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Portugal tem de “investir em infraestruturas mais modernas” para cumprir metas de gestão dos resíduos

Esta semana celebrou-se o Dia do Combate à Poluição e o Jornal Económico quis saber em que pé está Portugal no que refere as metas da gestão e tratamento de resíduos, bem como os custos que estes acarretam para a economia. António Guerra, partner da ERA Group, explica ao JE como o país pode gerir resíduos de forma eficiente e mitigar os riscos de poluição ambiental.
16 Agosto 2024, 11h51

Quais as preocupações que Portugal deve ter sobre a gestão de resíduos?
As duas preocupações principais devem ser garantir tanto a sustentabilidade ambiental como a saúde pública num país cuja população residente tem aumentado. Em 2023, Portugal ultrapassou os 10,6 milhões de habitantes e este crescimento populacional e dos fluxos migratórios representa um desafio enorme no que diz respeito à gestão de resíduos. Outro obstáculo prende-se com a capacidade limitada de infraestruturas adequadas para o tratamento destes resíduos.

Atualmente, 56% dos resíduos seletivos vão parar a aterros sanitários. A meta da União Europeia limita essa prática a apenas 10%. Isto demonstra que não temos investido o suficiente em soluções para uma gestão eficiente dos resíduos. De facto, os incentivos para o tecido empresarial português apostar numa maior circularidade das suas operações e, por conseguinte, reduzirem a produção de resíduos, são,
muitas vezes, escassos e insuficientes para dar resposta a este problema.

O que nos diz o incumprimento das metas nacionais sobre esta temática?
Acima de tudo, o incumprimento dos objetivos comunitários revela falhas significativas em várias vertentes, nomeadamente ao nível das infraestruturas, que são insuficientes para dar resposta às necessidades do país, mas também da educação ambiental e dos incentivos à reciclagem. Não conseguiremos inverter este panorama sem um maior investimento em novas tecnologias e metodologias para tratamento e reciclagem dos resíduos. Por um lado, existe uma grande pressão da União Europeia para que se cumpram as metas. Por outro, a falta de investimento resultará, naturalmente, num impacto negativo na saúde pública, no meio ambiente, mas também na economia. Em última análise, este incumprimento reflete a urgência de uma abordagem mais integrada e estratégica para alcançar a sustentabilidade na gestão de resíduos.

Quais os riscos que Portugal enfrenta no não cumprimento? Há consequências financeiras?

A nível financeiro, o impacto do incumprimento pode ser vasto e danoso. Primeiramente, porque sujeita o país a uma maior fiscalização pela União Europeia e pode resultar numa penalização significativa, nomeadamente no acesso a fundos europeus, além de implicar custos mais elevados para remediar os danos ambientais (face ao investimento necessário para cumprir as metas e aumentar a resiliência).

Em simultâneo, esse incumprimento traduz-se numa perda de vantagem competitiva em relação a outros países. Se uma grande fatia dos investimentos na economia portuguesa provém do estrangeiro, ao não cumprir as metas implementadas, a confiança dos investidores é abalada, os custos dos empréstimos podem aumentar e o investimento alocado para o país pode diminuir. Priorizar a sustentabilidade já não é uma opção, mas sim uma obrigatoriedade para o sucesso do país e das suas empresas.

Além dos riscos financeiros, Portugal enfrenta desafios a nível ambiental e social com o incumprimento das metas de gestão de resíduos uma vez que o atual panorama conduz a uma degradação mais acelerada do ecossistema, resultando em consequências sérias para as gerações futuras, nomeadamente ao nível da saúde pública. No seu conjunto, estes riscos reforçam a importância de um compromisso sério e contínuo com uma gestão mais eficaz dos resíduos.

O que pode o tecido empresarial fazer para melhorar e corresponder às metas?
O tecido empresarial deve ser encarado como parte da solução e não do problema, especialmente no que à inovação e I&D (investigação e desenvolvimento) diz respeito. Apesar de existir ainda um longo caminho a percorrer, as empresas podem posicionar-se como agentes de mudança para melhorar a gestão de resíduos a nível nacional, através da implementação de processos menos poluentes, do investimento
em tecnologias de tratamento de resíduos ou até através de programas internos de educação ambiental.

