Fazer campanha porta-a-porta é sempre uma experiência enriquecedora. Sou daqueles que ficam para trás, que se demoram um pouco mais a falar com os moradores (ia dizer “com as pessoas”, mas lembrou-me o tempo quando um candidato do PS utilizava essas expressão de 5 em 5 segundos, até a gastar). Eles merecem que ouçamos os seus problemas, que lhe demos respostas ou que, simplesmente, apontemos a situação para falar com quem possa resolver. Uma das críticas que se ouve, e que é transversal a todos os partidos, afirmam os eleitores, é que “só se lembram de nos vir bater á porta de 4 em 4 anos”. Compreendo a mensagem, mas isso não é exatamente verdade, nem que seja porque há eleições com uma periodicidade bem menor que os 4 anos. Piadas á parte, o contacto do projeto político do PSD, agora com o CDS com a população é muito mais constante . Como os próprios cidadãos assumem, “ eu já dei conta ao presidente da junta/vereador/presidente de câmara/secretário (dependendo do interlocutor, uma destas opções) da última vez que cá passou de que é preciso uma estrada/esgotos/levadas/Casa (ibidem)”. Portanto, o trabalho de proximidade não inibe que o eleitor, e bem, refira-se, seja exigente. Mesmo quando diz que só passamos de 4 em 4 anos.
Lembrei-me disto ao assistir à chegada massiva e deprimente, nas ultimas semanas, de dirigentes políticos nacionais, em princípio como “reforços de peso” para as campanhas partidárias que agora terminam. É vê-los chegando à Madeira, de peito cheio, não resistindo a uma ou outra bacorada reveladora do (quase) total desconhecimento da nossa realidade. Não conseguem esconder, igualmente, um certo desdém pelo nosso povo. “Caramba… como podem estes tipos votar sempre no PPD?”, parecem dizer nas entrelinhas. Só podemos ser “burros”, naturalmente, como de quando em vez alguém do PS desliza publicamente, ou como tantas vezes nos dizem em conversas particulares.
Desta feita, neste Porta-a-Porta quadrienal dos dirigentes partidários lusos, temos assistido a uma nuance. Ao insulto puro e simples à Madeira e aos madeirenses. Como se, inconscientemente, admitissem, por fim, que “bom, Bom” era que a Madeira desaparecesse, e estes estranhos madeirenses fossem deportados para uma qualquer Sibéria Lusa.
Desde logo Ventura. O mesmo que há alguns meses, quando esfregava as mãos com a possibilidade de um arranjo até mais ambicioso que o açoriano, ou seja, com um Chega no Governo Regional ( e tão divertido que seria ver, num mundo alternativo e estapafúrdio, qual dos candidatos “cheganos” seria, por absurdo, Secretário Regional, e já agora de que pasta!!) tecia loas e panegíricos a Miguel Albuquerque, logo acusou o líder do PSD de incompetente, mal soube à chegada que Albuquerque preferia a demissão a se juntar ao partido de direita radical. Ventura , embriagado pela frustração e demagogia, chegou a referir que “A Madeira está hoje destruída”! Um delírio completo, além de gratuita ofensa, de quem não se sabe olhar ao espelho.
Quando a Madeira, com todo o desenvolvimento das últimas décadas, está “destruída”, que se diria do restante território nacional?
Mariana Mortágua também não faltou à chamada. Pouco disfarçando a sua sanha anti-Madeira, destilou alarvidades sobre os nómadas digitais, que têm dado fôlego à economia de concelhos com carências populacionais, em clara alternativa e diversificação face ao turismo, acusando-os da crise da Habitação, sobrando ainda morteiros para os Vistos Gold (apenas 50 na RAM até final de 2022, mas para a radical de esquerda a razão de todos os males) e para o AL, escamoteando completamente que esta Região é a que maior esforço está a empreender na construção de habitação social e de custos controlados para a classe média, com a ressalva para a evidência de que essa construção já está no terreno, e não em projeto. Disse também que os candidatos bloquistas são os legítimos herdeiros “da gente firme e íntegra que nunca se vergou”, remetendo os restantes 98% de madeirenses à condição de agachados, sabujos, tendo por fim equiparado a democracia desta parte de Portugal com o regime Putinista. Esta é a mesma Mortágua que no dia da invasão Russa à Ucrânia dizia, na SIC, que era cedo para condenar a agressão, pois “Zelenski e o seu governo eram um grupo de neonazis que chacinam o seu próprio povo”, certo?
Marisa Matias foi mais longe. Atreveu-se a cruzar o Atlântico, para afirmar que” a Madeira é o exemplo nacional de má utilização dos Fundos comunitários”. Basta ver a Madeira de há 40 anos, e a de hoje, para se perceber que realmente é aqui que os fundos são mal gastos, e não nos arrabaldes comunistas e ex-comunistas do continente, tão do agrado da sra. Eurodeputada. Vá lá que se esqueceu, desta vez, de exigir o fecho da Zona Franca, de onde vêm algumas centenas de milhões de euros precisamente para fazer, manter, conservar, caminhos e estradas, agora que a União Europeia não permite a utilização de fundos comunitários na rede rodoviária.
Já António Costa sentiu a necessidade de marcar o Ponto, sem a pompa e circunstância de há quatro anos. Sem promessas de ferry, nem de obras para acolher o prometido navio no porto de Lisboa. Mal se deu por ele. Parecia aquele emergente social que é obrigado a ir a aniversários da família do campo, entrando e saindo discretamente, para que não o critiquem de abandono, mas de forma que não o associem à “família desvalida”.
Na mesma senda, Paulo Raimundo, o ainda desconhecido secretário-geral do PCP veio à Madeira falar de que “o mundo precisa de paz e não de guerra”, num discurso a lembrar o imperialista concurso de Miss Universo, na vã tentativa de combater aquilo que chama de “mentira e deturpação da posição do PCP face à invasão da Ucrânia” e que outros apelidam de execrável conivência com os crimes de guerra que Putin e seus sequazes perpetram naquele soberano país. Relativamente à Madeira, nada, a não ser que os salários deveriam ser mais altos, algo que até uma candidata a .. miss universo defenderia.
Assim vamos, cantando e rindo, de “Porta-a-Porta” nacional a esta velha casa portuguesa- atlântica , lembrados que somos de 4 em 4 anos, muitos com pouca paciência em nos aturar, e outros, como se viu este ano, optando mesmo por nos insultar.
Domingo as urnas falarão!