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Paulo Cafôfo: “Se não nos derem a oportunidade [de governar], vamos continuar com um regime doentio”

O líder e candidato do PS Madeira às eleições regionais da Madeira, Paulo Cafôfo, considera que existe promiscuidade entre aquilo que é o Governo e o partido [PSD], e promete, caso o PS chegue ao Governo Regional, “que uma coisa é o partido e outra coisa é o Governo”. Cafôfo diz que o que interessa ao PS é existir estabilidade na Região e que isso se consegue tendo o PS com capacidade de formar Governo.
24 Maio 2024, 11h39

O líder e candidato do PS Madeira às eleições regionais da Madeira deste domingo (26 de maio), Paulo Cafôfo, considera que existe promiscuidade entre aquilo que é o Governo e o partido [PSD], e promete, caso o PS chegue ao Governo Regional, “que uma coisa é o partido e outra coisa é o Governo”. Cafôfo diz que o que interessa ao PS é existir estabilidade na Região e que isso se consegue tendo o PS com capacidade de formar Governo.

Cafôfo diz também que o PS não tem a arrogância de querer governar sozinho, e sublinha que o PS tem de ter a iniciativa de possibilitar um virar de página na nossa Região, reforçando que o virar de página na Região não vai acontecer sem o PS.

“Mas se não nos derem esta oportunidade nós vamos continuar num regime que é um regime doentio”, afirmou o líder socialista.

Diz terem existido saneamentos no Governo Regional. Refere-se por exemplo ao caso na Secretaria da Agricultura ….

Estamos a falar de saneamento dentro do próprio partido mas que afeta a governação da Região. Porque na Madeira há uma promiscuidade entre aquilo que é o Governo e o partido. Não há separação. Porque para o PSD isto deve-se ao facto de ter tido sempre o partido com o poder na Região. Confunde-se o que é o partido com o Governo.

Há e houve neste caso uma vingança partidária, mas a vingança partidária faz-se através do Governo.

E isto é o exemplo do que nós temos aqui na Região. E não haveria maior alegria para os portugueses e para o nosso país que nos 50 anos do 25 de abril, quando se assiste a retrocessos nomeadamente com a ascensão de forças de extrema direita no nossos país, que tivéssemos a alegria enquanto portugueses de a alternância democrática acontecer aqui na Região.

Diria que seria simbólico num momento onde o país está angustiado, está assustado, com estes retrocessos que estamos a assistir, que aqui na Madeira, tivéssemos um avanço e uma evolução e pudesse haver alternância democrática na única parte do país onde essa alternância ainda não aconteceu.

Por exemplo o Chega já demonstrou resistência a entendimentos com Albuquerque por parte do líder nacional e regional, André Ventura e Miguel Castro. Acredita que vão voltar com a sua palavra atrás?

Essa resistência é uma resistência falsa para enganar o eleitoral. Nos Açores acabaram [Chega] por dar o apoio ao PSD. A nível nacional o que André Ventura mais desejava era o acordo com o PSD. Eu tenho a certeza de que Miguel Albuquerque já escancarou a porta.

No congresso regional do PSD Madeira ficou claríssimo.

Foi inédito e isto também é sintomático de que Miguel Albuquerque está no final de linha. Foi assobiado e apupado pelos seus próprios companheiros de partido.

E há divergências claras internas e profundas no PSD Madeira. Mas com esse mal podemos nós bem.

O que nos interessa é que haja estabilidade na Região. E estabilidade na Região é o PS ter capacidade de formar Governo. E para ter capacidade de formar Governo o eleitor tem de tomar uma decisão muito acertada. E a decisão acertada nunca poderá ser votar no PSD e em partidos mais pequenos que estarão dispostos a fazer acordos e alianças com o PSD na noite das eleições.

E isto por mais que neguem será uma evidência se houver essa necessidade.

Quando é que pode não haver essa necessidade? Votando no PS e fortalecendo a votação no PS para não dar azo a que a direita possa formar Governo.

