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Portugal emite dívida a curto prazo na semana em que juros da dívida portuguesa a 10 anos voltam a subir

O IGCP realiza esta quarta-feira um leilão duplo de dívida a curto prazo. Analista acredita que a emissão deverá ter um custo menos negativo face ao leilão anterior, mas que a procura deverá superar a oferta, já que “muitos investidores poderão recorrer à dívida de curto prazo para salvaguardar os seus investimentos” num momento de volatilidade.
Cristina Bernardo
18 Março 2020, 07h50

O IGCP – Agência de Gestão da da Tesouraria e da Dívida Pública vai realizar esta quarta-feira um leilão duplo de Bilhetes do Tesouro a seis e 12 meses, com um montante indicativo global de entre 1.250 milhões e 1.500 milhões. A colocação ocorre numa altura em que os investidores procuram ativos-refúgio devido à crise provocada pelo Covid-19, o que tem levado as yields dos países periféricos a subirem.

No mercado secundário, os juros da dívida portuguesa continuaram nesta terça-feira a subir significativamente a dois anos, para terreno positivo, e a cinco e a 10 anos para máximos, em relação a segunda-feira, alinhados com os de Espanha e Irlanda. Às 17h, os juros da dívida a 10 anos negociava nos 1,222%.

“Nos últimos dias, com o alastrar do vírus a nível mundial e o estrondoso sell-off no mercado acionista, muitos investidores deram sinais de necessitar de liquidez e optaram por vender os seus ativos de refúgio e, por isso, assistimos a uma desvalorização do ouro e à subida dos juros da dívida na zona euro. Apesar disso, creio que deveremos esperar uma emissão de dívida a um custo mais elevado do que tem sido um custo recente”, antecipa David Silva, analista da corretora Infinox, ao Jornal Económico.

No último leilão comparável, a 15 de janeiro, Portugal emitiu 1.750 milhões de euros em dívida a seis e 12 meses, o montante máximo pretendido, tendo pago taxas de -0,487% e -0,482%, respetivamente. O analista da Infinox acredita que Portugal deverá pagar um custo menos negativo pela emissão esta segunda-feira. “A recente subida dos juros da dívida portuguesa, a emissão deverá ter um custo menos negativo, comparativamente com aquilo que têm sido as últimas emissões de dívida de curto prazo, uma vez que a um ano estamos a níveis de setembro de 2019 e a seis meses, nos níveis de maio de 2019”, refere.

“Em termos de procura, considero que irá superar a oferta do IGCP, uma vez que, em momentos de maior volatilidade, a dívida estatal é sempre um ativo a ter em consideração por parte dos investidores, ainda mais, num momento em que a queda generalizada se deve a um efeito de um vírus (que se espera momentâneo) e não por razões económicas. Então, creio que muitos investidores poderão recorrer à dívida de curto prazo para salvaguardar os seus investimentos”, sublinha.

Na quarta-feira passada, Portugal emitiu um total de 1.181 milhões de euros num leilão duplo de Obrigações do Tesouro (OT) a cinco e 10 anos, tendo pago uma taxa mais alta na maturidade benchmark, num período de volatilidade nos mercados financeiros devido ao surto do novo coronavírus.

Segundo o programa de financiamento para 2020, o Tesouro prevê que o montante das necessidades de financiamento líquidas do Estado no ano de 2020 deverá situar-se em cerca de 9,5 mil milhões de euros, com 1,3 mil milhões de euros através de dívida a curto prazo.

No primeiro trimestre, o IGCP prevê angariar até 4.500 milhões de euros na emissão de dívida a curto prazo, sendo que 66,67% destas necessidades de financiamento já foram cobertas pelos leilões realizados em janeiro e fevereiro.

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