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Portugal compra a Espanha 40% do peixe congelado

CEO da Alimentaria diz que Portugal é um mercado estratégico para Espanha alcançar os 220 milhões de consumidores dos PALOP.
20 Abril 2019, 14h00

Saúde, nutrição e tecnologia foram as novidades da última Alimentaria & Horexpo Lisboa, que voltou à FIL no final de março. Nesta edição, que recebeu 24.200 visitantes – mais 5% que no certame realizado em 2017 –, destacou-se novamente a importância das trocas comerciais realizadas entre Portugal e Espanha, atendendo a que as empresas portuguesas do setor são as terceiras maiores importadoras de alimentos e bebidas espanholas. Já em 2017, as exportações espanholas de alimentos e bebidas para Portugal rondaram os 3.428 milhões de euros, mais 9% que no ano anterior.

A presença de produtos espanhóis é particularmente relevante no segmento do peixe congelado, dado que 40% das quantidades vendidas em Portugal têm origem espanhola – sendo que Portugal é o país da União Europeia (UE) com maior consumo de peixe, com 56,8 quilos per capita por ano, refere a Alimentaria. Além disso, Espanha é o décimo mercado para os vinhos do Porto – com 120 mil caixas compradas em 2015, pelo montante de 4,6 milhões de euros.

Em entrevista ao Jornal Económico, o CEO da Alimentaria, Antonio Valls, refere que depois do sucesso em Lisboa, a projeção da gastronomia como valor diferencial é também uma das tendências que a Alimentaria quer reforçar na feira alimentar do próximo ano, em Barcelona.

A Alimentaria 2020 já está  a ser preparada. Que novidades vão ser anunciadas para essa edição?

O evento vai acontecer entre 20 e 23 de abril de 2020, na Fira de Barcelona, e está a ser preparada uma edição única com novos conteúdos, tendo em vista potenciar o seu caráter empresarial, projetar a gastronomia como seu valor diferencial, bem como expressar as últimas tendências na produção e consumo de alimentos e bebidas. A Alimentaria Trends surge como um novo setor para representar segmentos produtivos em voga, como os alimentos delicatessen (Fine Foods), a produção orgânica (Organic Foods), os alimentos sem alergénios (Free From), os produtos Halal (Halal Foods) e funcionais (Functional Foods). Juntamente com todos eles, a Grocery Foods vai reunir empresas de grande consumo alimentar.

O que podem as empresas, esperar em termos de oferta?

A Alimentaria 2020 prevê, em conjunto com a Hostelco, uma ocupação de cerca de 100 mil metros quadrados de espaço de exposição. Além da Alimentaria Trends, a oferta será estruturada em diversos setores-chave, como a indústria de carnes (Intercarn), laticínios (Interlact), enlatados (Expoconser), doces (Snacks, Biscuits & Confeitaria); da dieta mediterrânica, produtos frescos, azeites e óleos vegetais (Mediterranean Foods), e Food Service (Restaurama). Por outro lado, os Pavilhões Internacionais vão juntar toda a oferta internacional e as Terras da Espanha vão fazer o mesmo com a produção autóctone das diferentes comunidades autonómicas espanholas.

Na Alimentaria 2018, Portugal foi o terceiro país que mais visitou a feira, atrás apenas da França e da Itália.

O que procuram os visitantes portugueses na Alimentaria?

Existem produtos espanhóis provenientes de alguns nichos de mercado que têm uma excelente receção no mercado português, como carnes e enchidos, produtos gourmet e condimentos, especialmente ervas e especiarias. Em geral, como o resto dos visitantes internacionais que visitam Alimentaria, os portugueses vão à feira à procura de novas oportunidades de cooperação no mercado internacional e de novos lançamentos com os quais possam seduzir o seu mercado interno.

Que empresas portuguesas participaram na Alimentaria 2018 em Barcelona?

As empresas portuguesas e organismos de promoção que participaram na Alimentaria 2018 pertencem principalmente aos setores dos doces, restauração, produtos gourmet e laticínios. Sweets & Sugar S.A, Prisca Alimentação, Associação Integralar (Portugal Foods), DDO – Derivados de Ovos, lda (Derovo), Diatosta, Panicongelados Massas Congeladas S.A (Panidor), Novadolci lda (Pastelaria e Confeitaria Rolo, lda), Panike – Indústria de Produtos Alimentares Congelados S.A, 100 Doçuras Pastelaria lda e LA – Produtos Lácteos lda, entre muitas outras, participaram na Alimentaria 2018.

Para 2020, está confirmada a presença da Associação Intergralar (Portugal Foods) na Alimentaria. Em que se traduz esta presença para as empresas da indústria agroalimentar portuguesa?

Portugal é um dos mercados de proximidade preferidos do mercado espanhol e oferece muitos produtos e serviços de qualidade que, naturalmente, vão ter um lugar de destaque na Alimentaria. No total, vão ocupar cerca de 1.100 metros quadrados de espaço de exposição. Estamos muito satisfeitos com a crescente participação de empresas portuguesas na feira, o que é também um sinal inconfundível da força e do potencial da indústria alimentar portuguesa, cuja oferta tem vindo a tornar-se mais sofisticada nos últimos anos, mantendo um elevado nível de preços muito competitivo. A Portugal Foods tem um papel muito importante nesta conquista.

Tem seguido de perto a evolução das empresas portuguesas do setor alimentar. Como caracteriza o mercado português?

Portugal é um mercado estratégico para a indústria alimentar espanhola e também para os países que têm interesses comerciais nas suas áreas de influência, nomeadamente no mercado de mais de 220 milhões de consumidores dos países de língua portuguesa.

