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Portugal na Europa à caça de gigafábrica de IA de sete mil milhões

Bruxelas quer instalar cinco centros de dados de IA na Europa para concorrer com EUA e China. Portugal ambiciona ter um deles, contando com várias mais-valias.
13 Junho 2025, 07h48

Portugal está na Europa à caça de uma gigafábrica para alimentar a vaga mundial de Inteligência Artificial (IA). O país prepara-se para entregar até 20 de junho a sua candidatura a fundos europeus para financiar este projeto com 1 gigawatt de potência. O dossier de candidatura está a ser produzido pelo Banco Português de Fomento (BPF) e será entregue até ao final da próxima semana.

“O Banco de Fomento tem estado a liderar esse processo e a tentar angariar investidores. O mais provável será” a criação de um “consórcio” com várias empresas para investir no projeto e depois gerir o centro de dados, disse ao Jornal Económico Luís Pedro Duarte, presidente da Associação Portuguesa de Centro de Dados – Portugal DC.

Até 20 de junho, será entregue uma “carta de intenções”, para apresentar a “narrativa” de Portugal, contendo o “plano de negócios” do projeto. O BPF lidera o processo na primeira fase, com a Portugal DC a entrar na segunda fase como conselheiros.

Sobre o nível de investimento necessário para este centro de dados, Luís Pedro Duarte disse não ter uma estimativa oficial, mas aponta que o Start Campus em Sines pode servir como referência: o projeto Sines DC representa um valor de investimento de 8,5 mil milhões de euros para construir 1,2 gigawatts, o que coloca este projeto de 1 gigawatt a rondar os sete mil milhões.

Noutros países da Europa, a candidatura está a ser preparada diretamente por consórcios de privados, que concorrem diretamente, mas em Portugal é o BPF a liderar o processo, não havendo ainda um consórcio formado.

“O Banco de Fomento também estará disponível para entrar com capital”, segundo Luís Pedro Duarte que adianta que esta será uma das fontes de financiamento, a par dos fundos europeus que poderão vir da candidatura e do investimento das empresas do consórcio.

“Depois têm de ser os próprios investidores que se conseguirem aliar em consórcio, onde haja interesses comuns para este tema: acreditamos que podem ir desde indústrias a fundações de investigação” com cada um a “contribuir de acordo com as suas possibilidades orçamentais”, aponta.

Em fevereiro, a União Europeia anunciou um pacote de 50 mil milhões de euros para financiar as ambições europeias na inteligência artificial, como forma de combater o avanço dos EUA e da China na tecnologia.

“Queremos mobilizar um total de 200 mil milhões de euros para investimentos de IA na Europa”, disse Ursula von der Leyen em fevereiro, um valor abaixo dos 500 mil milhões de dólares de investimento nos EUA neste setor.

Dos 50 mil milhões europeus, 20 mil milhões destinam-se a financiar até cinco gigafábricas de IA no bloco europeu, a que se juntam outras sete unidades já anunciadas.

E quais as mais-valias de Portugal para captar este investimento? “Acreditamos que temos bons argumentos: condições de conetividade [incluindo cabos submarinos] e a forte presença de energias renováveis. Temos fortes argumentos para conseguir ter uma boa candidatura”, defende Luís Pedro Duarte.

Sobre a localização possível deste projeto, o responsável sublinha que existem mais localizações além de Sines, e que a Portugal DC poderá ser útil nesse processo, devido ao “conhecimento técnico” e à “experiência dos associados e administradores”.

Sobre se algum dos seus associados já mostrou interesse em integrar o consórcio, responde que ainda não. “Acreditamos que no seguimento da primeira fase possa vir a acontecer”.

E o consórcio será constituído por empresas que usem o serviço (hyperscalers) ou investidores para venderem capacidade? Luís Pedro Duarte acredita que poderá haver um “mix dos dois. Há uma parte que interessa aos próprios países devido à agenda da soberania digital, e haverá espaço para dados nacionais. Mas também pode haver a prestação para terceiros”.

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