‘’As pessoas estão preocupadas’’, desabafa Pedro Durão. “Conseguem comprar um passe mais barato mas têm receio de não conseguir dar-lhe uso”, refere o moderador do grupo de WhatsApp de utentes dos autocarros da Mafrense ao JE.
O comentário foi feito na terça-feira, 2 de abril, um dia depois de terem entrado em vigor os novos tarifários de transportes na Área Metropolitana de Lisboa (AML). Esta nova medida, apresentada pelo Governo de António Costa, traz benefícios aos portugueses tanto a nível do acesso aos transportes na AML como também em poupanças, que poderão rondar os mil euros, anualmente.
Apesar destes ganhos, para os clientes da Mafrense a história é outra: estão preocupados com a falta de autocarros para os dias que se avizinham.
Na semana anterior à entrada em vigor dos novos passes, os utentes de autocarros de Mafra foram alertados para a possibilidade de constrangimentos na circulação de transportes devido ‘’ao aumento de passageiros que se poderá verificar’’. Contudo, estes constrangimentos serão, na verdade, provocados pela falta de motoristas.
Em conversa com o JE, Nuno de Carmo, diretor operacional da Mafrense, confirmou a falta de recursos humanos para as operações da empresa, realçando que “temos 94 motoristas, mas não vão ser suficientes para fazer circular todos os autocarros’’, confessou. ‘’Não há motoristas no mercado, por isso temos dificuldades em recrutar mais profissionais’’.
Porém, as dificuldades não se resumem apenas à falta de motoristas, mas também ao custo da formação de profissionais que, segundo apurou o JE, rondam os três mil euros.
O diretor da empresa de autocarros revelou ter havido um aumento significativo na procura dos novos títulos.
“Só na sexta-feira (30 de março) registamos 500 novos pedidos de passe’’, explicou, revelando que “registámos um aumento entre 10% a 15%”. Mas considera que o número total de pedidos poderá crescer.
Com o aumento de novos utentes, também a atual circulação de autocarros poderá não ser suficiente apesar da empresa ter 96 autocarros operacionais e seis em plano de contingência.
A verdade é que o número de viaturas disponíveis não é relevante dado não haver profissionais suficientes para conduzi-las.
Quando questionado sobre se já se sentem dificuldades na circulação e transporte de utentes, Nuno de Carmo garantiu que ‘’ainda não’’, mas que com a crescente procura o desafio vai intensificar-se, ‘’vai haver um limite na capacidade de responder à procura’’, confessou.
Já o porta-voz dos utentes da Mafrense contraria e garante que nos primeiros dois dias, após a implementação do novo passe, já se sentiram constrangimentos.
“Uma coisa que não acontecia era ficarem pessoas nas paragens, mas durante esta semana já está a acontecer constantemente. E só se passaram dois dias”, sublinhou. “Já há gente a ficar em terra, muito mais do que na semana passada”, remata.
O aumento, contudo, não se sentiu apenas em Mafra. Segundo dados da OTLIS, que gere a bilhética dos transportes em Lisboa, foram pedidos 34.800 mil cartões em março. O número de cartões Lisboa VIVA pedidos ao longo do mês de março aumentou 42,7% em relação ao mesmo mês do ano passado, segundo dados disponibilizados pela empresa.
O autarca da capital e presidente da AML – Área Metropolitana de Lisboa, Fernando Medina, revelou que em março de 2019 “foram vendidos mais 70 mil títulos Navegante do que em março de 2018”.
Ainda que nem todos sejam novos utilizadores dos transportes públicos, o número reflete uma subida da procura na AML, em resultado da descida do preço dos passes, que entrou em vigor na segunda-feira passada.
Cada passe para circular dentro de um dos 18 concelhos da AML, utilizando todos os transportes, fica agora por 30 euros, enquanto o passe para viajar dentro de toda a AML fica por 40 euros.
A CP – Comboios de Portugal e o Metropolitano de Lisboa já informaram que vão ajustar a sua oferta de meios circulantes caso a procura aumente.
Em termos de reforço do número de autocarros a circular, a Carris, gerida pela Câmara de Lisboa, anunciou em declarações à “Lusa”
que prevê “um aumento da oferta dos 8% a 10% em 2019”.
Por seu turno, a CP indica que “monitoriza em permanência a evolução da procura dos seus serviços, no sentido de efetuar eventuais ajustamentos da oferta, sempre que pertinente e possível, no contexto dos recursos humanos e materiais disponíveis”.
Artigo publicado na edição nº 1983 de 5 de abril do Jornal Económico
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