Os diferentes setores da fileira moda têm crescido de forma sustentada, depois de ultrapassado o impacto da liberalização do mercado mundial e, mais recentemente, da crise económica em Portugal e na Europa. Este crescimento é notório, sobretudo, no valor das exportações, que no caso do têxtil e vestuário superou, em 2017, os 5.237 milhões de euros, no calçado quase 2.000 milhões de euros e na joalharia/ourivesaria é já de 71 milhões de euros (em 2010, era apenas de 20 milhões de euros).
Apesar destes números serem reconfortantes, creio que a internacionalização da fileira moda pode ir ainda mais longe com uma estratégia integradora dos diferentes setores. Não tenho dúvidas de que a promoção internacional dos quatro setores (têxtil, vestuário, calçado e joalharia/ourivesaria) em conjunto seria mais eficaz, porquanto se focaria na imagem fortemente apelativa de Portugal como um país de moda. Parece-me estrategicamente coerente promover a moda portuguesa como uma marca única, realçando as mais-valias comuns aos quatro setores: qualidade dos produtos, design, tecnologia e capacidade produtiva (rapidez na entrega).
De resto, o Portugal Fashion, cuja 42.ª edição se iniciou no sábado em Lisboa e prossegue de 22 a 24 deste mês no Porto, já segue esta estratégia integradora dos diferentes setores da moda. No seu showroom, o evento vai até mais longe na abrangência setorial, incluindo, como me parece pertinente, setores com ligações à moda, como as indústrias criativas, a cosmética, os acessórios e o lifestyle. Todos estes setores contribuem, de alguma forma, para a imagem de Portugal como um país de moda.
Por outro lado, a fileira moda deve apostar mais decisivamente no mercado do luxo, que está em forte crescimento devido ao consumo dos países emergentes e que, em Portugal, segundo informações de especialistas, já vale quase 5% do PIB, cerca de 9.000 milhões de euros. Esta aposta no segmento premium implica que os setores da fileira moda continuem a subir na cadeia de valor, não tanto para produzirem para marcas de luxo internacionais mas, sobretudo, para criarem produtos de gama alta (marca + qualidade + design) que sejam competitivos no mercado externo.
O boom turístico em Portugal é uma boa oportunidade de crescimento para o mercado do luxo, pois cerca de metade das compras neste segmento são realizadas em viagem, quer nos locais de destino, quer nos aeroportos. Mas o futuro do mercado do luxo é o digital, um canal cada vez mais utilizado por consumidores de elevado poder de compra.
Como prova a Farfetch, o e-commerce de produtos de moda de luxo tem grande potencial de crescimento, pelo que marcas e criadores devem adotar novos modelos de negócio baseados no digital, embora mantendo a tradição da manufatura. Cada vez mais, o hand made é altamente valorizável e Portugal deve explorar esta sua vasta tradição e experiência, como valor acrescentado.