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Porque é que é tão difícil?

Esta “ubiquidade” de sentimentos e seu reflexo em variadíssimos aspectos da nossa comunidade tem, na minha opinião, bloqueado muito do desenvolvimento do nosso País, das suas empresas e da sua governabilidade.
15 Abril 2019, 07h15

Continuamos a viver num país latino. “Olhamos de alto” para África, com uma soberba de conquistadores reformados, da mesma forma que nunca deixámos de considerar a América Latina um “irmão menor”, sobretudo pela nossa “influência” no Brasil, apesar de – na minha opinião – termos uma inveja pequenina de eles se terem tornado (em muitos aspectos), melhores que nós.

Por outro lado, “olhamos de baixo” para o resto da Europa, onde invejamos quase todos, desde a Itália, pelo seu futebol, carros desportivos e pizzas, a Alemanha, pela eficácia, objectividade e produtividade, a França, pela burocracia, “liberdade” e hermenêutica legística, ou a Inglaterra, porque, simplesmente os achamos “melhores que nós” (da mesma forma que nós nos achamos melhores que os Brasileiros).

Esta dialéctica que marca o Povo Português reflecte-se em vários aspectos da nossa psique e da nossa vida. No futebol, por exemplo, há mesmo termos que a caricaturam, como o “passar de bestial a besta”, ou “o que hoje é verdade, amanhã é mentira”, entre outros. No mercado laboral e empresarial, dentro do nosso país, somos normalmente subprodutivos, enquanto que, como emigrantes, somos dos melhores trabalhadores que existem.

É engraçado, não é?

Pois bem. Esta “ubiquidade” de sentimentos e seu reflexo em variadíssimos aspectos da nossa comunidade tem, na minha opinião, bloqueado muito do desenvolvimento do nosso País, das suas empresas e da sua governabilidade. Seria importante admirar “os melhores” com base no mérito, nos métodos e nos resultados, e entender as falhas dos “piores”, sem qualquer tipo de fatalismo, fado, ou saudades.

Só assim progredimos, e só assim entendemos qual o nosso lugar.

Termino com um exemplo bastante prático. Tive a sorte de ter um familiar que praticou desportos motorizados, em especial Karting. Quando ia para uma pista nova, tinha o cuidado de dar várias voltas antes, de treino, onde se despistava inúmeras vezes. Uma vez, espantado com essa ousadia, e amedrontado pelas potenciais repercussões da mesma, perguntei porque é que se arriscava tanto, nas voltas de reconhecimento. A resposta que tive, serviu-me para a vida:

“ _ porque só se ultrapassares o limite, é que sabes onde é que ele está. Só assim consegues ir, verdadeiramente, a esse limite”.

É isso que nos faz falta. Por isso é que é tão difícil.

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