1. Na comemoração dos dez anos do Senado, o ex-primeiro-ministro Pedro Passos Coelho falou no “horizonte” da sua vida política. O evento decorreu no Grémio Literário e Passos, que não queria repercussões na vida política nacional, escolheu falar da Europa, mas o Presidente da República acabou por lhe dar o “espaço” necessário para ter impacto nacional.

No entanto, e para quem acompanha os interesses políticos de personalidades que já passaram pelo Governo, constata que é cedo para se poder tirar conclusões sobre o futuro de Passos Coelho. Houve quem interpretasse que o seu interesse seria regressar à liderança política e ao Governo e não uma candidatura à presidência, mas aquilo que é mais realista pensar é que Passos Coelho é um desejado pelo centro-direita e tem uma posição confortável para um eventual regresso.

Contudo, o PSD tem a liderança de Luís Montenegro e, segundo várias sondagens, o partido está a recuperar face ao PS. Para que Passos regresse à política no imediato será preciso uma hecatombe no país, em termos de contas públicas. E Passos elogiou a política de António Costa nesse aspeto durante o encontro no Grémio.

Montenegro, por seu lado, tem um seguro de vida nas eleições europeias, que é Rui Moreira, que poderá captar eleitorado da Iniciativa Liberal, enquanto pensa em Rui Rangel para se candidatar às próximas autárquicas.

O que se pode dizer é que Passos Coelho está a gostar da vida de professor universitário e tem tudo em aberto relativamente ao seu futuro, quer seja um regresso para disputar eleições internas, quer seja uma candidatura à Presidência da República. Atingiu um patamar próximo de outros senadores no passado, repetimos, é o desejado, e as sondagens dizem isso mesmo em relação à corrida a Belém.

Por outro lado, temos os analistas de media, os empresários e parte do eleitorado a perceberem por que razão venceu as eleições em 2015, mantendo o estatuto intocável e de potencial primeiro-ministro. Mas, ao que tudo indica, continua a ser prematuro definir hoje o tempo do futuro.

2. O tema da habitação e das medidas que estão em discussão pública até 10 de março arrisca ser um mero balão de ensaio ou, usando um provérbio popular, poderá “a montanha parir um rato” em termos de eficácia.

Foi sintomática a explicação que o primeiro-ministro foi dar a Matosinhos sobre o projeto “Mais Habitação”, onde tinha à sua espera mais uma manifestação de professores. Como referiram os media, a parte do arrendamento coercivo não foi abordada e seguramente que não o foi por esquecimento, mas antes por estratégia. Deu explicações mas não entrou na parte mais relevante. Ora, isto é simplesmente uma forma de governar.

As medidas anunciadas no dia 16 de fevereiro (e que terão de ser aprovadas em Conselho de Ministros a 16 de março) foram um balão de ensaio, e a resposta do mercado, dos agentes e dos políticos foi estrondosa, com a direita a contrariar tudo e a esquerda a criticar as medidas como ineficientes e insuficientes.

As propostas que estão em discussão não geraram consenso de nenhum dos lados. E ainda temos o tema do Alojamento Local, que arrisca crucificar a principal indústria nacional e que, sem a necessária correção, poderá potenciar uma tremenda economia paralela.