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“Portugal? Língua é uma vantagem mas não chega”

Ideia foi defendida por N’Gunu Tiny, CEO do Grupo Emerald. Este empresário considera que Portugal deve ter uma estratégia de longo prazo para África.
1 Junho 2025, 08h00

Em 2080, três em cada dez pessoas vão estar em África. Assim, a oportunidade é evidente e daí que seja importante que os países construam estratégias de longo prazo no continente africano. E se Portugal considera que a língua pode constituir uma vantagem que dispensa qualquer tipo de estratégia, vai cometer um erro. A reflexão foi deixada pelo empresário N’Gunu Tiny, CEO do Grupo Emerald, no painel “Desafios e oportunidades no mercado africano”.

“Angola oferece hoje a Portugal uma plataforma única e estável de acesso ao continente”, afirmou, deixando contudo, o alerta de que Portugal tem de ter uma estratégia de longo prazo para África, e onde a questão da língua é uma vantagem, mas não chega. É necessário criar instrumentos que facilitem a troca de capitais entre Portugal e Angola, tal como acontece entre os países europeus”, referiu.

Sobre a complementariedade económica, o CEO destacou o facto de Portugal ter acesso ao mercado europeu, algo que “traz uma estabilidade e confiança únicas”, enquanto Angola tem recursos naturais e está a viver “um bom momento de crescimento económico”, salientando que Portugal tem também uma experiência setorial relevante, dando o exemplo de áreas como a construção.

IA e um salto de décadas
Presente neste painel, o historiador Jaime Nogueira Pinto alertou para as “grandes divisões tribais e religiosas” que ainda afetam o continente africano.

“O problema das lealdades políticas em muitos destes países ainda vai para a tribo. A vantagem de Angola é que esse lado tribal desapareceu quase por completo”, sublinhou, realçando também a situação política que se vive em Moçambique no período pós-eleições de 2024.

Para o historiador, o mundo caminha para uma época que será dominado pelos interesses dos grandes estados como a China e Estados Unidos. “Isso é uma revolução”, afirmou, assumindo que em África haverá uma quebra da chamada ajuda ao desenvolvimento e como tal a complementaridade entre África e a Europa “é muito importante”.

Já N’Gunu Tiny defendeu que aquilo que África tem para oferecer ao continente europeu é o mercado, ou seja as pessoas. “Em 2080, África terá 3.42 mil milhões de pessoas, o mundo terá 10.4 mil milhões. Três em cada dez pessoas vão estar em África”, afirmou, salientando que a Europa não se fez só com mercado, também se construiu com a democracia. “E esse é um problema para o qual as pessoas olham para África”, realçou.

Uma das componentes que poderá ajudar a revolucionar o continente africano é a Inteligência Artificial. “África pode usar a IA para dar um salto em várias etapas, onde a Europa demorou décadas”, afirmou.

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