Contudo, como este percurso pode não ser linear para as empresas, recorrer a uma parceria externa que permita analisar e identificar custos com impacto ambiental e soluções de melhoria de processos pode revelar-se fundamental. Na ERA Group, contamos com uma equipa de especialistas nacionais e internacionais que nos permitem estar na vanguarda da inovação e trazer as melhores práticas e oportunidades para implementar no país. Além disso, temos um conhecimento vasto em diversas áreas de despesas onde há potencial de poupança e podemos
conduzir os nossos clientes a uma transição para a circularidade das operações. Com o nosso know-how, analisamos a linha de produção extensivamente de forma a encontrar oportunidades para reduzir o desperdício de resíduos, aumentando a eficiência dos processos.

Como é que Portugal se pode preparar melhor?
Portugal precisa de adotar uma abordagem integrada e estratégica para melhorar a gestão de resíduos, não apenas como tentativa de remediar o cenário atual, mas com uma visão de sustentabilidade para o tecido empresarial a longo-prazo. Neste sentido, é fundamental que o país invista em infraestruturas mais modernas de tratamento de resíduos.

Em simultâneo, o país necessita de apostar em mais ações de educação ambiental, como forma de promover a consciencialização pública sobre a importância de reduzir a produção de resíduos. Mais do que formar as novas gerações nas escolas, é necessário que esse conhecimento chegue a todos.

Além disso, é necessário que se criem mais incentivos à economia circular. Não podemos garantir empresas comprometidas com as metas de reciclagem se não existir capacidade de estimular práticas empresariais sustentáveis e desenvolvimento de tecnologias inovadoras que permitam criar soluções mais robustas e eficientes para uma melhor gestão de recursos.

O combate à poluição é, muitas vezes, apelidado de dinheiro mal gasto e desperdiçado. Quais os custos mais importantes que não podem ser descurados neste alerta para o combate à poluição?
Embora o combate à poluição possa ser visto frequentemente como um custo e não como um investimento, é importante não esquecer que o preço de não agir pode ser muito maior a longo prazo. Como tal, é necessário considerarmos que, em prol de uma melhor gestão tanto de recursos naturais como de resíduos produzidos, tem de existir uma atitude proativa da nossa parte. Essa mudança pode ser, muitas vezes,
um processo difícil e dispendioso de implementar, mas crucial para garantir uma maior sustentabilidade nas empresas. Práticas como a análise e a monitorização de resíduos produzidos, o investimento em novas tecnologias e a formação ambiental para os colaboradores são fundamentais para o combate à poluição. Na ERA Group, apoiamos essa implementação de processos junto das empresas. Analisamos em
profundidade as necessidades de cada cliente e apresentamos as soluções que mais se adequam aos objetivos delineados, com a finalidade de aumentar a eficiência operacional e apoiar no combate à poluição. Além do mencionado anteriormente, temos trabalhado junto das indústrias para garantir uma maior eficiência em processos como a compactação de resíduos, aproveitamento de parte dos resíduos para produção de energia, tratamento e reutilização de produtos químicos e matérias subsidiárias.

Há startups e empresas em outros países que estão a trabalhar para a redução dos níveis de poluição. O que está a ser feito em território nacional?
Em Portugal, várias startups e empresas têm-se destacado pelo trabalho ativo que desenvolvem na promoção de práticas e soluções inovadoras para garantir que as novas gerações têm acesso a um futuro mais sustentável. Posso destacar o exemplo de startups que têm apostado no tratamento de resíduos, focadas numa reciclagem baseada em tecnologia que permite transformar resíduos em novos produtos, como materiais sustentáveis ou bioplásticos. Outras empresas dedicaram-se às energias renováveis, contribuindo para reduzir a dependência de combustíveis fósseis. No campo da mobilidade sustentável, há quem promova a utilização de veículos elétricos ou soluções de transporte compartilhado. No sector agrícola, existem iniciativas de agricultura regenerativa, reduzindo o uso de pesticidas e fertilizantes químicos. Há ainda empresas dedicadas a monitorizar em tempo real a qualidade do ar e os níveis de poluição ambiental.

Todas estas empresas e empreendedores têm o potencial de tornar Portugal um exemplo ao promover práticas e inovações comprometidas com a sustentabilidade. No entanto, é necessário, a par do financiamento para desenvolver estas boas ideias, que se implementem políticas públicas adequadas e eficazes para fazer de Portugal mais sustentável – ambiental e economicamente.

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