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Peso do negócio da saúde na Glintt aumentou 40% em três anos e já representa 75% da faturação

Em três anos, o peso do setor da saúde na facturação global do grupo aumentou mais de 40% e já representa três quartos das vendas e traduzindo a reestruturação feita. É, também, o futuro, que passa por sistemas que recolham e tratem toda a informação do doente.
22 Fevereiro 2018, 09h30

A empresa portuguesa de tecnologia e consultoria Glintt – Global Intelligent Technologies reorientou a sua estratégia de crescimento, passando de uma atividade em múltiplas áreas para uma aposta clara na área da Saúde. Em três anos, o peso do setor da saúde na facturação global do grupo aumentou 22 pontos percentuais, chegando aos 75%, no ano passado.

Ao Jornal Económico, Filipa Fixe, diretora do Mercado Healthcare da Glintt, diz que o objetivo, agora, é criar sistemas que permitam a recolha e tratamento de toda a informação disponível, de forma a permitir que se prevejam e satisfaçam necessidades futuras.

“Olhamos para a tecnologia não como um fim em si mesmo, mas como uma forma de promover melhores cuidados de saúde e maior equidade no acesso aos mesmos, a custos controlados. Usamos a tecnologia para que ela permita que os profissionais e gestores tenham informação em tempo real e possam atuar sobre a mesma de forma preditiva, ou seja, conseguir analisar os dados que têm hoje em dia e que são muitos”, explica Filipa Fixe.

Atualmente, a Glintt já presta serviços em mais de 200 hospitais e tem 14.000 farmácias na Península Ibérica que utilizam um software de gestão por si suportado. Disponibiliza ainda um portfolio muito mais vasto que engloba a conceção e projeção de espaço de lojas, automação, infraestruturas, consumíveis, entre outros.

Em 2016, a empresa regressou ao lucro – de 383 mi euros –, depois de prejuízos de mais de 46 milhões de euros no exercício anterior, devido a uma reestruturação profunda. O volume de negócios caiu 3,9%, para 66,1 milhões de euros. No ano passado, a recuperação deverá ter sido consolidada. Ainda não se conhecem os resultados consolidados para o conjunto do exercício, mas nos primeiros nove meses do ano o volume de negócios subiu 3,7%, para pouco mais de 51 milhões de euros; os resultados antes de juros, impostos, depreciações e amortizações caíram 10,1%, para 4,9 milhões de euros; mas o lucro atingiu 870 mil euros.

 

Futuro mais próximo do cidadão

O aumento do peso da saúde no negócio da Glintt faz parte do processo de reestruturação da empresa e traduz uma ideia a ser concretizada. “O nosso objetivo é permitir olhar para tecnologia não apenas na fase em que estamos a tratar a doença, mas ao longo de todo o ciclo de vida, num continuum, onde se insere não apenas informação sobre determinada condição clínica que possa ocorrer num determinado momento da vida, mas toda a informação de saúde, incluindo a que reporta ao estar saudável”, explica Filipa Fixe.

“Hoje temos imensa informação de saúde desagregada, oriunda das mais diversas fontes, incluindo, das gerações mais jovens e adeptas das novas tecnologias, como as aplicações [apps], que permitem obter informação sobre parâmetros vitais. Além, claro, de toda a informação que cada um de nós tem arquivada nos múltiplos serviços de saúde a que recorreu ao longo da vida”, refere, apontando que se trata de informação avulsa, que, se agregada, poderia fornecer “elementos relevantes para a tomada de decisões, tanto no âmbito da prevenção da doença, como na da intervenção médica”.

“O potencial das novas tecnologias é enorme”, defende a diretora do Mercado Healthcare da Glintt. Por exemplo, “nos sistemas clinico-administrativos hospitalares, a informação surge no contexto do doente, em que o médico, o enfermeiro e o administrativo podem olhar para a informação, independentemente de o doente estar num episódio de internamento ou de ambulatório, ou seja, informação centrada naquele doente e no percurso dentro ou fora da instituição, porque garantimos a interoperabilidade dos dados”. Mais: “Fora da instituição, é cada vez mais premente ter capacidade de deslocar os cuidados até casa. [Esta é] uma necessidade que conduz à necessidade de se promover tecnologia que permita que o doente possa continuar a ser monitorado, mesmo fora do hospital e que essa informação possa ser devolvida aos profissionais, com sistemas de alerta para alterações relevantes da condição de saúde”.

