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Players nacionais do mercado de M&A defendem a necessidade de consolidação das empresas

O painel “Major Trends in M&A and Private Equity”, no Advisory Summit 2024, discutiu o futuro do mercado de fusões e aquisições de empresas em Portugal. O private equity como ferramenta para ajudar as empresas a ganharem escala foi defendido por todos os oradores.
16 Julho 2024, 14h39

O painel “Major Trends in M&A and Private Equity”, no Advisory Summit 2024, discutiu o futuro do mercado de fusões e aquisições de empresas em Portugal.

Francisco Alvim, Director, Head of M&A Howden Portugal; Gustavo Guimarães, Partner da Apollo Global Management; Pedro Coutinho, Partner da Explorer Investments; e Nuno Fernandes Thomaz, Senior Partner da Core Capital Partners foram os participantes do painel.

Pedro Coutinho, Partner Explorer Investments começou por considerar que para o mercado de fusões e aquisições as perspectivas para o segundo semestre são moderadamente positivas, “para quem está no buy-side”, como é o caso dos private equities.

“Os empresários estão um bocadinho a fechar os temas que vieram do ano passado”, considerou o responsável da Explorer. Um segundo efeito é que nos anos pós-Covid as empresas tiveram uma performance bastante positiva e nesta altura estão uma situação privilegiada de considerar uma potencial saída, ou desinvestimento. Existem também alguns sinais de abrandamento em alguns setores e consideram por isso uma venda”, defendeu Pedro Coutinho.

Do lado dos compradores “há um nível de confiança de conforto da situação macroeconómica, enfim, é muito melhor que no  ano passado e, portanto, há uma confiança maior para fazer investimentos”.

Pedro Coutinho disse que “há muito dinheiro disponível no mercado” no setor do private equity e mesmo family offices que tiveram uma performance muito positiva nos últimos anos e portante têm muita liquidez para investir”.

A normalização das taxas de juro também traz um grau de confiança aos investidores, sobretudo os que recorrem a capital alheio,

Gustavo Guimarães, Partner Apollo Global Management, falou da valorização dos ativos estar muito elevada.

A nível internacional que existem por vários fatores, inclui a valorização dos ativos muito elevada. Existem várias fatores que levaram a um mercado geral da M&A a descer nos últimos anos.

“Cada empresário, cada investidor deve tomar as suas decisões perante a sua situação especifica”, defendeu o gestor.

“O M&A é uma das ferramentas mais importante para o crescimento da dimensão das empresas”, defendeu Gustavo Guimarães.

Os fundos de private equity têm hoje outras soluções que não exigem entrar diretamente nas empresas, o importante é que os empresários venham à procura de soluções, defendeu o gestor.

“Hoje em dia já se sabe que uma micro ou pequena empresa não tem a acesso a coisas como inovação tecnológica e a todas as questões de acesso a grandes mercados”, defendeu Gustavo Guimarães que defende assim que a questão cultural de resistir a perder o controlo e por isso perpetuar a dimensão pequena das empresas está a mudar. “Deve procurar-se a dimensão para ser-se relevante para depois poderem ter acesso a uma mesa de negociações que permita entrar no M&A a nível internacional”, defendeu lembrando que há empresas portuguesas que já conseguem isso.

“Vamos ter um segundo semestre forte em M&A”, disse por sua vez Nuno Fernandes Thomaz, Senior Partner Core Capital Partners que justifica o otimismo com o lado da procura, com o lado da oferta e com um enquadramento político, pois temos um Governo que é mais pró-business”.

Do lado da procura, Nuno Fernandes Thomaz destacou que “temos um momento único, pois temos capital dos fundos de capital de risco, temos capital nas empresas, com alguns grupos portugueses que andam às compras, e temos capital estrangeiro de grupos estrangeiros”.

“O Banco de Fomento tem sido relevante no private equity”, defendeu o gestor do Core Capital, que explicou que foi uma instituição que induziu a indústria de capital de risco “para fazer uma espécie de catch-up”.

Estamos muito atrasados, ainda assim, por exemplo em comparação com Espanha, onde a indústria do capital de risco é sete vezes superior, salientou Nuno Fernandes Thomaz. Na média da UE o peso do capital de risco é 18 vezes superior a Portugal, acrescentou.

“A indústria de capital de risco é muito importante ter cada vez mais e maiores empresas”, defendeu também o partner da Core Capital.

“É fundamental ter escala, ter grandes empresas”, sublinhou o gestor.

A indústria de capital de risco tem de crescer porque resolve o tema da dimensão, o tema da falta de capital, e melhora a gestão das empresas, defendeu o responsável da sociedade gestora de fundos de private equity.

Do lado da oferta, disse ainda Nuno Fernandes Thomaz que pela primeira vez muitos empresários estão a ponderar vender os seus negócios. “Já tinham um problema de sucessão, mas depois com a pandemia, com os aumentos dos preços das matérias-primas e de energia e com as taxas de juro altas, decidiram que era o momento de vender os seus negócios”, disse.

Nuno Fernandes Thomaz revelou que a Core Capital vai fechar seis transações este ano.

“Mas as transações estão a demorar mais, porque os vendedores tiveram anos recorde e os compradores querem expurgar o efeito pós-pandemia e inflação. Há um gap de preço, que exige muita discussão”, explicou o gestor da Core Capital.

