Um painel de banqueiros debateu o desafio do “ESG (Environmental, social, and corporate governance): combinação de rentabilidade, sustentabilidade e responsabilidade”, no Fórum Banca que decorreu esta quinta-feira, 1 de fevereiro, na Fundação Calouste Gulbenkian.
O painel contou com a participação de Paulo Macedo (CEO da CGD); Miguel Maya (CEO do Millenium BCP); Mark Bourke (presidente do CAE do Novobanco) e Pedro Leitão (CEO do Banco Montepio).
O tema do acesso e do pricing do financiamento da “indústria castanha” atravessou todo o debate. Paulo Macedo, CEO da Caixa Geral de Depósitos, destacou a necessidade de financiar as empresas para fazerem a transição para a indústria que respeita a sustentabilidade ambiental (verde), com vista a atingirem os objetivos de redução de emissões de gases com efeito de estufa.
O presidente do banco que já tem um rating ESG para avaliar as empresas suas clientes, disse que “é preciso investir na transição dessas empresas”.
Paulo Macedo reconheceu que os dados para avaliar o rating ESG ainda são incipientes, pelo que defende a melhoria da informação pública nessa matéria.
As empresas vão ter de inserir nos seus planos de negócio a transição para se tornarem “verdes”, mesmo as PME (pequenas e médias empresas), o que o banqueiro considera ser um desafio. Mas a banca também têm aqui um papel pedagógico.
A banca vai financiar os planos de transição energética das empresas, não por serem castanhas ou verdes, mas de acordo com os seus planos concretos para o futuro, para assegurar a sua sustentabilidade, defendeu o presidente da Caixa.
“A banca vai financiar os planos de transição de acordo com planos do futuro e sustentabilidade” disse o banqueiro que salientou que a banca precisa que a sua carteira de crédito seja sustentável.
Paulo Macedo considera que não há sectores que venham a deixar de ser financiados, mas admitiu uma exceção para a indústria do tabaco, “que há muitos bancos que já não financiam”.
Uma posição que não foi partilhada por exemplo pelo CEO do BCP, Miguel Maya, que foi peremtório a dizer que haverá setores que provavelmente vão ficar de fora do financiamento bancário, e até empresas que não façam a transição energética ficarão de fora.
Os participantes da mesa redonda abordaram o risco de crescimento do shadow banking como consequência das dificuldades de empresas “castanhas” no acesso ao financiamento bancário.
O termo shadow banking é usado para descrever atividades semelhantes às bancárias (principalmente empréstimos) que ocorrem fora do setor bancário tradicional. É uma espécie de sistema bancário paralelo, não regulamentado pelos bancos centrais, que fornece uma importante fonte de crédito para quem não têm acesso a canais de financiamento normais ou que não são elegíveis para empréstimos em bancos do sistema financeiro formal.
Paulo Macedo reconheceu, citando o World Economic Fórum, que o risco climático está em segundo lugar, mas a 10 anos os riscos climáticos e de biodiversidade estarão no topo do ranking.
“Financiar a transição energética terá de ser com montantes específicos, a banca vai ter de financiar a descarbonização, ou seja ajudar as empresas a atingirem o net zero”, acrescentou o CEO da CGD que citou o exemplo do que a área do imobiliário vai ter de fazer.
Paulo Macedo alertou ainda para os riscos de uma regulação excessiva e desequilibrada para o setor, com impacto na competitividade e inovação.
Os responsáveis pelos bancos foram questionados pelo atual contexto económico em Portugal, nomeadamente a descida da dívida pública sobre o PIB para 98,7%.
Paulo Macedo a este propósito referiu que a perspectiva para a economia é de abrandamento do crescimento, a que acresce a incerteza política. “Mas também temos dados positivos como a redução da dívida pública”, disse Paulo Macedo.
Em 2024, 2025, e 2026 Portugal vai cresccr mais que o euro, mas não será suficiente para compensar a trajectória passada.
Paulo Macedo ironizou com a descida das taxas de juro, que os economistas apontam para uma Primavera que vai de abril a junho.
“Mas independente do BCE, os indexantes do crédito [à habitação] já começaram a descer. O que é uma boa notícia”, disse o banqueiro que frisou que isso ajuda a evitar um aumento do malparado.
Paralelamente a inflação está a convergir já para 2%. Paulo Macedo aproveitou para anunciar que em 2024, mais uma vez, não vai aumentar as comissões bancárias. “Não vamos mexer no preçário”, disse o CEO da CGD que com isto, diz, “estamos a contribuir para reduzir a inflação”.
(Atualizada)
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