Defende que as populares apps de medição de parâmetros vitais, como a tensão arterial ou a glicémia, devem também poder ser conectados ao sistema e a informação agregada à “ficha” da pessoa. E mesmo tratando-se de um indivíduo saudável, a informação obtida desta forma deveria permitir uma interação com os profissionais de saúde para a promoção da saúde e prevenção da doença.

Nesta área, a Glintt já disponibiliza uma app para o utente, bem como um portal para a instituição, com uma área reservada ao utente. A empresa está também a investigar soluções para cuidados remotos, como os que resultam da telemedicina e tele monitorização, no sentido de promover consultas e monitorização dos doentes à distância.

 

Impressão 3D e inteligência artificial

A Glintt encara também com interesse outras áreas de desenvolvimento: “Uma das tendências que avaliamos hoje em dia na área da saúde é a da impressão 3D de órgãos, a medicina personalizada, a medicina baseada em genómica e inteligência artificial”, diz Filipa Fixe. São passos de gigante, necessários para afastar de vez “a imagem atual das salas cheias de papéis com informação muito pouco utilizada e, também, das salas cheias de servidores e máquinas, que pouco mais informação permitem retirar do que a extraída dos papéis”, diz.

O objetivo da Glintt é transformar em conhecimento “todos esses dados dispersos pelos diversos servidores. Estamos a fazer esse caminho, disponibilizando já os indicadores de gestão e administrativos que as instituições de saúde e os hospitais precisam para o seu dia-a-dia”, salienta.

A evolução empreendida pela tecnológica portuguesa conduz a uma questão incontornável: “Como é que olhamos para o doente?”, explica Filipa Fixe, que avança com resposta: “São os tão falados outcomes em saúde, que se traduzem no pagamento em valor em saúde”. Assim, “quando o doente é intervencionado, temos que perceber efetivamente qual foi o ganho em saúde que aquele doente teve de uma cirurgia ou de outro qualquer tratamento ou intervenção. Perceber, do ponto de vista do doente, como é que foi tratado e se o resultado correspondeu às suas expectativas”.

A Glintt integra o consórcio europeu EIT Health, que promove a vida saudável e o envelhecimento ativo ao mesmo tempo que desenvolve melhorias nos cuidados de saúde. “Neste campo, estamos a analisar os desafios colocados pela inteligência artificial e como é que esta pode condicionar a medicina personalizada e se pode traduzir, efetivamente, em medicina personalizada.

Um caminho que a empresa portuguesa tem percorrido “com recurso a ferramentas que permitem analisar a informação que temos nos nossos sistemas e sistemas de terceiros”. Um trabalho que em termos práticos pode permitir, por exemplo, informar os gestores sobre como podem interagir, e implementar estratégias com base na análise de episódios de urgência, por exemplo na época gripal, conjugando estes episódios com os relatórios da atividade gripal do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, que permite, por exemplo, antecipar quando se vai registar um “pico gripal”, adequando a resposta dos serviços a uma previsível maior procura”, explica Filipa Fixe. É possível antecipar necessidades de recursos humanos, farmacêuticos e de camas com recurso a estas ferramentas”, acrescenta.

Para um futuro não muito longínquo, é possível já antecipar novas ferramentas, suportadas por inteligência artificial. É o caso dos assistentes virtuais de saúde, que podem ser os personal trainers da saúde, do próprio doente, que podem prestar informação e até servir como “companhia”, no caso de utentes idosos, ao mesmo tempo que desempenham um importante papel enquanto ajudantes na área da saúde. “Se calhar temos de desenhar uns robôs mais amigáveis, mas com certeza vão existir e ser assistentes personalizados na área da saúde”, sublinha Filipa Fixe.

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