Paula Amorim: dona do “maior conglomerado de lifestyle” com pulso para o negócio
Mulher, filha, mãe, empresária, gestora: assim se pode descrever Paula Amorim em poucas palavras. E são mesmo poucas palavras, uma vez que a empresária e herdeira de Américo Amorim tem um longo historial de negócios bem-sucedidos, mas se esconde na sua esfera privada.
Paula Amorim herdou uma parte da fortuna do pai, apelidado o ‘rei da cortiça’ que tinha vindo de origens humildes, e fez o seu caminho a pulso. Apesar da herança (algo pesada, podemos assumir), a gestora portuguesa não toma nada como garantido e já provou que tem pulso firme para os negócios.
Atualmente lidera várias empresas e teve no pai Américo Amorim (homem mais rico de Portugal aquando da sua morte em 2017) o seu maior julgamento, mas também um dos maiores exemplos de vida. No pouco espaço público em que já se apresentou, Paula Amorim falou sobre o pai e em como este – o seu líder – era o seu maior exemplo e, simultaneamente, a pessoa que mais a julgava.
A empresária lidera o ranking das mulheres portuguesas mais poderosas nos negócios, elaborado pela revista Forbes Portugal. Pelo segundo ano consecutivo, Paula Amorim assegura o primeiro lugar do pódio, somando um total de 86 pontos. Ao mesmo tempo, ocupa a liderança da categoria de Energia.
Nasceu no Porto, mas não sotaque. Estudou Gestão Imobiliária na Escola Superior de Atividades Imobiliárias (ESAI) e interrompeu momentaneamente o curso para se dedicar aos negócios familiares, onde começou, precisamente, pela área imobiliária. Posteriormente dedicou-se a outras temáticas como florestal e agrícola, energia e, mais recentemente, o luxo.
Iniciou o seu percurso no grupo Américo Amorim quando tinha 20 anos. Embora a crença seja que Paula Amorim recebeu tudo de bandeja por ser a filha mais velha de Américo Amorim, a herdeira trabalhou para manter o império do progenitor, mas também para fazer o seu próprio caminho.
O empresário português era descrente no sistema sucessório e embora tenha incluído as filhas no testamento, Américo Amorim assumiu por diversas vezes que o seu objetivo de vida era capacitar as três filhas com a melhor educação possível. “Não estou preocupado com heranças. Não há uma sucessão obrigatória na família. A sucessão é aquela que deriva da capacidade das pessoas que sabem gerir uma empresa. A sucessão familiar, à frente das empresas, é um erro histórico. Eu acho que os filhos não têm de ser herdeiros de nada. O mérito é a única forma de se aceder ao poder. A herança é um direito adquirido, que não tem razão de ser, quando as pessoas não têm a capacidade de gerir”, apontou Américo Amorim em entrevista à socióloga Maria Filomena Mónica em 1989. Neste ano ainda lhe faltavam duas décadas para se consagrar no homem mais rico de Portugal, embora já tivesse ganho a alcunha de ‘rei da cortiça’.
Como prova que bebeu da sabedoria do pai, e talvez com alguma rebeldia, Paula Amorim comprou a Fashion Clinic em 2005, fazendo nascer a Amorim Fashion, empresa do ramo familiar ligada ao segmento de luxo. E foi aqui que poderia ter comprado uma guerra com o pai: sem o seu conhecimento, pediu um empréstimo ao banco, dando as suas ações na holding familiar como garantia, para concretizar um sonho e adquirir a Fashion Clinic.
Com consciência do caminho que queria trilhar, Paula Amorim abria a primeira loja em Lisboa a vender marcas de luxo como Christian Louboutin, Dior, Fendi, Givenchy, Dolce & Gabanna, Gucci, Prada, Saint Laurent, Valentino e Balmain. Este foi, para a própria, o maior risco que já correu na vida, uma vez que esteve na mira do julgamento do pai.
“O respeito que tenho pelo meu dinheiro, pelo dinheiro da minha mãe e do meu pai é o mesmo. É dinheiro de alguém que trabalha. Compro tudo com o meu dinheiro. Sou autossuficiente desde que tenho a Fashion Clinic”, assumiu Paula Amorim numa entrevista à revista Máxima.
