(De férias no Porto Santo, assisti ao jogo entre o Sporting e o Benfica, dividida entre o horror e o sentimento de vergonha alheia. É certo que o sol e a praia têm sempre o condão de nos fazer sorrir com maior facilidade mas o que ali se passou é motivo de preocupação. É certo que os sportinguistas têm uma enorme capacidade de sofrimento, mas a derrota não deixa de impressionar essencialmente pela impassividade dos que deviam honrar o símbolo. Assim, não. E, para além da cabeça fria, o que é importante é que se tomem medidas para o futuro porque os mandatos e os vínculos acabam mas o Sporting permanecerá.)

 

Cumprindo a tradição, vim para Porto Santo em Agosto, o mês em que as dificuldades dos que lá persistem em viver são, de certa forma, escondidas, por forma a se tornarem as férias dos que para lá se deslocam mais aprazíveis.

Para os que não sabem, Porto Santo tem, quanto a mim, a melhor praia de Portugal e uma das melhores do mundo, estendendo-se por nove quilómetros de areal dourado, acompanhados por um mar a lembrar as Caraíbas. Para além da famosa praia, é sinónimo de boa gastronomia, mergulho e trilhos. Um pequeno grande paraíso, que consegue agradar a uma multiplicidade de gostos, ainda mantendo muitos dos traços originais.

A pergunta é, portanto, o que é que não tem. E a resposta, sendo evidente para quem conhece a realidade, não é fácil.

Desde logo, sob o espectro da dupla insularidade e dependente das companhias aéreas, a chegada a Porto Santo pressupõe um custo de passagem exorbitante, sendo que o alegado “serviço público” que a TAP afirma fazer se esquece desta parte do território nacional assim que o sol começa a rarear. Muito dependente da Madeira, de onde vem quase tudo o que é indispensável, Porto Santo quase só é lembrado pelos políticos quando se banham nestas águas ou nas eleições.

Não se estranha assim que a ilha permaneça sem hospital, apesar de múltiplas promessas nesse sentido, o que tem como consequência natural que não nasçam crianças aqui. Sob justificações que não convencem, deixou, também, de haver matadouro ou lota, não se produzindo quase nada, tornando os porto-santenses cada vez mais atirados para o turismo que é, por regra, sazonal, tal como o são, aqui, os empregos.

Ser porto-santense é, portanto, uma lição de resistência, cumprida nos meses mais duros, quando o barco que faz a ligação ao Funchal está em reparação e nem sempre os aviões conseguem aterrar na ilha vizinha.

Respondida a questão inicial, de imediato se coloca outra: o que podemos nós fazer para ajudar? Em primeiro lugar, visitar e não se deixar ficar nos hóteis de regime “tudo incluído”. Depois, anunciar. Por último, exigir que lhes sejam dadas as mesmas condições que aos demais mortais. Foi o que decidi fazer, mesmo estando de férias. Porque as minhas férias são o sacrifício deles.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.