Em Portugal, ainda impera uma visão centralizadora e individualista do funcionamento das instituições. Não há, por isso, grande abertura para a cooperação institucional, sobretudo quando se trata de projetos desenvolvidos na mesma área de atividade e com uma forte marca identitária. Por conseguinte, o acordo de colaboração recentemente rubricado entre os dois principais eventos de moda nacionais, Portugal Fashion e ModaLisboa, é um exemplo para o país.
O acordo prevê a articulação de iniciativas e projetos entre os eventos, no quadro de uma estratégia integrada de desenvolvimento da fileira moda portuguesa. Isto significa que Portugal Fashion e ModaLisboa vão conjugar esforços e evitar ações sobrepostas, redundantes e competitivas entre si. Desta forma, as entidades responsáveis pelos projetos, ANJE – Associação Nacional de Jovens Empresários e Associação ModaLisboa, esperam reforçar a visibilidade pública, a dimensão internacional e a competitividade económica de marcas e criadores nacionais.
A cooperação firmada a 13 de setembro cria, desde logo, a expectativa de uma maior interação entre produção e criação, considerando, por um lado, a proximidade do Portugal Fashion à indústria, o seu apoio à gestão comercial de marcas e criadores e as suas ações de internacionalização e, por outro, a maior apetência da ModaLisboa pelo experimentalismo criativo. Conciliar estas duas visões da moda pode, efetivamente, gerar maiores sinergias entre produção e criação, com resultados ao nível das vendas e exportações, do valor acrescentado dos produtos, da notoriedade dos criadores e da consolidação, sustentabilidade e internacionalização das marcas.
Os mais céticos dirão que é tudo muito bonito no papel, mas que dificilmente o acordo se traduzirá em resultados concretos. Haverá até quem ache que os dois projetos são inconciliáveis e que, por isso, estão fatalmente condenados a correrem em pistas próprias. Cabe agora ao Portugal Fashion e à ModaLisboa provarem que é possível trabalhar em conjunto e assegurar uma melhor rentabilização de recursos públicos, sem embargo da identidade dos dois eventos.
Creio que devemos caminhar para a realização de uma verdadeira fashion week portuguesa, construindo uma marca forte, com escala, massa crítica e notoriedade. Opção que naturalmente seria benéfica para a fileira moda, que tem ainda muito potencial económico por materializar, e para a imagem externa de Portugal, país que se está a afirmar pela modernidade e cosmopolitismo.
Regresso ao simbolismo deste acordo. Para além da captura de sinergias entre as duas instituições com benefícios no setor, esperamos que esta ação possa ser um exemplo transversal para as associações, as empresas, os institutos, as universidades e outros agentes, para que pensem num bem comum superior ao bem próprio, ganhem escala e se tornem mais fortes. Que o espírito individualista cada vez mais se dissipe da nossa sociedade.