O seu maior risco ocorreu ao mesmo tempo que Américo Amorim comprou a Galp, na altura com 70 anos. Felizmente, os dois negócios são hoje bem sucedidos.
Em 2010 fez nascer o grupo Amorim Luxury, em conjunto com o pai. A este luxuoso grupo pertencia o franchising da Gucci e também 25% da Tom Ford. Entretanto este último ativo já se dissipou, com a venda de 15% à Zegna e os restantes 10% à Estée Lauder, onde conseguiram encaixar 270 milhões de euros.
Contudo, a saúde de Américo Amorim começou a deteriorar-se em 2011, altura em que a filha mais velha se afirmou como sucessora natural do pai. Na altura, Paula Amorim assumiu o cargo de vice-presidente do grupo Américo Amorim.
Chegou à Galp em 2012, quando o pai assumiu a presidência da empresa ao substituir Murteira Nabo. Nesta altura, ocupou o cargo de administradora não-executiva e de vice-presidente, e teve direito a um salário anual superior a 45 mil euros. Em outubro de 2016 assumia a presidência não executiva e em maio de 2017 foi nomeada presidente do conselho de administração da petrolífera.
Um ano depois de chegar ao cargo máximo da Galp, Paula Amorim decidiu focar-se no ramo de luxo. Com o investimento ligado ao grupo Amorim, a primogénita de Américo e Fernanda Amorim criou a marca de luxo JNcQuoi, primeiro na restauração, que já conta com seis restaurantes.
Mas a marca JNcQuoi cresceu e já engloba mais que a restauração, expandindo-se à hotelaria. Neste momento, e de acordo com o próprio site do JNcQuoi, é possível alugar três espaços (Deli Suite Comporta, Arrozais Guest House e Villa Pavillion), além do Comporta Villas. Este ano estava previsto abrir o JNcQuoi House, na Avenida da Liberdade, mas um incêndio alterou os planos do grupo, a poucas semanas da abertura.
Uma das mulheres mais ricas de Portugal, Paula Amorim é casada com Miguel Sousa Guedes, com quem partilha o negócio do JNcQuoi e é mãe de três filhos. Em 2022, em entrevista a Francisco Pinto Balsemão, Paula Amorim revelou que conhecer a maternidade aos 50 anos através de barriga de aluguer não foi uma decisão fácil, por ter calhado “numa fase da minha vida com enormes responsabilidades”.
Foi casada com o empresário Rui Alegre, com quem tem dois filhos.
Ao lado da mãe e das irmãs Marta e Luísa, Paula Amorim soma uma fortuna de 5,4 mil milhões de euros. Esta módica quantia coloca as empresárias no primeiro lugar da lista dos milionários portugueses, voltando a ocupar o topo.
Mais recentemente, abriu portas da sua vida para a revista espanhola Hola! Living, sendo capa desta edição de janeiro. A reportagem e as fotografias foram mesmo tiradas no âmbito da sua esfera pessoal, na Herdade do Peral, no Alentejo, com Paula Amorim a mostrar um pouco da sua vida.
A publicação apresenta Paula Amorim como “a empresária mais influente do país vizinho [Portugal] e dona do maior conglomerado de lifestyle“. Teceu algumas palavras de apreço ao pai, com quem admite ter aprendido muito: “era alguém extremamente inteligente e trabalhador. ‘Não ficar com um único cliente, nem um único produto, nem um único mercado’ era o seu lema, e aplico-o em todos os aspetos da minha vida”, adiantou Paula Amorim à revista.
Questionada sobre a sua peça preferida na casa do Peral, herança que pretende manter na família, a gestora admite que é a mesa de sala de jantar. “Foi o local onde passei mais tempo com o meu pai e dele guardo inúmeras e irrepetíveis recordações”.
Mas é também nesta entrevista que a empresária abre a possibilidade a investir mais em Espanha. Foi neste país que abriu a sua primeira loja pop-up com a marca de roupa. O seu objetivo passa por vender a um turista com capacidade de investimento e poder económico diferenciado. Quem sabe, Paula Amorim e o marido não estarão a pensar levar o JNcQuoi além fronteiras e abrir um restaurante e hotel por cidades espanholas.
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