É possível que o custo da energia nalgumas horas do dia chegue perto de zero (como de resto já acontece), especialmente pelos avanços em tecnologias renováveis. Por exemplo, as energias solar e eólica estão cada vez mais competitivas, quando comparadas com outras tecnologias de geração de eletricidade, como a biomassa, as centrais a gás, as hídricas, para não referir o nuclear – muito longe em termos de custo-benefício.

A sua eficiência também tem evoluído muito, os painéis solares são hoje mais duradouros e eficientes que há dez anos e, mesmo as turbinas eólicas têm tido uma evolução significativa na eficiência, com a aplicação de aerogeradores mais eficientes e de maior potência instalada.

Não menos importante, o armazenamento através de baterias está a fazer o seu caminho, muito alavancado na evolução tecnológica aplicada ao setor automóvel, como é o caso dos Veículos Elétricos, criando uma disrupção num modelo de produção sujeito à intermitência.

Isto porque podemos ter, em algumas horas do dia, e decorrente de condições meteorológicas favoráveis e coincidentes, um excesso de produção de energia renovável de origem hídrica, eólica e solar, levando os preços da energia a zero no mercado grossista.

No futuro, com soluções de armazenamento, como é o caso das baterias, esta energia produzida e não utilizada naquelas horas do dia, será guardada para poder ser injetada na rede quando não ocorram a radiação solar e/ou vento, contribuindo para um menor recurso a fontes não renováveis.

A esta abordagem chama-se flexibilidade do sistema elétrico. Esta flexibilidade irá ser muito importante para dar resiliência ao sistema elétrico e amortecer os picos e baixas de preços do diagrama de consumo.

Do ponto de vista do consumidor, um preço mais plano proporciona um dia-a-dia mais tranquilo. Fruto da eletrificação das nossas casas e empresas, a gestão dos consumos de energia com recurso a soluções tecnológicas inovadoras e acessíveis passou a ter uma importância acrescida e é algo que cada vez mais temos de fazer.

Mas afinal o que nos traz a fatura mensal de energia?

Por um lado, no verdadeiro custo que pagamos pela energia estão outros custos que no final, não nos levarão ao mundo ideal de termos energia elétrica a zero. Custos como, redes (incluindo os CIEG – Custos de política energética, de sustentabilidade e de interesse económico geral), encargos com a gestão da rede (acionamentos de centrais de reserva), financiamentos do audiovisual, tarifa social e imposto sobre o consumo de eletricidade, a que acresce sempre o IVA, ditam que o custo da energia, não poderá nunca ser zero.

Por outro lado, não devemos perder de vista que, mesmo tratando-se de um recurso natural gratuito (água, vento e sol), o seu aproveitamento enquanto energia primária, obriga a investimento em tecnologia (CAPEX) e custos de operação e manutenção (OPEX), para podermos converter aquela energia primária e renovável, em eletricidade, para o nosso consumo.

Assim, e se olharmos apenas para a energia renovável, esta pode custar zero mas, sendo uma energia primária, para a podermos utilizar existem custos de transformação e distribuição que têm de ser pagos por todos os consumidores, logo, no mundo real, a energia elétrica renovável nunca poderá custar zero.