O ponto de ligação à rede elétrica da antiga central a carvão do Pego ainda tem 260 megawatts disponíveis de um total inicial de 600 megawatts.
Desse total, a Endesa Portugal, uma das antigas acionistas desta central e a vencedora do leilão que terminou recentemente, vai ocupar 225 megawatts.
“No Pego, instalámos solar, eólico e baterias no total superior a 600 megawatts e eu só solicitei 220 e tal megawatts”, disse o presidente da Endesa Portugal na semana passada à margem da conferência em Lisboa “A Energia no novo mapa geopolítico”. “O ponto de ligação tem 600 megawatts e só ocupamos um terço. O Governo e o operador do sistema elétrico querem alocar a potência que não ocupamos a outros projetos que para ali haverá. Também já tive notícia do Governo que a potência remanescente de ligação vai ser leiloada ainda este ano”, destacou Nuno Ribeiro da Silva.
A capacidade de ligação do Pego à rede elétrica também vai diminuir de 600 MVA (megavolts amperes) para 485 MVA em janeiro de 2024. Isto vai acontecer quando entrarem em exploração as centrais solares fotovoltaicas de Cabril e de Castelo do Bode.
“A partir de janeiro de 2024, a capacidade máxima de receção firme na RESP é de 485 MVA, podendo, no entanto, nas horas indicadas no referido anexo (das 21:00 às 05:00), atingir os 600 MVA”, segundo o documento com esclarecimentos das questões colocadas ao júri do leilão solar flutuante, divulgadas na página da Direção Geral de Energia (DGEG) segundo noticiou a “Agência” Lusa a 8 de fevereiro.
Na altura, o ministério do Ambiente também indiciou que as “limitações horárias e tecnológicas” deste ponto de ligação podem ser flexibilizadas pelo gestor do sistema elétrico nacional, a REN – Redes Energéticas Nacionais.
O Jornal Económico contactou o ministério do Ambiente para saber quais os planos da tutela para este ponto de ligação: se pretende realizar um leilão e quando; se já recebeu pedidos de empresas interessadas nesta ligação. Mas a tutela de Duarte Cordeiro não quis fazer comentários.
O JE também questionou a Trustenergy, o acionista maioritário do consórcio Tejo Energia (que detinha a central a carvão), que também concorreu ao concurso para o ponto de ligação e ficou na segunda posição. Os dois acionistas deste consórcio concorreram em separado ao concurso devido às suas divergências sobre o futuro a dar à antiga central a carvão do Pego.
Fonte oficial da empresa rejeitou responder às questões sobre se estava interessada nos 260 megawatts disponíveis, e se já tinha mostrado o seu interesse sobre esta potência ao Governo. No entanto, uma fonte próxima da Trustenergy garantiu que a empresa estará totalmente alinhada com qualquer estratégia que o Governo venha a seguir para este ponto de ligação.
Na zona do Pego, concelho de Abrantes, distrito de Santarém, a Endesa pretende investir um total de 600 milhões de euros para construir 365 megawatts pico (MWp) de energia solar, 264 MW de energia eólica, com armazenamento integrado de 168,6 MW e um eletrolisador de 500 kW para produzir hidrogénio verde. No entanto, só vai precisar de 224 MVA para toda esta potência. Mas como é que a empresa vai gerir toda esta eletricidade a entrar na rede elétrica?
“No Pego, instalamos solar, eólico e baterias, no total superior a 600 megawatts eu só solicitei 220 e tal megawatts. Isto é também um sinal que poderá haver toda uma releitura de como se aloca a potencia quando se querem construir parques eólicos, solares ou barragens pelo pais fora”, destaca Nuno Ribeiro da Silva, apontando para as vantagens da hibridização, ou centrais híbridas, que permitem também ter menos capacidade de injeção na rede, apesar de a potência instalada ser maior.
O líder da Endesa Portugal também exemplifica com a central solar flutuante do Alto Rabagão, cujo leilão venceu na semana passada. “Temos 42,5 MW de capacidade de ligação, mas tenho 48 MW de eólica e 16 MW de baterias associado. Porque o fotovoltaico nao vai estar 8.760 horas [365 dias] a produzir, tal como o eólico, eu ao misturar consigo duas coisas: não estou exposto ao ciclo ou do solar ou do vento, e com as baterias tenho a capacidade de acumulação. Quando tenho o solar e o eólico a bombar, tenho com uma fiabilidade de entrega de eletricidade superior a 60% do tempo. Ao ter este jogo (acumulação de baterias, solar não produz durante a noite, vento de vez em quando não sopra) o projeto pode funcionar como uma central despachável durante mais de 60% do tempo, equivalente a centrais convencionais, podendo assim mitigar a volatilidade associada às energias renováveis”.
A EDP também conquistou o lote do Alqueva no leilão solar flutuante, podendo instalar 70 MVA neste ponto de ligação. No entanto, está a preparar um projeto mais alargado, tal como a Endesa, para fazer render o projeto: 70 MW de capacidade eólica e 14 MW de sobreequipamento solar.
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