As últimas semanas têm sido pródigas em reportagens sobre cidadãos brasileiros que encontraram em Portugal a sua nova casa, ou que procuram vir para o nosso país em busca da estabilidade política e da segurança que não têm na sua terra.

Há alguns meses, a opção de Madonna por adquirir casa em Portugal fez furor, com aberturas de telejornais e chamadas de capa em jornais de referência. Também o ator Michael Fassbender escolheu Portugal para comprar residência, por módicos 2 milhões de euros. Estes são factos. Noticiados. Para muitos, o sol, as praias, a simpatia das gentes tiveram grande influência para tais escolhas. Ora, isso é redutor, quase tão redutor como o “Fado, Futebol e Fátima” de outros tempos. Portugal é mais, e tem mais para oferecer.

Não faltam no mundo regiões onde o sol seja tão quente e presente como em Portugal. Nem países com populações simpáticas e tradições gastronómicas e culturais riquíssimas. Se queremos que o nosso país perdure enquanto destino turístico e importante polo de atração de investimentos na área do imobiliário importa, antes de mais, perceber os porquês.

Três fatores são fundamentais para este boom: a sua situação geopolítica, o regime fiscal e as políticas de atração de investidores. Estes sim, são pontos que merecem atenção e que os responsáveis políticos podem e devem potenciar. Importa perceber o que leva o nosso país a ser procurado por quem realmente traz valor acrescentado ao Turismo nacional e no setor Imobiliário, atividade que representa cerca de 95% dos investimentos internacionais mencionados para a obtenção dos Vistos Gold.

Longe dos conflitos que amedrontam os povos do Mediterrâneo Oriental, e sem as terríveis imagens de milhares de pessoas que chegam às praias do sul de Itália, Grécia ou Espanha, não é por acaso que o Índice Global de Paz, realizado pelo Instituto para a Economia e Paz, coloca Portugal no terceiro posto entre os países mais seguros do mundo.

É isso que procuram os franceses que chegam ao nosso país cada vez em maior número, interessados em investir no Turismo ou na Construção. A própria Câmara de Comércio Luso-Francesa aponta para um forte crescimento no registo de sociedades com capital francês, já a atingir as quatro centenas. Some-se igualmente o desejo de encontrar um sistema fiscal mais benevolente e está preparada a receita para a “invasão” francófona do nosso país.

Também o Brexit trouxe consequências. No âmbito do imobiliário de luxo, e não por acaso, segundo dados da Confidencial Imobiliário, os britânicos representam 31% do total de transações em turismo residencial no nosso país, à frente dos franceses, com 19%. No caso do Algarve Central (eixo Albufeira-Loulé), que representa 44% do turismo residencial em Portugal, o investimento oriundo daquele país atinge os 46% e vale, em média, 2,1 milhões de euros por operação.

Escrevia no início deste texto sobre a crescente procura de brasileiros pelo nosso país. Os consulados portugueses nas principais cidades do Brasil estão sem mãos a medir perante tantos pedidos de residência. E o que tem Portugal para oferecer, sem ser o sol, comida e simpatia, aspetos que, por certo, o Brasil não perde para nós? Respondo com uma ARI do mais completa que existe à escala europeia, de uma segurança como poucos países têm, sem esquecer a língua, a similitude cultural e um sistema fiscal que não pretende saquear os seus cidadãos.

É também essa vantagem fiscal que tem atraído cidadãos escandinavos. Este movimento demográfico chamou mesmo à liça responsáveis políticos suecos, que acusaram Portugal de concorrência desleal. Conversa algo hipócrita, até porque não é comum ouvirem-se vozes a levantar-se contra os regimes fiscais oferecidos a empresas pela Irlanda, Holanda ou Luxemburgo.

E do Magrebe e Médio Oriente chegam dissidentes que fogem à guerra, ao caos e à perseguição política, e procuram em Portugal meio de entrada no espaço europeu, conhecedores do ARI e das suas vantagens. Até cidadãos iranianos aproveitam os sinais de abertura dados pelo governo para colocar as poupanças noutras culturas, onde possam capitalizar o seu potencial financeiro e intelectual.

São estes os aspetos que importa referir quando defendemos Portugal, o seu Turismo e Imobiliário, setores indelevelmente interligados e dependentes. Não nos podemos resumir a chavões, que apenas contam uma parte da história, argumentos que nos fortalecem mas não valorizam. Estamos na moda, mas não queremos nem podemos ser apenas uma moda. Os 7% que o Turismo já vale para o PIB nacional e os investimentos externos em imóveis a chegar aos 4 mil milhões de euros em 2017 não permitem veleidades.

É apenas isso que pedimos, responsabilidade política e sentido de Estado. Não estraguemos o que de bom foi feito nos últimos anos apenas por pressões corporativas ou ideológicas.