O setor da energia disparou em abril, impulsionado pelo preço do petróleo que, pela primeira vez desde 2014, subiu acima dos 70 dólares por barril. A tendência manteve-se em maio, com os preços a rondar os 80 dólares. Na nossa perspetiva, esta trajetória não é inesperada e a atual subida é uma das razões que torna apetecível o investimento no setor, mas não nos parece que seja a única ou sequer a principal.
O facto de a procura por petróleo se manter forte e de a oferta se ter reduzido de forma considerável é, na nossa perspetiva, o motivo principal e aquele que sublinha a importância do petróleo no contexto do aprovisionamento energético de longo prazo.
Procura forte e oferta pressionada
Apesar de se poder argumentar que o petróleo está a reduzir o seu peso relativo no total da utilização energética, quando analisamos o consumo de energia primária por tipo de combustível, o petróleo continua a aumentar.
A própria Agência Internacional de Energia, no seu último World Energy Outlook, prevê uma expansão das necessidades globais de energia (de 2016) até 2040, que é explicada pela recuperação da procura nos mercados emergentes, a qual supera substancialmente o declínio registado e expectável nos mercados desenvolvidos. Embora uma parte deste aumento possa ser absorvida pelo crescimento das energias renováveis, elas não são suficientes para responder ao acréscimo da procura global.
Em paralelo, assistimos nos últimos anos a um decréscimo pronunciado dos gastos de capital no setor petrolífero, o que tem contribuído para um aperto da oferta. Desde 2014, com a queda acentuada dos preços do petróleo e um aparente aumento da oferta do petróleo de xisto nos EUA (que alguns viram como autossuficiência), muitas empresas reduziram o investimento indexado à prospeção de novos poços e à construção de novas explorações.
2017 foi, aliás, um ano em que se bateram os recordes mínimos no que diz respeito à descoberta de novas reservas de petróleo convencional: no ano passado descobriu-se, em média, apenas um quinto do volume encontrado em 2012. Isto faz com que nos confrontemos com uma divergência entre o petróleo de que precisamos e aquele que se sabe existir.
Com menos petróleo disponível e a procura a crescer, é natural que os preços continuem igualmente a aumentar. Mas, mais importante, é, como referimos no início, não subestimar o papel do petróleo no aprovisionamento energético a longo prazo e essa é, certamente, a principal ideia a reter por parte dos investidores.
Oportunidades de nicho e não só
Com a necessidade de investimento por parte dos produtores a tornar-se óbvia para suportar o necessário aumento da oferta, há empresas que integram a cadeia do setor que irão necessariamente beneficiar e algumas delas estão em subsetores de nicho. Para dar um exemplo, veja-se o caso das empresas detentoras das embarcações de prospeção marítima. Desde 2012, o número destes navios decresceu de 60 para 20, o que coloca os donos destes barcos numa posição privilegiada – praticamente sem concorrência e com mais força negocial para determinar os preços – logo que a procura volte a crescer.
Mas também há oportunidades nas próprias petrolíferas, cujas ações, na nossa visão, se encontram ainda baratas. Neste caso, a atenção recai nas empresas que mantiveram investimentos disciplinados durante os últimos anos e podem encontrar-se em boa posição para beneficiar da procura forte a preços elevados.