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Perdas dos hotéis perto dos 900 milhões

Estimativa atual da AHP – Associação da Hotelaria de Portugal parte do princípio que a partir de julho a atividade poderá recuperar até ao fim do ano.
18 Março 2020, 09h30

Um rombo de cerca de 900 milhões de euros nas receitas no final deste ano. É este o impacto negativo que a AHP – Associação da Hotelaria de Portugal projeta para o conjunto do setor hoteleiro em Portugal no presente ano em função do impacto do coronavírus (Covid-19) na atividade económica em geral, e turística em particular. E a realidade poderá ser ainda mais nefasta, uma vez que esta projeção, divulgada ontem pelos responsáveis da AHP, prevê uma quebra de receitas na casa dos 50% no período entre março e junho – um total de quatro meses, mais ou menos o que foi necessário para atenuar o impacto do vírus onde ele surgiu pela primeira vez, na China – mas assenta também numa recuperação de julho em diante, até ao final de 2020. Se a propagação do vírus for para lá de julho, com menos tempo para a retoma, as perdas serão mais pesadas.

Uma coisa é certa: 2020 vai interromper um ciclo de dez anos consecutivos com o turismo e a hotelaria nacionais a subir, em dormidas e em receitas. E mesmo com o coronavírus a alastrar do outro lado do mundo, os primeiros dois meses do setor em Portugal “foram muito bons, com as receitas a crescer bem face a 2019”, como assegurou ontem Raul Martins, presidente da AHP. Mas março trouxe nuvens mais escuras e deixou claro que o ano turístico em Portugal vai ser de retrocesso, com a queda potencial a aproximar-se perigosamente do seu nível mais baixo, ocorrido em 2009, após a crise dos mercados financeiros iniciada no ano precedente. Nesse ano, a queda do setor a nível global foi de 4%. Depois de previsões iniciais da OMT – Organização Mundial do Turismo e da OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico a apontar para crescimentos entre 3% e 4% para este ano, as revisões em baixa já apontam para a realidade inversa, um decréscimo entre 2% e 3%, com tendência para piorar. Ainda não há muito tempo, a Secretaria de Estado do Turismo previa em Portugal um crescimento do setor do turismo na ordem dos 5% a 7% face a 2019. Uma miragem que se esfumou em poucas semanas, ou como sintetizou a presidente da direção executiva da AHP, Cristina Siza Vieira, “um travão a fundo” e “uma verdadeira pandemia económica”.

Em 2019, registaram-se 70 milhões de dormidas turísticas em Portugal, 58 milhões verificadas no setor da hotelaria (hotéis, pousadas, etc). A projeção da AHP parte de um cenário flat, sem subida das dormidas face ao ano passado. Nos quatro meses em análise – de março a junho – o número de dormidas na hotelaria em Portugal seria, assim, de 14,6 milhões. As receitas turísticas em 2019 atingiram cerca de 18,5 mil milhões de euros, dos quais as receitas da hotelaria (TRevpar, Total revenue per available room, ou seja, a receita total dos hotéis, dividida pelo número de quartos disponíveis), foi de cerca de 4,5 mil milhões de euros, cerca de 25% do total das receitas turísticas. “Se a situação de inversão do coronavírus ocorrer a partir de junho, como prevemos, chegaremos ao final do ano com menos 20% de receitas face a 2019, o que quer dizer que a hotelaria em Portugal vai ter situações de crise de tesouraria para poder garantir aos empregados a remuneração que lhe é devida. Com menos 20% de receitas, estaremos no borderline, no break-even”, assinalou Raul Martins. Vinte por cento dos referidos 4,5 mil milhões de receitas em 2019 equivalem a cerca de 900 milhões, embora a AHP tenha traçado dois cenários em que os cancelamentos das reservas oscilem entre 30% e 50% face a 2019, repercutindo-se em perdas entre 500 e 800 milhões, respetivamente.

Para fazer face à situação, o presidente da AHP solicitou apoio do Governo para prolongar o banco de horas a partir de 31 de outubro e continuar a apoiar a flexibilização do lay-off, assim como o estabelecimento de acordos com os sindicatos e com os trabalhadores para antecipação de férias e negociação de períodos de trabalho em tempos diferenciados. O presidente da AHP assumiu também que os trabalhadores eventuais, bastante utilizados na indústria hoteleira nacional, na ordem dos 30 mil, deverão ser os primeiros sacrificados desta situação imprevisível.

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