[weglot_switcher]

“Portugal vai pagar o petróleo temporariamente mais caro”, diz especialista

Durante algumas semanas a cotação do petróleo deve oscilar entre os 65 e os 70 dólares por barril, aumentando os preços que serão pagos pelas compras feitas por Portugal, admitiu ao Jornal Económico o especialista Manuel Ferreira de Oliveira. O responsável ibérico pela multinacional BP, Pedro Oliveira, também considera que estas tensões altistas serão apenas temporárias.
17 Setembro 2019, 07h45

Manuel Ferreira de Oliveira, ex-presidente executivo da Galp e especialista no sector petrolífero, esclarece ao Jornal Económico que “os ataques às duas unidades de refinação da Saudi Aramco, localizadas nas zonas de Abqaiq e Khurais não danificaram qualquer poço de extração, limitando-se a destruir e incendiar infraestruturas de processamento de petróleo que não são estratégicas”. “Assim, as consequências destes ataques apenas serão sentidas temporariamente na formação das cotações, levando a uma alta pontual dos preços de transação do barril de petróleo, que, por isso, deverão oscilar num intervalo entre os 65 e os 70 dólares por barril, regressando previsivelmente aos valores de mercado anteriores a estes problemas ao fim das próximas três semanas”, admitiu. “É esta a minha convicção, pressupondo que não haverá novas tensões, nem outro tipo de ataques às instalações petrolíferas sauditas”, adiantou.

“Conheço bem as instalações em causa e sei que as infraestruturas afetadas têm uma relevância exclusivamente logística – são utilizadas para armazenamento de produtos petrolíferos durante a fase em que são objeto de processamento na refinaria – mas se os ataques tivessem danificado as unidades em que a companhia saudita efetua a extração de petróleo, os problemas seriam bem mais complexos e, felizmente, isso não aconteceu”, explica Ferreira de Oliveira.

“Os danos causados por este ataque podem ser compensados pelo aumento de disponibilidade das reservas petrolíferas existentes na zona, de forma a atenuar o corte de produção da companhia saudita, agora limitada a cerca de 5,7 milhões de barris diários, o que contribui para subir a cotação do barril de petróleo nos mercados internacionais. A entrega de quantidades adicionais de petróleo armazenadas pelos vários países produtores acaba por mitigar a alta das cotações”, comenta Ferreira de Oliveira.

“O apoio internacional que os vários países produtores conseguem dar – incluindo a Rússia – limita a amplitude da subida das cotações, mas não impede que pequenos países como Portugal, altamente dependentes da compra de barris de petróleo nos mercados internacionais, enfrentem um agravamento temporário dos preços do petróleo, mas que não deverá durar muito mais de três semanas”.

Na realidade, o petróleo Brent, do Mar do Norte, que serve de referência às refinarias europeias registou uma subida de cotações da ordem dos 20% na noite em que foram conhecidos os ataques às refinarias sauditas concretizados através de drones. Mesmo assim, a Rússia – o segundo maior produtor mundial de petróleo, a seguir aos EUA – considera que não será necessário avançar com medidas de emergência entre a plataforma alargada de países exportadores de petróleo (a designada OPEP+). Os ataques reivindicados pelos rebeldes iemenitas Huthis incendiaram as duas refinarias da Saudi Aramco – causando elevados prejuízos e limitando a sua operacionalidade –, mas não causaram restrições que pudessem limitar a respetiva capacidade de extração durante períodos longos que justificassem a adpção de medidas de emergência por parte da Rússia. O que confirma a perspetiva “moderada” de Manuel Ferreira de Oliveira sobre esta questão. Para evitar tensões altistas nas cotações internacionais do petróleo, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disponibilizou a utilização das reservas de petróleo dos EUA para suprir eventuais falhas no fornecimento internacional de petróleo. Esta medida adicional funciona como um estabilizador das cotações do barril de petróleo.

Pedro Oliveira, responsável pela multinacional BP no mercado ibérico, também admitiu ao JE que a alta de preços no petróleo pode rondar os 70 dólares por barril, mas aguarda que a normalidade nos abastecimentos seja retomada com a maior brevidade. Para o gestor da BP, as subidas registadas nas cotações terão mais a ver com factores emocionais do que com a racionalidade dos indicadores relativos à procura e à oferta existentes. “Estas tensões são o dia-a-dia da indústria petrolífera, onde a BP opera há mais de cem anos, razão pela qual a companhia tende a enfrentá-las com a maior racionalidade possível, mas sem ignorar consequências”, comenta Pedro Oliveira.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.