Nuno Fernandes Thomaz disse ainda que “esta é a primeira vez que estes empresários estão a enfrentar um processo de venda e não são ainda sofisticados nesse processo. É  preciso sofisticação no acompanhamento dos negócios. É preciso convencê-los a contratar um escritório de advogados e um assessor financeiro”.

Francisco Alvim, Director, Head of M&A Howden Portugal, trouxe outra visão porque “não somos player de mercado, somos um assessor na área do risco transacional, que é  uma das tendências que veio para ficar”.

A Howden disponibiliza ferramentas que mitigam os riscos das transações e que conferem proteção a quem compra, explicou.

“Estou muito positivo em relação ao segundo semestre”, disse também Francisco Alvim.

“Este ano temos assessorado mais do dobro das transações que assessoramos na mesma altura ano passado”, revelou o responsável da Howden Portugal, que considera que “há muita atividade” em parte por causa da liquidez acumulada nos últimos anos.

Sobre os acontecimentos de contexto externo, Francisco Alvim ressalvou que há alguma incerteza em relação à aprovação do Orçamento de Estado e em relação ao contexto político externo. “Mas o sentimento geral é de que os investidores querem estabilidade e não apenas a baixa de impostos”, sublinhou.

Mais à frente, a Explorer defendeu que o M&A é uma ferramenta natural para tirar proveito da inovação tecnológica.

Gustavo Guimarães foi questionado sobre a vitória provável de Donald Trump nos Estados Unidos e do seu impacto no mercado de M&A.

“O mundo está muito polarizado e aquilo que se vê é que hoje o que divide a esquerda da direita são temas polarizantes como a questão da vida e não tanto os programas económicos onde os partidos têm tentado chegar a um equilíbrio”, começou por dizer o Partner da Apollo Global Management. Na prática, os vários governos reconhecem a importância dos mercados, sublinhou.

Sobre os Estados Unidos sob uma eventual administração Trump, Gustavo Guimarães antevê uma aposta na autonomia dos EUA e do Ocidente. O alerta que Trump faz à UE tem como consequência a antecipação de investimento na defesa. “Não sou tão pessimista” em relação ao futuro dos Estados Unidos, disse.

Sobre Portugal, Gustavo Guimarães está menos optimista. “Nós não podemos ter estabilidade numa coisa mal, temos de reformar o que está mal”, disse o gestor que lembrou que há no segundo semestre uma incógnita relacionada com a aprovação do Orçamento de Estado.

Nuno Fernandes Thomaz, na segunda ronda de perguntas do painel, criticou “os papões que fazem à volta do Trump. Não é por o Trump ganhar que o mundo vai acabar. Pelo contrário podemos até ter coisas positivas”.

Sobre o private equity, Nuno Fernandes Thomaz lembrou que a Core Capital é o maior operador de residências sénior do país, tendo feito a primeira aquisição em 2020.

Sobre o novo ciclo das taxas de juros, o gestor salientou o impacto positivo para o mercado de M&A, por causa de reduzir os custos de financiamento.

“Estou positivo com o enquadramento, com a evolução da procura e da oferta [de negócios] e incluindo com o enquadramento internacional”, concluiu o responsável da Core Capital.

Já Francisco Alvim optou por dizer que a política é importante mas não é o fator decisivo nos negócios de M&A. “Apesar de termos tido um Governo de esquerda que teve o apoio da extrema esquerda, em teoria menos pró-business, isso não afectou significativamente a indústria de M&A”.

O responsável da Howden Portugal destacou a importância da indústria de private equity para o tecido empresarial, nomeadamente ao nível da consolidação de empresas. “Há oportunidades para todos”, defendeu.

Mais tarde, Francisco Cary, no discurso sobre o prémio Lifetime Achievement Awards na área de banca de investimento, defendeu as fusões e aquisições para as empresas ganharem dimensão, alinhando pela opinião dos participantes do painel.

Francisco Cary defende que faz sentido manter um banco de investimento autónomo, como Caixa BI, onde desempenha o cargo de Chairman.

“A questão da sucessão é um tema continuado e cria oportunidades de fusões e aquisições, há a consciência na sociedade de que há necessidade de ganhar dimensão”, defendeu o banqueiro.

As perspectivas para o futuro do M&A são optimistas para o chairman do Caixa BI.

Defendeu a consolidação para investir em tecnologia e para atrair mais talento, lembrando alguns recentes incentivos públicos e fiscais no mercado de M&A.

“A reindustrialização europeia que está a trazer muitos interessados nalgumas empresas de base industrial portuguesa, que têm competências e capacidade de alavancar a sua dimensão”, referiu Francisco Cary, que acredita que podemos estar perante um novo ciclo no mercado de capitais, depois de muitos anos em que houve poucas entradas em bolsa.

“Estamos também num novo ciclo de investimento em infraestruturas”, disse ainda Cary sobre a área do financiamento estruturado, realçando que estes novos investimentos (ferrovia, novo aeroporto, etc) vão criar negócios.

A transição energética e a Inteligência Artificial, os centro de dados, são áreas onde Francisco Cary vê oportunidades de negócio.

“A quantidade de investimento que vai ser preciso fazer para viabilizar a utilização da tecnologia e o que isso implica em investimentos relacionados, como energia, tudo isto permite ter uma perspetiva optimista para o mercado das fusões e aquisições”, defendeu.

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