O pescador Arthur Dewhirst teve dificuldade em acreditar quando puxou as redes para o convés do seu pequeno barco, ao largo da cidade de Brixham, no sul de Inglaterra: em vez de solhas ou pregados, uma massa viva de tentáculos movia-se desordenadamente.
O primeiro pensamento? “Dinheiro”, “dinheiro”, dinheiro”, disse ao “The New York Times”. Não era
para menos. Ao longo do verão, a costa foi invadida por uma febre de polvos. Cada quilo vale sete libras (oito euros), o suficiente para transformar as redes de Dewhirst em cofres flutuantes – chegou a
ganhar até 10 mil libras extra por semana (11 mil euros), enquanto a cidade se agitava com a inesperada invasão de cefalópodes.
Este aumento inesperado teve impacto imediato na economia local. Os restaurantes passaram a incluir o polvo nas ementas, enquanto os mercados registaram uma procura recorde – o proprietário de um estabelecimento chegou mesmo a gravar um vídeo nas redes sociais para ensinar a cozinhar uma espécie ainda pouco comum nas cozinhas britânicas.
Há várias teorias sobre as causas deste fenómeno, mas os cientistas acreditam que o aquecimento das águas torna a região mais hospitaleira para os polvos. Segundo Steve Simpson, professor de biologia marinha da Universidade de Bristol, “a mudança climática é provavelmente um dos fatores que impulsionam esse boom populacional”.
E acrescenta uma explicação sobre as causas: “As nossas águas estão a ficar mais quentes, tornando-se favoráveis para as populações de polvos”.
Neste porto de pesca, a euforia de uns contrasta com a tristeza de outros. Os pescadores de caranguejos e lagostas queixam-se que encontram cada vez mais cascas vazias e restos de esqueletos — sinal de que estes moluscos de oito braços estão a devorar os crustáceos.
A autoridade local de regulação e conservação tem em vigor uma lei que exige a instalação de “gaiolas de fuga” em todos os barcos pesqueiros — uma medida para proteger os caranguejos e lagostas. Os pescadores acreditam que é através destas gaiolas que os polvos entram e saem — depois de comer as criaturas que se encontram no seu interior.
Quase todos concordam que a situação é única nos tempos recentes. “É a primeira vez que os pesco
em 49 anos”, diz Dave Driver, mesmo sem operar nas águas profundas que a espécie prefere.
Segundo Carli Cocciardi, responsável pela recuperação da natureza marinha no Devon Wildlife Trust, registou-se um aumento do número de polvos nas águas inglesas em 1900, 1950 e mais recentemente em 2022. “Este é um fenómeno novo, não se sabe ao certo o que vai acontecer em termos de gestão, mas as autoridades irão certificar-se de que é algo sustentável caso venha a tornar-se uma caraterística permanente das águas inglesas”, explicou a especialista.
No mercado de peixe em Brixham, foram vendidas 12 mil toneladas de polvo, entre janeiro e agosto, incluindo 48 toneladas em apenas um único dia. “Fomos simplesmente invadidos”, disse Barry Young, responsável pelo leilão de polvos. “Dia após dia, mais e mais. Foi fantástico ver essas quantidades e uma bênção para todos”.
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