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Paula Rego em Lisboa e Cascais: questionar e agitar emoções

O poder mágico de Paula Rego não se faz de palavras mas das pinceladas que coloca nas telas, dando forma a sentimentos fortes, amiúde desconcertantes. Questionar, sempre. Por mais que isso possa doer.
“O Cerco” (1976)
6 Janeiro 2022, 17h45

O contorno da casa rosa-ferrugem é inconfundível. A chaminé que não o é lembra um certo palácio de Sintra, mas aqui as histórias que se contam, ou melhor, pintam e esculpem, são outras. Estamos na Casa das Histórias Paula Rego, em Cascais, porto de abrigo dos muitos universos que a pintora convoca para as suas telas.

“É preciso confiar na pintura porque ela é que nos diz o que está dentro de nós e isso nem sempre é agradável. É descobrir quem somos”. Quem o diz é Paula Rego, a artista portuguesa radicada em Londres, cuja Casa das Histórias – outro nome não poderia ter – dedica sete salas à sua obra, que abarca desde pintura e desenho a gravura.

A coleção iniciada em 2009, pretende refletir o seu percurso criativo e mostrar peças nunca antes vistas publicamente. Entre estas, figura O Cerco (1976), na qual se invoca o Cerco de Lisboa, em 1384, imposto pelas tropas de Castela, e que, na visão da curadora Catarina Alfaro, “reflete a história pessoal de Paula Rego, o seu isolamento artístico e a deceção sentidos no rescaldo da Revolução de 25 de Abril de 1974 em Portugal”.

Sete salas e muitas viagens garantidas ao “mundo Paula Rego” feito de magia, dor, crítica social e de entranhas. E é com coragem que a pintora as expõe.

Coleção Casa das Histórias Paula Rego, Av. República, 300; até 19 de junho, terça a domingo das 10h às 18h

 

Em Lisboa, na Galeria 111, estão expostas perto de três dezenas de obras, que tocam diversos temas, técnicas e histórias pessoais da família Rego. Esta cápsula do tempo, que vai desde 1980 (com a obra “Girl and Dog”) a anos mais recentes, como a pintura “Maria Madalena” (2017) oferece um percurso através dos vários momentos marcantes da sua obra, do traço naturalista e figurativo à série Jane Eyre de Charlote Brontë, passando pelas cenas autobiográficas que ilustram a doença prolongada do marido, Victor Willing (1928-1988), e pela sua militância em prol da mulher, neste caso denunciando a ausência da voz feminina na sociedade, com três obras dedicadas a Maria Madalena.

Interventiva e com um guião muito próprio, Paula Rego não abdica de contar as suas histórias em total liberdade, infringindo as suas regras, desconcertando e pondo em causa. “Saudades”, título desta mostra, poderá remeter para o que convencionámos ser uma dada nostalgia. Quiçá neste caso seja antes uma metáfora para a multitude de estados emocionais que a artista plasma nas telas.

“Saudades”, Galeria 111, R. Dr. João Soares, 5B, Lisboa; até 15 de janeiro, terça a sábado 10h-19h; entrada gratuita

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