Alex Ferguson após uma vitória inesperada contra o Bayern Munich em 1999 terá proferido a seguinte frase: “I can’t believe. I can’t believe. Football, bloody hell.” Neste último fim de semana, após o adiamento do Sporting-Famalicão, tive vontade de citar Sir Ferguson, mas com outro tipo de sentimento.

Há meses que as forças de segurança pública se encontram em luta por um tratamento justo e merecido no que diz respeito ao alinhamento dos suplementos remuneratórios com os da Polícia Judiciária. Há meses que a maioria da população portuguesa pouco ou nada se indigna face à injustiça ou apoia estes agentes.

Contudo, num momento em que esta luta por direitos perturba a religião mais sagrada deste país – o futebol, repentinamente houve ação. É lamentável que seja necessário perturbar um evento de entretenimento do país para que haja mais atenção ao protesto em curso.

Certamente, o protesto em curso já impactou várias outras atividades com interesse para a população civil. Alguém questionou que outros eventos ou iniciativas ficaram de se realizar ou se realizaram em condições menos do que ideais? Confesso que só me recordo deste incidente. Mesmo a mensagem deixada a respeito da perturbação das eleições legislativas do dia 10 de março parece ter tido menos impacto do que um jogo da primeira liga de futebol.

Não só me preocupa a apatia da população civil em observar e dar nota da importância dos assuntos de stakeholders de relevo da nossa sociedade, mas também a forma como os agentes e seus dirigentes foram alvo de comentários menos positivos por parte dos seus concidadãos.

Faço uso das palavras de um dos representantes da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP/PSP) temos uma polícia “low cost”. Aliás, temos um país “low cost” em que são poucos os profissionais que auferem salários dignos e justos. Esta vulnerabilidade remuneratória tem impacto nefasto em toda a sociedade.

No que diz respeito às forças de segurança, o tema é de preocupação pois um país sem segurança não é um país onde eu queira viver. Gostamos muito de citar os rankings dos países mais seguros do mundo, mas tal só é possível porque temos estes agentes a zelar pela nossa sociedade.

Assim, deveríamos apoiar os mesmos e alinhar com uma luta que afeta todos de forma direta ou indireta. Os agentes de segurança pública são uma peça fundamental para uma sociedade segura, produtiva e feliz. Por mim, estou disposta a prescindir de um ou outro jogo de futebol como forma de apoio a estes profissionais muitas vezes ignorados (e eu sou adepta do Sporting…). Porque o futebol pode permanecer um “Bloody hell” mas prefiro que as ruas sejam seguras.