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“Portugal poderá produzir gás natural em menos de cinco anos”

A Australis está confiante que o país poderá vir a exportar gás, garantindo partilhar com as autoridades locais parte dos ganhos futuros.
5 Março 2019, 07h30

O presidente executivo da Australis está confiante que existe gás natural em quantidade suficiente em  Portugal, para a sua exploração ser comercialmente viável. Ian Lusted garante que a companhia vai partilhar os eventuais ganhos futuros com os autoridades locais. A Australis aponta que o gás natural que, eventualmente, venha a ser produzido em Portugal é menos prejudicial ao ambiente do que as atuais importações que o país realiza a partir de países como a Argélia ou a Nigéria.

É possível prever que Portugal se venha a tornar um produtor de gás natural em 10 anos? Portugal pode vir a ser um país exportador?

Se as sondagens confirmarem as nossas expetativas, Portugal poderá tornar-se num produtor de gás natural em menos de cinco anos, mas os factos de que dispomos atualmente não nos permitem compreender se Portugal pode tornar-se num exportador líquido a curto ou médio prazo. É importante lembrar que a utilização de gás natural em Portugal está a aumentar e este é importado a partir do Norte de África, via gasodutos, ou através de GNL, a partir de uma variedade de locais. Estas fontes de importação de gás são caras para o país. Além disso, o GNL, por exemplo, tem uma pegada de carbono muito maior do que o gás de gasoduto, uma vez que tem de passar por processos de arrefecimento, transporte e regaseificação. O gás natural é também explicitamente destacado na política energética portuguesa como uma componente chave para atingir as metas ambientais estabelecidas para 2030 e 2050. É muito importante o fornecimento de gás a nível interno, porque isso é totalmente consistente com a política energética portuguesa e os seus objetivos, além de que vai garantir segurança no fornecimento de uma fonte de energia crucial durante a fase de transição para as metas ambientais de longo prazo. Estas operações também geram benefícios comerciais para as comunidades locais. Os poços perfurados anteriormente nessas áreas demonstraram isso mesmo.

Na sua opinião, quais seriam as vantagens para Portugal se o país se tornasse num produtor de gás natural?

No lado ambiental, o fornecimento interno de gás natural garante uma pegada de carbono muito inferior à de outras energias, como o carvão ou mesmo o gás natural importado, principalmente via GNL, e isso é um ativo primordial para cumprir os objetivos de Paris 2050. A nível económico, para o consumidor, os preços do nosso gás podem ser menores, porque os custos de transporte quase desapareceriam, mas isso depende dos distribuidores. E é normal que, para ganhar quota de mercado, vendamos esse ativo por um preço menor ao distribuidor. Numa perspetiva macro, reduzirá o défice da balança comercial portuguesa e aumentará as reservas energéticas nacionais. É muito importante também mencionar os ganhos numa perspetiva local, porque acreditamos que este projeto poderia ser muito benéfico para a comunidade local. Em caso de sucesso, garantimos que vamos partilhar com as autoridades locais parte do valor gerado pelas nossas operações.

Em comparação com os Estados Unidos e a Austrália, a Australis considera que existe muita burocracia em Portugal?

O processo para obter aprovação para este tipo de operações em Portugal é mais demorado do que em algumas outras jurisdições, mas estas operações são muito comuns e consideradas rotineiras, por exemplo, nos EUA. A Australis reconhece e respeita a legislação de todas as jurisdições onde opera e sempre cumprirá todos os requisitos legais de cada país.

A Australis pretende realizar qualquer tipo de técnicas ambientalmente mais polémicas como o fracking?

Os nossos projetos em Portugal são de natureza puramente convencional. A Australis não solicitou autorização para o uso de técnicas de fraturamento hidráulico para os poços sujeitos à avaliação ambiental em curso, nem tem planos de, no futuro, solicitar a necessária aprovação para estimular poços com essas técnicas. Todas as indicações que temos são de que, da forma como projetamos os poços, o gás irá fluir, a taxas comerciais, sem qualquer estimulação artificial, ou fracking. Por isso, o fracking não faz parte do nosso plano. Se os poços verticais demonstrarem algo diferente das nossas expetativas, os poços horizontais já não serão perfurados.

O Parlamento recomendou o cancelamento destas concessões. Como é que analisam esta recomendação?

A Australis não comenta decisões políticas.

Como é que a Australis olha para o recuo da Galp/Eni no Alentejo, e para o cancelamento de contratos por parte do Governo, no caso da Repsol ou da Portfuel?

A Australis não comenta decisões de outras empresas ou do Governo.

A Australis considera que existe um mau clima para as empresas estrangeiras investirem em Portugal na área do petróleo e do gás natural?

A Australis só fala por si. E estamos firmemente convencidos de que vale a pena estudar e explorar estas concessões, pois esperamos que os estudos demonstrem o seu potencial comercial. Estamos empenhados em cumprir os nossos contratos.

Nos encontros que a Australis tem com investidores, qual a opinião que os investidores estrangeiros têm do clima para investir em Portugal?

A Australis tem contatos regulares com sua a base de investidores na Austrália, na Ásia e na Europa. Durante estas reuniões, discutimos toda a nossa base de ativos, incluindo Portugal. Existe um reconhecimento do ambiente regulamentar complexo na Europa, mas a nossa base de investidores apoia fortemente a oportunidade que Portugal apresenta e está empenhada em que a empresa cumpra as suas obrigações legais e inicie as operações.

A Australis tem tido encontros com o Governo sobre estas concessões? Qual o ‘feedback’ que a Australis tem tido do Governo sobre as duas concessões?

A Australis está em contacto regular com as autoridades portuguesas. Consideramos que é do interesse de Portugal a descoberta de gás natural no país, quer pelas razões económicas já explicadas, mas também porque o gás natural é um bem essencial para Portugal cumprir os compromissos ambientais de Paris.

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