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Poupar = Ganhar – Gastar

Muitas famílias, empresas e governos não se lembram da importância de uma boa gestão financeira. Uns porque se deixam enredar pela espuma do quotidiano, outros porque não têm uma mentalidade de equilíbrio entre o curto e o longo prazo, outros ainda por eleitoralismos, mas julgo que a maioria por ignorância financeira.
13 Setembro 2021, 07h05

A surpreendente crise pandémica que induziu muitos governos a tomarem medidas restritivas às liberdades económicas e individuais pelo mundo fora está gradualmente a dar lugar a uma normalização nas vidas das pessoas e das empresas. Esta crise teve dois efeitos opostos nas poupanças: por um lado o setor público endividou-se ainda mais, gastando mais quando arrecadava menos; por outro lado o setor privado segurou despesas e tentou poupar com um esforço superior ao normal. Isto fez-me refletir sobre as decisões individuais e públicas sobre poupança.

As vidas das pessoas, das empresas e dos estados experimentam fases distintas, nomeadamente a nível de geração de receitas. Por vezes as famílias têm todos os seus membros empregados e com bons ordenados, por vezes estão todos desempregados. As empresas têm picos de vendas por vezes, outras vezes deixam de ser competitivas e vão à falência. Os Estados ora têm anos de grande arrecadação fiscal, ora têm anos de fraca arrecadação. É normal que assim seja. Sabendo de antemão da existência destas fases, qual a forma mais inteligente de poupar?

Eu diria que é o oposto do que vejo, quer na vida quotidiana, quer nas estatísticas do Banco de Portugal. Parece-me mais sensato poupar mais quando a vida corre bem e menos quando a vida corre mal. Em vez do sistema chapa ganha chapa gasta, muito popular em muitas famílias, empresas e governos, talvez fosse mais inteligente poupar mais quando se ganha mais do que o suficiente, e gastar o que se poupou nessa fase quando não se ganha mais do que o suficiente.

Defendo que famílias, empresas e governos devem gerir um fundo de poupanças para que o seu bem-estar seja maior no conjunto das suas vidas. Pouparia muitas privações e muito stress em épocas difíceis como a crise pandémica da qual estamos a tentar sair. Claro que há sempre alguém que diz que nunca ganha o suficiente para poupar. Respondo o seguinte: talvez esteja na hora de oferecer mais e melhor aos outros. Adote uma mentalidade mais empreendedora e pró-ativa, invista mais e melhor nas suas competências e na sua formação, pense menos no que a vida fez consigo e mais no que vai fazer com o que a vida fez consigo.

Muitas famílias, empresas e governos não se lembram da importância de uma boa gestão financeira. Uns porque se deixam enredar pela espuma do quotidiano, outros porque não têm uma mentalidade de equilíbrio entre o curto e o longo prazo, outros ainda por eleitoralismos, mas julgo que a maioria por ignorância financeira. Muitos dizem que o dinheiro não é importante, importante é ser feliz. Eu concordo com a segunda parte, mas não com a primeira: é importante para uma família ter dinheiro para cuidados de saúde, é importante para empresas não ter credores a baterem à porta, é importante para os governos não terem que ficar dependentes de assistência financeira especial externa. A maioria das pessoas acha que o mais importante para poupar é gastar menos. Discordo. Considero que o mais importante para poupar é ter uma boa educação financeira, o que por sua vez leva as pessoas a entenderem que, na poupança, ganhar mais é mais importante do que gastar menos. Os problemas financeiros não se resolvem com dinheiro, mas com imaginação! Hoje fala-se mais de sexo do que de dinheiro em casa e na escola? Então os mais jovens vão aprender onde a lidar com dinheiro e a obterem independência financeira? Quando vão descobrir que podem fazer o que gostam enquanto obtêm essa independência? Como vão desenvolver o cálculo mental, essencial na educação financeira? Infelizmente vejo cada vez mais pessoas que não sabem a tabuada, que nunca leram um livro, que passam demasiadas horas entretidos com coisas pouco edificantes.

Talvez tenhamos de mudar algo para deixarmos de estar na cauda da Europa e passarmos a ser a cabeça da Europa, como escreveu Luiz de Camões.

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