Descreve este regime do PSD como sendo uma espécie de teia que se confunde com o Governo Regional. O PS chegando ao Governo Regional como quebraria esta teia?

Há por parte do PS essa garantia de que uma coisa é o partido e outra coisa é o Governo.

Nós não podemos ter um Governo que funcione para o partido. Temos de ter um partido que funcione para as pessoas e possa servir as pessoas.

Estou confiante que os madeirenses nos vão dar [essa oportunidade de governar a Região]. Significa que temos de fazer diferente. E nós não podemos estar a misturar a governação com a gestão do partido.

Um exemplo claro. Connosco nenhum funcionário público ou dirigente da administração pública será perseguido, ou saneado, mesmo que não seja do nosso partido.

Isto é uma posição clara que nós assumimos de que não pode haver mistura entre aquilo que existe que é, “não és do partido, ou não és sequer de acordo com a liderança do partido e és marginalizado ou és perseguido”.

Connosco isso nunca irá acontecer.

Quem lhe é crítico à governação que teve no Funchal aponta as ruturas que existiram nas coligações que efetuou para o Município. Como responde a isso?

As ruturas têm muito a ver com as dinâmicas políticas e os contextos políticos. Mas a verdade é que conseguimos governar bem a Câmara do Funchal em coligação mesmo com essas ruturas que são faladas. Mas quando olho para o PSD não há maior rutura do que aquela que eu vejo neste partido que governa a Região ao longo de 48 anos. Não é preciso haver coligação, ou coligações, ou ruturas nas coligações, quando internamente o PSD está com uma rutura bem visível e bem marcada no seu seio.

Aquilo que nós temos de ter é a perspetiva de qual é o maior interesse. E o maior interesse tem de estar acima do interesse partidário. Tem de estar acima do próprio interesse do PS.

O PS não tem a arrogância de querer governar sozinho. O PS tem de ter sim a iniciativa de possibilitar um virar de página na nossa Região. E o virar de página na Região não vai acontecer sem o PS. Nunca. E portanto nós podemos ter, e os eleitores podem ter diversas perspetivas sobre o espectro partidário, mas não há mudança na Região que não passe pelo PS.

E isso só se faz votando no PS. E portanto é essa oportunidade que as pessoas têm de dar a si mesmas. De experimentar. Experimentar este virar de página. Esta mudança. A democracia é isto mesmo. Se não estiverem satisfeitas depois de quatro anos de governação efetivamente podem penalizar o PS.

Mas se não nos derem esta oportunidade nós vamos continuar num regime que é um regime doentio. Não é saudável em democracia o mesmo partido governar durante tanto tempo. E isto afeta os madeirenses. Afeta a qualidade de vida dos madeirenses. Como sabemos os níveis sociais em que vivemos são preocupantes.

Porque nós temos o segundo maior risco de pobreza. A paridade do poder de compra, as dificuldades que há em adquirir habitação, as dificuldades que existem em ter acesso à saúde, são tudo questões que não foram resolvidas pelo PSD.

Em 2019 após os resultados eleitorais apelou a que o CDS-PP se junta-se a uma solução governativa com o PS. Agora em 2024 conta com o CDS-PP caso seja necessário?

O CDS-PP tomou uma opção clara. O CDS-PP poderia ter sido a chave em 2019 se tivesse feito um acordo com o PS. Não o quiseram. E como vimos ao longo destes últimos anos o CDS-PP acabou por ser mais PSD do que o próprio PSD. Assistimos a isso na Assembleia Regional. Os deputados do CDS-PP defendiam mais as propostas do Governo do que os próprios deputados do PSD.

Houve aqui uma traição histórica do próprio CDS-PP. O seu percurso de luta na Região de uma mudança quando tiveram oportunidade [CDS-PP] de mudar juntaram-se ao partido no poder. E portanto o CDS-PP tomou essa opção e portanto tem de ter as consequências dessa opção por ter apoiado e ter mantido esse regime.