Tal como em Espanha, a comida é uma das principais indústrias do país e a culinária portuguesa é reconhecida internacionalmente pela sua qualidade e pela criatividade dos seus chefs. A isto, soma-se o facto de Portugal ter sido um terreno fértil para a inovação. Da mesma forma, a restauração e a hotelaria – profundamente enraizadas em Portugal – estão num momento imbatível, registando um crescimento importante e batendo recordes.

Qual a percentagem de compras que os portugueses destinam à alimentação?

Os portugueses destinam mais de 15% do seu carrinho de compras a alimentos e bebidas, e quase 10% das despesas são feitas em hotéis, restaurantes, cafés e estabelecimentos similares.

A Alimentaria decorre novamente em parceria com a Hostelco. De que forma é que a hotelaria mexe também com o negócio do setor alimentar?

Pela segunda vez, a Alimentaria vai realizar-se em parceria com a Hostelco para oferecer à indústria alimentar e às estruturas hoteleiras a maior oferta transversal e uma plataforma de internacionalização, negócios e inovação. A gastronomia contribuiu decisivamente para que Espanha se tornasse uma potência alimentar de primeira ordem. A admiração internacional despertada pela cozinha mediterrânica aliada à força do setor turístico espanhol são dois ativos essenciais que a indústria alimentar deve continuar a aproveitar para crescer e se internacionalizar. A Alimentaria quer destacar a relação entre as indústrias alimentares, de turismo e gastronomia – juntas correspondem a 25% do PIB espanhol – e, acima de tudo, recuperar e impulsionar o potencial económico por trás dela.

A indústria alimentar é o maior setor de produção da União Europeia (UE)

em termos de volume de negócios. Em termos de criação de emprego, este é também um setor-chave?

Em Espanha, mais de meio milhão de empregos diretos colocam a indústria alimentar e bebidas como uma posição estratégica e estável na criação de emprego. Com um aumento de 5,2% em 2018, face ao ano anterior, os dados de empregabilidade do setor foram os melhores desde 2008, o que vem reafirmar o status da indústria alimentar e bebidas como empregador e elemento essencial para o desenvolvimento de todo o território nacional. Os dados da Food Drink Europe revelam que a indústria e alimentos e bebidas emprega 4,24 milhões de pessoas em toda a UE, o que mostra que este é um setor fundamental na criação de empregos na Europa.

Sobre a Alimentaria & Horexpo Lisboa 2019, considera que superou a edição do ano passado?

A Alimentaria & Horexpo Lisboa  2019 reafirmou-se a maior feira realizada em Portugal, na área da alimentação, restauração e hotelaria e a que melhor responde aos interesses e necessidades deste setor. Participaram cerca de 800 expositores, de forma direta ou agrupada, representando mais de 2.400 marcas.

Que países marcaram presença este ano?

Conseguimos 38% de participação internacional, com a presença de países como Espanha, Itália, França, China, Brasil, Polónia, Alemanha, Áustria, Suíça, Holanda, Peru, Tailândia, Bélgica, Luxemburgo, México e Bulgária.

Este ano foram definidos novos eixos estratégicos, como é o caso da saúde e nutrição. De que forma as empresas do setor podem dar resposta a estas preocupações de consumo?

O consumidor médio tem vindo a procurar, em proporções históricas, produtos mais saudáveis e, ao que tudo indica, a alimentação saudável vai continuar a ganhar peso como grande pilar da dinamização do consumo. No entanto, a nossa sociedade continua a manter uma das maiores taxas de excesso de peso e obesidade. É uma contradição que se explica com o preço, que é considerado um dos entraves dos consumidores na hora de escolher um carrinho de compras saudável. Na Alimentaria, trabalhamos no sentido de alinhar a cadeia alimentar com o compromisso de oferecer e promover uma dieta mais saudável e acessível a todos.

Como pode a tecnologia ser aplicada ao setor agroalimentar, na perspetiva do consumidor?

É de vital importância que a sociedade conheça os benefícios do de­senvolvimento da tecnologia aplicada ao setor alimentar, tanto na disponibilização de boa comida, como na saúde das pessoas, do meio ambiente e da economia. As inovações tecnológicas na indústria alimentar tiveram sempre um impacto positivo na sociedade e desempenham um papel decisivo no âmbito da alimentação. A tecnologia permite aumentar a qualidade dos produtos, ter uma maior variedade de alimentos ao longo do ano (mesmo fora de época), prolongar a vida útil dos alimentos e prepará-los para cozinhar ou consumir, de maneira fácil, confortável e adaptada a diversos estilos de vida.

A tecnologia e inovação fazem já parte da estratégia da maioria das empresas do setor, ou ainda há um longo caminho a percorrer?

Com a melhoria da conjuntura económica, os fabricantes alimentários aceleraram os lançamentos de novidades, mas é verdade que muitas dessas novidades lançadas ao mercado desaparecem logo em seguida. A inovação é, antes de mais, uma obrigação para a indústria alimentar e não há melhor maneira de o fazer do que de mãos dadas com o consumidor, ouvindo as suas preferências e necessidades.

O que tem definido os novos lançamentos de produtos neste setor?

Os principais drivers na alimentação e bebidas continuam a ser a saúde e a conveniência, seguidos pelo prazer. Mas uma das características que cada vez mais define os lançamentos do setor é sofisticação: pratos preparados (conveniência) com ingredientes orgânicos (saúde), tabletes de chocolate com atributos de prazer, premium e ecológicos, sumos (prazer) com adoçantes naturais (saúde).

Artigo publicado na edição nº 1983 de 5 de abril do Jornal Económico

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