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Patuá, a língua que Macau deixou ‘morrer’ a troco de “dinheiro fácil”

O crescimento de Macau, alicerçado na indústria do jogo, veio pôr em xeque a cultura local. O patuá macaense, língua crioula baseada no português, está a em risco de se extinguir e os cidadãos locais apontam o dedo “ao dinheiro fácil”.
14 Janeiro 2018, 11h00

O negócio dos casinos em Macau fez da região administrativa a ‘Las Vegas do Leste’ e, embora tenha ajudado financeiramente, este crescimento veio refletir muito pouco da cultura local macaense. O patuá macaense, língua crioula baseada no português, está a em risco de se extinguir e os cidadãos locais apontam o dedo “ao dinheiro fácil”.

“Hoje em dia, ninguém fala muito patuá. Apenas as pessoas com mais idade”, afirma Aida de Jesus, de 102 anos, ao jornal britânico ‘The Guardian’. Esta é uma das guardiãs mais antigas do idioma, que se originou para ser a língua da comunidade indígena eurasiática de Macau, depois do intercâmbio entre colonizadores portugueses e o povo chinês.

Elisabela Larrea, uma das habitantes da região que ainda conserva a língua, conta que o progressivo desaparecimento do patuá macaense se deveu, numa primeira fase, à forte presença portuguesa na região. As crianças eram obrigadas nas escolas a falar português e, aos poucos, com o aumento da escolarização, o patuá macaense foi-se perdendo.

“Na escola, fui ensinada a falar em português e pediram-me que não falasse em patuá”, conta Aida de Jesus. “Se falasse Patuá na escola, eles não entenderiam. Por isso, precisávamos de falar em português”.

A situação tornou-se ainda mais crítica quando, em 1999, a administração da região de Macau foi devolvida à China, depois de quase cinco séculos sobre domínio português. A entrada no capitalismo de mercado chinês trouxe consigo novas empresas e negócios e fez da indústria do jogo o principal motor da economia. Com isso vieram também novos hábitos e tendências, os velhos costumes estão a perder-se (ainda mais).

“A minha mãe disse-me que os nossos antepassados desistiram do que era nosso para passarem a ter uma língua que não faz parte da nossa identidade”, conta Elisabela Larrea, que tem um blog, onde divulga palavras em patuá macaense e as traduz para mandarim, cantonês e inglês para não deixar morrer a língua. “Resta-nos agora recuperar o que realmente representa a nossa cultura e o nosso espírito”, considera.

Em 2009, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) classificou o patuá como uma língua “criticamente ameaçada”, depois de na viragem do milénio se ter estimado a população total de falantes em apenas 50.

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