A data é assinalada todos os anos no calendário e relembrada pela comunicação social, decisores, sociedade civil. A 8 de março, Dia Internacional da Mulher, celebra-se não só a mulher mas também todas as suas conquistas no plano social, político e económico, numa sociedade sempre em mutação e (ainda) a necessitar de equilíbrios na igualdade de género.
A verdade é que, mais de 100 anos depois da instituição deste dia e não obstante todos os progressos alcançados desde então em busca desse equilíbrio, hoje como ontem continuam a existir razões para lutar por uma sociedade mais igualitária.
Assinalar o dia 8 de março é também não esquecer o real estado a que a nossa justiça chegou, com um magistrado que elaborou acórdãos excessivamente brandos sobre violência doméstica e para com os agressores e muito críticos para com as vítimas e o papel da mulher.
É bom também não esquecer as palavras que ficam nestes acórdãos e que dizem respeito a pessoas e a vidas e que são sobre mulheres que têm de viver com as sentenças deste juiz, que com o terror rotineiro das suas decisões, desculpam ou diminuem atos inqualificáveis.
Cerca de 41% das pessoas vítimas de violência doméstica em Portugal têm menos de 50 anos e 86% são mulheres. De acordo com os dados mais recentes, divulgados pela Comissão de Cidadania e Igualdade de Género (CIG), só no ano passado morreram 23 mulheres em contexto de violência doméstica, quase uma cada 15 dias, sendo este um dos mais terríveis flagelos da sociedade portuguesa e um dos problemas que mais afetam o género feminino.
Infelizmente, não é o único.
É inegável que a precariedade atinge muito mais mulheres do que homens no mundo do trabalho. É inegável a desigualdade salarial entre géneros: as mulheres recebem, em média, menos 200 euros por mês do que os homens. A mulheres têm uma escolaridade média superior à dos homens, mas entram no mercado de trabalho em condições piores do que estes. As mulheres gastam mais do dobro do tempo do que os homens em trabalho não remunerado, sobretudo trabalhos em casa.
Hoje (data em que assino o artigo), dia 8 de março, realiza-se em Portugal uma manifestação de género, promovida pela Rede 8 de Março. Associei-me à causa e participei, em conjunto com largos milhares de portuguesas e portugueses, numa fortíssima mobilização contra a violência, a desigualdade, os preconceitos, envolvendo o trabalho assalariado, o trabalho doméstico e a prestação de cuidados.
Curiosamente, esta iniciativa foi também participada e apoiada pelas Mulheres e Juventude Socialista (JS) e pelo Bloco de Esquerda. Ou seja, pela frente esquerda, a mesma que governa Portugal e de quem se espera responsabilidade e capacidade de mudança. As mulheres precisam de ações concretas, de um apoio efetivo nas suas decisões profissionais e pessoais. É isso que esperam de um governo.
Veremos a que ponto chega a hipocrisia da esquerda, associando-se a estes protestos à solução governativa que integraram e cujo Partido Socialista irá governar dentro de dias de forma absoluta, numa das séries mais longas da democracia de quatro anos e nove meses.