Os resultados líquidos do Banco Montepio em 2020 foram negativos em 80,7 milhões de euros, o que compara com resultados positivos de 21,7 milhões em 2019, influenciados pelo impacto desfavorável induzido pela pandemia do Covid-19 materializada, principalmente, no reforço da imparidade para riscos de crédito (de 77,5 milhões), bem como pelos custos não recorrentes relacionados com o plano de ajustamento em curso de 35,1 milhões de euros.
As imparidades decorrentes do risco na carteira de crédito provocado pela pandemia Covid e os custos com o plano de redução de pessoal tiraram mais de 100 milhões de euros ao resultado líquido do Banco Montepio. Sem este efeitos extraordinários a instituição liderada por Pedro Leitão teria tido resultados líquidos positivos. Se “excluirmos os impactos extraordinários anteriormente referidos dos resultados líquidos, bem como o respetivo efeito fiscal, os resultados líquidos consolidados teriam sido positivos de 3,2 milhões”, explica fonte do banco.
“O objetivo global traçado no plano de ajustamento para a otimização da rede de balcões em 2020 foi alcançado, tendo encerrado 37 balcões, na rede de retalho”, explica o banco. Em resultado do programa de rescisões por mútuo acordo e reformas antecipadas, a que acrescem as reformas por limite de idade, o número de colaboradores reduziu-se em 241 no ano passado.
Recorde-se que a instituição tem em curso um plano de ajustamento e pretende reduzir ao todo 600 a 900 postos de trabalho em três anos. O Banco Montepio obteve a autorização da tutela para poder despedir 400 trabalhadores até setembro de 2023, no âmbito do estatuto de empresa em reestruturação. O banco também prevê fechar 80 balcões em três anos.
Em relação ao reforço de imparidades relacionado com o aumento do risco de crédito com origem na pandemia, foram registadas imparidades que totalizaram 77,5 milhões de euros, representando uma componente relevante no valor da imparidade relevada pelo Banco Montepio no exercício de 2020 e que ascendeu a 185,1 milhões, diz o banco em comunicado.
Com isto o custo do risco de crédito sobe de 0,9% em 2019 para 1,5% em 2020.
“A imparidade do crédito em 2020 totalizou 185,1 milhões, evidenciando uma subida de 70,2 milhões face ao valor contabilizado em 2019, para o que contribuiu o aumento do risco de crédito causado pela pandemia Covid-19 estimado em 77,5 milhões e também pelo reforço dos níveis de imparidade em algumas exposições creditícias que se encontravam em incumprimento ou que apresentaram um aumento dos sinais de imparidade”, refere a instituição.
O agregado das outras imparidades e provisões, relacionadas com outros ativos financeiros, com outros ativos e com provisões, “ascendeu a 35,7 milhões de euros em 2020 e compara com 28,4 milhões registados em 2019, traduzindo essencialmente o impacto da constituição de imparidades para balcões encerrados e, ainda, os efeitos da evolução do risco de crédito ao nível dos instrumentos de dívida e do processo de atualização das avaliações dos imóveis de negociação”.
O produto bancário caiu 14,5% para 393,7 milhões de euros influenciado pela queda de 4,5% da margem financeira para 242,8 milhões (receita de juros); pelas comissões que recuam 6% para 115,3 milhões e pelos resultados de operações financeiras que tombam 72% (de 64,5 milhões em 2019 para 17,9 milhões em 2020). A evolução dos resultados de trading foi determinada pelos maiores ganhos na alienação de títulos realizados em 2019 e, em menor escala, pela redução dos resultados cambiais e com instrumentos financeiros derivados.
“O produto bancário core, medido pelo agregado dos proveitos contabilizados na margem financeira e nas comissões, e excluindo o impacto aportado pela dívida subordinada emitida, ascendeu a 375,6 milhões em 2020, comparando com o valor de 390,6 milhões relevado em 2019, consubstanciando o impacto exógeno aportado pela pandemia nos níveis de atividade económica”, lê-se no comunicado.
