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“Portugal crescer menos que a Espanha é incompreensível”, diz o Fórum para a Competitividade

O segundo semestre está ameaçado pela conjuntura internacional, em clara deterioração, alertam os economistas do Fórum liderado por Pedro Ferraz da Costa. Os riscos de recessão são superiores na zona euro do que nos EUA.
2 Setembro 2019, 15h47

Em Portugal, no segundo trimestre de 2019, o PIB estabilizou nos 1,8%. Este nível de crescimento continua a ser muito baixo, e muito mais fraco do que os países da União Europeia com igual nível de desenvolvimento, diz a nota de conjuntura do Fórum para a Competitividade.

Os economistas destacam aqui o caso da Hungria (5,1%) e da Polónia (4,1%), que, dizem, estão em vias de ultrapassar Portugal, com resultados muito superiores aos nossos. Neste grupo, pior do que Portugal, só a Grécia. “Crescer menos que a Espanha (2,3%) é incompreensível”, diz o Fórum.

A nota de conjuntura de agosto destaca que se registou uma desaceleração quer do consumo, quer do investimento, a par de uma melhoria das exportações. “Como nota positiva, é de referir uma aceleração da produtividade, de 0,3% para 1,0%, que deverá estar relacionada com a dificuldade de contratar novos trabalhadores”, reconhecem os economistas do Fórum.

O segundo semestre está ameaçado pela conjuntura internacional, em clara deterioração, alertam os economistas do Fórum liderado por Pedro Ferraz da Costa. Os riscos de recessão são superiores na zona euro do que nos EUA, mas, “infelizmente, é também na zona euro que existe menos margem, monetária e orçamental, para contrariar a eventual recessão”, constatam os economistas.

Na zona euro, o BCE poderá ainda tentar novas medidas, mas é improvável que consigam produzir grandes efeitos, refere a nota. Isto porque, em termos orçamentais, “os países que podem realizar estímulos, como a Alemanha, não os querem fazer, e os que gostariam de os aplicar, na Europa do Sul, não os podem fazer”, referem os economistas do Fórum.

Há a possibilidade de um pacote de estímulo orçamental na Alemanha, de 50 mil milhões de euros (1,4% do PIB), mas parece haver ainda alguma relutância em o aplicar, em particular devido à oposição do Bundesbank.

Até Junho de 2019, o défice externo subiu para 2.600 milhões de euros, face a 1.678 milhões no período homólogo, interrompendo a deterioração sucessiva deste indicador, face ao mês anterior. A subida do défice externo face ao período homólogo deve-se à deterioração na balança de bens (1.727 milhões) e estabilização na balança de serviços. “Em relação ao mês anterior, houve alguma melhoria, já que o défice da balança de bens não subiu tanto e deixou de se registar uma deterioração na balança de serviços. Ou seja, estamos ainda com valores piores do que nos anos anteriores, mas não em deterioração sucessiva”, refere a nota.

Os economistas destacam ainda que no segundo trimestre de 2019, a taxa de desemprego em Portugal caiu de 6,8% para 6,3%, com uma significativa queda do número de pessoas desempregadas, quer em termos trimestrais (-7,1%), quer homólogos (-6,6%).

Estes números, diz a nota, reforçam as estimativas de “taxa natural de desemprego” entre os 6% e 7%, “sendo cada vez mais difíceis novas diminuições do desemprego, a menos de significativas – e necessárias – alterações na formação profissional, mais dirigida às necessidades concretas da economia”, conclui o Fórum.

A nota traça ainda o retrato da remuneração salarial em Portugal. A remuneração bruta mensal média por trabalhador aumentou 3,4% no segundo trimestre de 2019, em termos homólogos. Em termos reais, descontado o efeito da inflação, o aumento foi de 2,8%. Já a Retribuição Mínima Mensal Garantida aproximou-se da remuneração bruta mensal regular, tendo passado de 55,9% deste montante, no 1.º semestre de 2014, para 63,0% no 1.º semestre de 2019.

Destaque para o facto de o salário mínimo ser já 92% da remuneração média nas actividades administrativas, 89% na agricultura e 87% no alojamento e restauração. “Estes três sectores, no seu conjunto, representam cerca de 20% do total do emprego, sendo os que estão em maior risco com subidas extraordinárias do salário mínimo”, refere a nota.

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