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PIB português deve cair 5,6% em 2020. Mas Bankinter diz que há “alta” probabilidade para tombar 8,5%

O banco espanhol mantém uma queda de 5,6% do PIB português este ano como cenário base. No entanto, devido “elevado grau de incerteza”, existe uma probabilidade “relativamente alta” de o cenário pessimista vir a materializar-se e que corresponde a uma queda de 8,5% do PIB.
9 Julho 2020, 18h25

O produto interno bruto (PIB) português deverá cair 5,6% em 2020, segundo o cenário base do Bankinter, que foi revisto pelo Bankinter tendo em conta a evolução da Covid-19 na economia.

O banco espanhol considera que o país está perante “um choque económico profundo, mas não prolongado”.

“Embora ainda exista muita incerteza, nomeadamente ao nível da situação epidemiológica, os principais indicadores económicos já conhecidos permitem-nos concluir, com um certo grau de conforto, que o pior já terá ficado para trás, sendo que o “pior” não terá sido tão mau quanto se temia. Continuamos a defender um cenário de recuperação relativamente célere da economia, impulsionada sobretudo pela procura interna”, defende o Bankinter.

As estimativas do banco espanhol sobre a economia portuguesa mantiveram-se “praticamente inalteradas” face às perspectivas anteriores, que foram publicadas em março. Ainda assim, o Bankinter estima agora uma recuperação de 4,2% em 2021, ligeiramente inferior às estimativas anteriores, que apontavam para uma retoma de 4,7%.

O Bankinter deixou contudo um alerta: “estas previsões estão altamente condicionadas pela evolução futura da situação epidemiológica no país e no mundo, sobre a qual ainda existe um elevado grau de incerteza”. Por isso, devido ao aumento de novas infeções de Covid-19 em Portugal e o risco associado de uma paralisação mais prolongado do turismo, o Bankinter atribui “uma probabilidade relativamente alta” do cenário pessimista, que aponta para uma contração do PIB de 8,5% este ano, seguida de uma recuperação de 5,9% em 2021.

O Bankinter continua a defender uma recuperação da economia nacional “relativamente célere” e estima que uma subida homóloga de 0,5% no quarto trimestre, mas alerta que a “recuperação não será homogénea”.

“Apesar de prevermos uma retoma particularmente célere da procura interna, as exportações deverão demorar a reagir, sobretudo pelos efeitos prolongados da pandemia ao nível do turismo”, lê-se no relatório.

O consumo interno deverá recuperar “de forma relativamente célere” quando recuperar confiança porque o banco espanhol argumenta que as medidas de mitigação lançadas pelo Governo, de proteção de emprego e reforço da liquidez das empresas, aliadas ao confinamento, terão resultado “num aumento significativo da taxa de poupança”.

No mercado de trabalho — que o Bankinter considera que não será tão afetado como na crise financeira porque a atual conjuntura é “temporária” — o banco estima uma taxa de desemprego de 10,5% para este ano, “bastante longe dos máximos de 17,5% alcançados em 2012”. Ainda assim, a recuperação do emprego será progressivo a partir de 2020 e não deverá atingir os níveis registados pré-Covid-19 antes de 2022.

Para o investimento, o Bankinter tem perspetivas de retoma “favoráveis” impulsionada pela construção “cuja atividade praticamente não foi interrompida durante o período de confinamento”. Apesar disso, o investimento deverá contrair 6% este ano, antes de recuperar mais de 5% em 2021, também impulsionado pelo “contributo esperado” do investimento público quando o país tiver à sua disposição os fundos europeus no âmbito do Fundo de Recuperação.

Diferente será a procura externa, que deverá ser “bastante mais lenta”, principalmente devido à “paralisação prolongada do turismo”.

“O setor turístico, que foi um dos principais responsáveis pelo forte crescimento das exportações ao longo dos últimos anos, é agora o principal detrator do crescimento este ano. Mais além do levantamento das restrições aos voos e/ou da reabertura de fronteiras, é expectável que a confiança dos turistas (ou ausência dela) seja um fator impeditivo para uma rápida retoma do setor. Por outras palavras, dificilmente o setor recuperará alguma normalidade até que surja uma vacina para a Covid-19, algo que não se perspetiva que ocorra antes do início de 2021”, explica o banco espanhol.

Por outro lado, as importações também deverão cair este ano, o que irá compensar parte do efeito negativo da queda das exportações na balança comercial portuguesa.

O imobiliário deverá ter uma recuperação “relativamente lenta” e o Bankinter considera que os preços não voltem aos registados durante a era pré-Covid antes do próximo ano. Tal explica-se porque o desemprego criou uma quebra permanente de parte da procura e também porque muitas decisões sobre compra de casa “terão sido adiadas entre 12 a 18 meses”.

O Bankinter antecipa uma quebra dos preços das casas de cerca de 4% em 2020, seguindo-se uma queda de 1,5% no ano seguinte, recuperando depois 5% em 2022.

No que diz respeito às finanças públicas, o Bankinter defende que ainda é “difícil” apurar o impacto das medidas do Governo para mitigar o impacto económico da pandemia. “Grande parte dos estímulos têm a forma de garantias a linhas de crédito às empresas, pelo que só impactarão diretamente as contas públicas caso as empresas entrem efetivamente em cumprimento”, diz o relatório.

No cenário base, o Bankinter estima um défice de 6,7% este ano e de 3% em 2921 e um rácio de dívida pública face ao PIB de 130% e 132%, respectivamente.

“Perante este contexto, seria razoável esperar aumento substancial do spread de risco português, contudo o programa de compra de dívida do BCE – denominado PEPP, num total de 1,35 biliões euros – irá continuar a pressionar em baixa os juros portugueses, o que é um fundamental numa altura em que Portugal terá que recorrer aos mercados para financiar as medidas orçamentais de resposta à pandemia”, refere o banco espanhol.

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