Os custos operacionais totalizaram 291,4 milhões em 2020, o que compara com os 264,0 milhões contabilizados em 2019, “evidenciando essencialmente o impacto do plano de ajustamento do quadro de colaboradores de 28,3 milhões, registados em custos com o pessoal, e, em menor grau, do encerramento de balcões de 1,2 milhões, relevados em Gastos gerais administrativos”, explica o banco.
O valor referente a custos com o pessoal resulta dos encargos assumidos com o programa de reformas antecipadas e de rescisões por mútuo acordo e considera os custos com o Fundo de Pensões, indemnizações e encargos com saúde. Excluindo estes efeitos, os custos operacionais de 2020 teriam registado uma redução de 2,1 milhões face ao valor de 2019, devido ao desempenho dos custos com o pessoal e dos gastos gerais administrativos, neste caso capturando as sinergias resultantes da renegociação de alguns contratos que se têm vindo a concretizar.
O rácio de eficiência degradou-se com o cost-to-income a subir de 57,3 para 66,5% num ano.
Segundo o Banco Montepio, em 2020, “o total de impostos correntes e diferidos em 2020 e em 2019, considera as realidades que contribuíram para a formação dos resultados e o respetivo enquadramento fiscal, nomeadamente no que respeita à constituição e à reversão de diferenças temporárias e à identificação de diferenças permanentes, com destaque para a contribuição do setor bancário dado que não concorre para a formação do lucro tributável”.
“O valor relevado na rubrica operações em descontinuação em 2020 ascendeu a -1,9 milhões de euros e compara com -3,5 milhões em 2019, correspondendo ao contributo para as contas consolidadas das subsidiárias Montepio Valor e Banco Montepio Geral Cabo Verde”, diz o banco.
O Banco reporta que em 2020 inverteu tendência e cresce no crédito a clientes, lidera na economia social, ao mesmo tempo que prossegue ajustamento operacional.
A qualidade da carteira de crédito melhorou com um rácio de crédito em mora (NPE – non performing exposures) a cair de 12,2% em 2019 para 10,4% em 2020.
“A performance de negócio permitiu inverter a tendência decrescente do crédito a clientes (bruto) observada na última década, que registou em 2020 uma evolução favorável ascendendo a 12.357 milhões de euros”, diz o Banco. Este desempenho, que releva um aumento de 336 milhões e “traduz o compromisso do Banco Montepio no apoio às famílias, às empresas e às entidades da economia social, destacando-se neste ultimo segmento uma quota de mercado de cerca 75% na linha de crédito protocolada específica para o sector”.
O crescimento da carteira de crédito foi concretizado em simultâneo com a melhoria dos indicadores da qualidade do crédito e, que “beneficiaram de uma rigorosa disciplina de tomada de risco de crédito, bem como das medidas que foram aprovadas e adotadas nas áreas de acompanhamento e de recuperação de crédito”.
A cobertura dos ativos não produtivos por imparidades, refletindo o reforço de imparidades concretizado no exercício de 2020, “com destaque para o que resultou da atualização dos cenários macroeconómicos devido à pandemia determinada pelo Covid-19” e do aumento das imparidades em algumas exposições, registou uma melhoria ao passar de 52,1% em 31 de dezembro de 2019 para 60,4% no final de 2020.
O Banco Montepio revela ainda a concessão de 367 milhões de euros em crédito com base em linhas protocoladas, sendo que no caso da linha de apoio à economia social a quota de mercado em 31 de dezembro de 2020 ascendia a cerca de 75% das operações contratadas.
Ainda no Balanço, os depósitos de clientes ascenderam a 12,502 mil milhões, situando-se ao nível do valor de 2019, tendo a subida dos depósitos à ordem compensado o desempenho dos depósitos a prazo.
O Banco Montepio comunica ainda que “os processos de transição digital foram acelerados (lançamento da assistente virtual M.A.R.I.A – Montepio’s Automated Real-time Interaction Assistant, e robustecimento da plataforma digital), permitindo o ajustamento do modelo de serviço e o aumento de forma sustentada da eficiência do Grupo Banco Montepio”.
O banco viu o rácio de capital CET 1 caiu de 12,4% para 11,6% e o rácio de capital total fixou-se em 13,8%.
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