Acredita que o caso judicial vai ter efeito no resultado eleitoral?

Isso é algo que as pessoas têm efetivamente de refletir na altura de votar. Este processo judicial está ainda no início. E eu estou certo que vai haver desenvolvimentos. Não sei se vai haver desenvolvimentos antes das eleições.

O facto de Miguel Albuquerque ter dito que já tinha feito o que tinha a fazer na vida política mas depois ter voltado atrás, de se ter recandidatado para a liderança do PSD, de recandidatar-se a presidente do Governo, isso sim acontece porque Albuquerque não quer que a sua imunidade seja retirada. Ele está protegido pela imunidade enquanto conselheiro de Estado.

E nunca solicitou a retirada da imunidade porque isso permite não ter que responder perante a justiça. Eu acho que os madeirenses têm que dar aqui uma resposta clara. E se Miguel Albuquerque não pede para tirar a sua imunidade por sua livre iniciativa eu estou certo que os madeirenses vão retirar-lhe imunidade parlamentar pelo facto de não confiarem nele para continuar a ser o presidente do Governo Regional.

O PS estando no Governo e tendo alguém constituído arguido num processo judicial isso será uma condição para uma demissão, como pediu para Albuquerque?

Aqui a questão nem é a condição de arguido. É a natureza dos factos pelos quais Albuquerque é arguido. E ele é arguido por corrupção, e a natureza dos atos que são conhecidos são da maior gravidade. É essa natureza dos factos que o deviam na verdade impedir de ser presidente do Governo.

E portanto a nossa linha não é a questão do arguido é a natureza que o leva a ser arguido, a ele ou a outra pessoa qualquer.

Temos assistido nos mais recentes desenvolvimentos nos processos judiciais, quer na República quer na Região, a elementos ligados ao Governo a serem constituídos arguidos e depois os processos acabam por não dar em nada. Não acha que há um pouco de precipitação no facto de alguém ser constituído arguido e depois forçar-se a sua demissão?

Nós estamos a atravessar um momento em que é necessário haver ética na política. Sempre foi importante. Mas mais do que nunca é importante haver ética na política. E é evidente na minha opinião que é necessário que quem exerce um cargo político, ou público, tem de ser um exemplo. Porque se todos os cidadãos têm de ter uma postura exemplar na sua vida privada, quem tem responsabilidade políticas e públicas tem de ter uma responsabilidade acrescida porque isto leva depois ao descrédito das pessoas na política e nos políticos.

E leva efetivamente ao crescimento nos extremos nomeadamente do que se tem assistido da extrema-direita que acaba por lucrar com o descrédito que os cidadãos começam a ter na política e nos políticos.

Para si qual deveria ser a linha vermelha?

Aqui eu acho que a linha vermelha, há aqui uma linha vermelha, e a de Miguel Albuquerque é claramente uma linha vermelha.

Ele não põe linhas vermelhas ao Chega mas devia por linhas vermelhas ao Chega, e devia por linhas vermelhas mesmo para si próprio. Até porque se se diz inocente deveria contribuir para esclarecer todo o processo e essa sua ação deveria ser a de pedir o levantamento da imunidade que tem.

O PS não conseguindo formar Governo como ficaria a sua situação? Iria assumir o seu lugar na Assembleia da República ou na Assembleia da Madeira?

Neste momento eu nem penso sequer num cenário ou cenário pessoais. Aquilo que me interessa a mim neste momento é um foco completo, é o de o PS poder ser Governo na Madeira. A minha situação pessoal, neste caso, não é relevante nem eu estou preocupado com ela. Aquilo que me interessa é ser presidente do Governo Regional. Esse é o meu objetivo. Estou certo que eu sendo presidente do Governo Regional o PS pode contribuir para ter uma Madeira muito diferente do que temos hoje em dia.

Pode ler o restante da entrevista com o líder e cabeça-de-lista do PS às eleições regionais da Madeira na edição de 3 de maio do Jornal Económico.

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