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Pedro Fernandes: O “sonho americano à portuguesa” do apresentador que também quer ser cantor

Pedro Fernandes não hesitou no local onde queria ir, a convite d’O Jornal Económico. O restaurante O Asiático, do chef e amigo Kiko, foi a escolha imediata do apresentador da RTP, muito por causa da sua habilidade para cozinhar. Ou da falta dela.
Cristina Bernardo
3 Fevereiro 2017, 14h16

O cumprimento a Soraia Chaves, seguido de um “Olá, tudo bem?” antecede a história de como Pedro Fernandes “vive o sonho americano à portuguesa”. O apresentador do horário nobre da RTP1, que era “um tipo normal, com uma vida normal e um emprego normal”, agora mantém amizades com algumas das personalidades que mais admira. Exemplo disso é o chef Kiko, proprietário d’O Asiático, onde, entre borrego, polvo, ceviche e umas colheradas que são “uma javardice” – “as figuras públicas também podem fazer javardices, desde que ninguém veja” –, se desenrola a conversa com o também animador da RFM, cuja grande paixão é mesmo cantar.

O apresentador, que se estreou na função no Caia Quem Caia (CQC), na TVI, em 2008, confessa ao Jornal Económico, com ambição no discurso e brilho nos olhos, que gostaria de lançar um álbum de originais dentro de cinco anos. “Gosto de cantar tudo aquilo que ouço. Sinto-me mais à vontade em cima de um palco a cantar do que à frente das câmaras a apresentar um programa de televisão”, conta com naturalidade Pedro Fernandes, que vai de novo liderar um formato – Brainstorm – em horário nobre. “Não me interessa quantas pessoas estão a ouvir-me, desligo. Enquanto ao apresentar um programa de televisão fico nervoso e estou preocupado, a ver se tudo corre bem.” Enquanto o álbum não sai, Pedro vai alimentado o bichinho da música na RFM: “Vou criando umas letras na brincadeira e vou cantando qualquer coisa”.

À paixão pela música junta-se a do teatro. Pedro fundou, em 1999, um grupo de teatro na Escola Superior de Comunicação Social, onde se formou para ser publicitário. Antes da viagem que culminou em ser o rosto dos serões da estação pública, Fernandes trabalhou em produção de eventos. “Queria mesmo era ser copywriter”, confessa. Contudo, vestiu “a camisola na mesma” e agora concede que aquele emprego foi o primeiro passo para o à-vontade em frente às câmaras. Sim, porque além de sentir melhor a cantar do que a apresentar, Pedro Fernandes era “muito tímido” e “suava em bica por baixo do fato preto que era obrigado a usar” nas reportagens do CQC. Nessa altura, ainda trabalhava nas duas coisas, ou seja, em horário nobre como apresentador principal, coadjuvado por Joana Cruz e Zé Pedro Vasconcelos, e na JP, que tinha três empregados.

O cultivo de amizades é mesmo assunto sério na vida de Pedro Fernandes, que recorrentemente conversa com o chefe que tinha na altura. “Se tivesse tido outro tipo de patrão, provavelmente hoje não estaria a fazer o que faço, pois nunca iria abdicar de um trabalho certo, com um ordenado certo, por uma coisa que era um passatempo e em que ganhava muito pouco”. A estratégia pendia para o lado mais conservador, não tivesse Fernandes concluído a primária numa escola de freiras, explana o apresentador, depois de um trago da refrescante sangria de espumante que acompanha a refeição.

Quando se mudou para a margem sul do Tejo, onde hoje reside, o choque foi enorme. Também em grande quantidade era o bullying. Pedro Fernandes, que não se recorda bem quando conheceu o chef Kiko, não esquece o nome de um rufia que o marcou no ensino básico. “Uma vez, num campeonato inter-turmas, a minha equipa decidiu jogar de vermelho. Eu tinha um equipamento oficial do Liverpool, que a minha tia me tinha oferecido. Todo orgulhoso, levei esse equipamento. Houve um tipo que chegou ao pé de mim, o Cuca – nome de guerra – e disse-me: ‘chavalo, no final do jogo esse equipamento é meu’ – ainda foi cordial ao ponto de me avisar e de me deixar jogar com o equipamento. Faltavam dez minutos para o jogo e eu morava perto. Então fui a correr até casa, troquei de equipamento e quando cheguei fui o único a jogar de branco”, conta entre risos, um episódio a que agora acha “piada”, ressalva, enquanto bebe um café cheio – “tem de ser mais café para quem acorda às 5h30 da manhã”.

Além da RTP e da RFM, Pedro Fernandes empresta a voz a várias marcas e também a uma personagem de desenho animado. Em Sanjay and Craig faz de Remington Tufflips, no canal Nickelodeon. A personagem “é uma estrela de cinema que já não é estrela. Está na fase decadente da carreira, velho e com barriga, mas continua a achar que está no auge e espera que as pessoas o tratem assim e ajam em conformidade”. Mas não era só a barriga do desenho animado que fazia parte da vida de Pedro. Antes dessa, havia a do próprio locutor: “Já pesei mais 10 quilos. Via-me na televisão e comecei a achar-me gordinho; a minha cara parecia um balão. A televisão faz as pessoas gordas, é verdade. É a televisão e as porcarias todas que se come”. O truque, então, foi propor-se à Men’s Health, “para ter ginásio e Personal Trainers à borla”. “Aí fiz mais um amigo [o PT], com quem me dou muito bem. É uma pessoa com quem posso brincar e posso chamar-lhe nomes durante o treino. Chamo-lhe muitos nomes”, brinca Fernandes, que partilha o ginásio com os amigos Luís Filipe Borges e António Raminhos.

A ligação do trio vem do 5 para a Meia Noite e foi fortalecida através do vinho. Nomeadamente o 3 Podas, que os entertainers lançaram depois do convite da Quinta do Gradil. Por cada garrafa vendida, um euro reverte para a Casa do Artista. Para Pedro, a solidariedade não é obrigação, mas “sempre que possível deve fazer-se”. “Vimos a janela de oportunidade e foi de bom grado que demos o montante final à Casa do Artista. Às vezes, basta apenas dar um pouco do nosso tempo para dar visibilidade a uma causa. A nossa imagem [de figuras publicas] é o suficiente.”

Quanto ao melhor sítio onde se pode gastar dinheiro, a resposta de Pedro é rápida, talvez a mais rápida de todas: “Dar prendas à família. Gosto de ver a cara das pessoas, de satisfação, quando lhes ofereço alguma coisa. Gosto de proporcionar felicidade às pessoas de quem gosto e que me rodeiam. É impagável”. “Sei que os meus pais passaram por muito para me poderem dar na altura o que deram e acho que se deve retribuir,“ sublinha o apresentador, que acha que esteve “sempre no sítio certo, à hora certa”. “Não duvido que existam 40 ou 50 tipos iguais a mim que fariam o que faço ou ainda melhor, mas que não tiveram a sorte de estar nos sítios certos”. Pedro Fernandes, no final, agradece por isso. Um agradecimento que não sabe bem a quem o dar. Dada a falta de crença, entrega-o ao destino.

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