e o não prolongamento de contratos a termo. “Este plano não significa abandonar populações ou despedir trabalhadores”, afirmou.

Sobre acusações de assédio moral a trabalhadores dentro dos CTT, sobretudo quando estão perante propostas de rescisão por mútuo acordo, o CEO da empresa negou a sua existência. “A administração dos CTT não pratica assédio e não dá instruções para fazer chantagem. Há conversas [com trabalhadores] em que faz parte chamar a atenção para vantagens e alternativas”, afirmou perante os deputados.

Francisco Lacerda pronunciou-se ainda sobre o caso citado por um sindicalista ontem no Parlamento – os deputados ouviram, antes da audição com a administração dos CTT, os representantes dos trabalhadores – segundo o qual uma carta com chip para controlo do regulador das comunicações (Anacom) foi levada propositadamente a um endereço a centenas de quilómetros de distância para que a empresa artificialmente cumprisse critérios de qualidade. “Em relação à ordem para tratar cartas com chip nego veementemente, os CTT não defraudam. Não é com conhecimento do topo dos CTT que isso é feito e tenho dúvidas de que seja feito”, afirmou.

Sobre a distribuição de dividendos superior aos lucros obtidos, como aconteceu em 2016 (nesse ano, os CTT distribuíram cerca de 70 milhões de euros em dividendos, perante lucros de 62,2 milhões de euros), Francisco Lacerda afirmou que já aconteceu em outros anos e justificou com a “situação financeira forte” da empresa, com excedentes de tesouraria e sem passivo bancário.

Antes de Francisco Lacerda, os deputados ouviram José Rosário, da Comissão de Trabalhadores (CT), afirmar que hoje a “área operacional [dos CTT] já está muito desfalcada de trabalhadores”, pelo que a anunciada saída de centenas de funcionários irá “afectar negativamente a já má qualidade do serviço” prestado. Questionado sobre a situação que se vive na empresa, o porta-voz da CT afirmou que a “empresa tem usado os horários de trabalho como arma de arremesso contra os trabalhadores” e indicou que a empresa tem um “serviço interno de inspecções” que usa contra os funcionários, através da “ameaça de procedimento disciplinar.

José Rosário disse que, para cumprirem as tarefas dadas e evitarem processos, “os trabalhadores são obrigados a trabalhar mais uma, duas, três horas por dia e de forma sistemática”.

Também José Arsénio, secretário-geral do Sindicato Democrático dos Trabalhadores das Telecomunicações e dos Media (Sindetelco, ligado à UGT), considerou que hoje “se vive assédio moral nos correios”.

Sobre a carga horária, afirmou ser normal os carteiros trabalharem horas depois do seu horário para conseguirem cumprir a entrega de toda a correspondência que lhes é dada. “Se virem um carteiro a distribuir cartas depois das 15h é porque está a trabalhar gratuitamente”, avisou o sindicalista, que considerou ainda que atrasos na entrega de correspondência é “um dia normal nos correios” devido à falta de trabalhadores e criticou o modo como o regulador das telecomunicações Anacom faz o controlo do sistema de correio, acusando de não ser eficaz.

Já José Oliveira, do Sindicato Nacional dos Trabalhadores dos Correios e Telecomunicações (ligado à CGTP), afirmou que sairão dos correios mais trabalhadores do que os que têm sido falados. “O que nos foi dito foi [que sairão] entre 700 e 800 trabalhadores, além das saídas naturais”, disse José Oliveira.

Outro sindicalista lançou mesmo um repto aos deputados, de que ajudem a que o Estado não termine com as notificações via postal, afirmando que se o Estado passar a fazê-las por via electrónica serão muitos mais os trabalhadores despedidos.

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