[weglot_switcher]

Poupar, não poluir e cuidar das florestas. Soluções para termos mais e melhor água

O Económico Madeira foi ouvir Hélder Spínola, professor universitário na UMa, formado na área de Biologia, e o antigo Presidente do Instituto das Florestas e Conservação da Natureza, Miguel Sequeira, sobre os problemas mais comuns que afetam a água na Madeira. É importante lembrarmo-nos que a água é um recurso escasso e que a temos de usar de forma cuidada e consciente. O Dia Mundial da Água celebra-se na próxima sexta-feira, dia 22 de março, e os especialistas na matéria não esquecem de recordar o papel relevante que a floresta tem na Madeira para nos dar este recurso essencial à vida.
21 Março 2019, 07h45

O problema mais evidente associado à água é o desperdício e o consumo excessivo. Hélder Spínola é professor na Universidade da Madeira e constata que na Região há uma ideia que passa de geração em geração de que a água é abundante e que isso dá-nos a liberdade para usá-la de uma forma menos cuidada.

No entanto, o professor revela que hoje em dia este recurso “já não vai além de ser suficiente” para as nossas necessidades e recorda que há até alturas do ano em que já se vai falando de problemas de abastecimento, nomeadamente no setor agrícola.

Ora, o problema é mesmo um uso menos adequado em termos de poupança e uso eficiente, já que Hélder Spínola afirma que as pessoas só tomam atitudes positivas de poupança de água quando a preocupação é o custo: se vão poupar ou se vão gastar.

Para o professor da UMa não basta ter preços que incentivem a poupar, é preciso também um trabalho de educação ambiental que consiga promover ações e mudanças de comportamento e não “com cartazes: isso não muda praticamente nada”.

É preciso encurtar a distância entre as palavras e os atos.

Mas, “se é verdade que uma parte são os desperdícios do consumidor dito normal, outra parte deve-se à falta de investimento das redes de distribuição em alta (desde a origem até às estações de tratamento), mas também ao nível das redes de distribuição municipais e ainda há uma parte que são consumos não faturados ou roubos”, revela Hélder Spínola.

Poluição da água

Se o desperdício de água é um dos maiores problemas associados a este recurso, a poluição da água também não fica nada atrás. Na Madeira este problema, embora exista, não se sente muito, pois os recursos são “captados em alta”, nas serras, explica o professor universitário, e a poluição dá-se mais nos “recursos em baixa”, como nas ribeiras.

“Há imensas situações de descargas de esgotos nas ribeiras”, afirma Hélder, e sugere que haja fiscalização e que se oriente as pessoas no sentido de se encontrar uma melhor solução. Além disso, as descargas das águas residuais, “apesar de terem tido algum investimento em tratamento das águas residuais, não cumprem totalmente a sua função”, pelo que a maior parte ainda vai para o mar com apenas um tratamento preliminar.

Hélder Spínola afirma que isto depois tem consequências na qualidade das águas balneares, que, apesar de se falar mais na época de verão, é um problema que afeta as águas durante todo o ano.

Ou seja, “há duas vertentes a considerar a nível deste trabalho: um é a educação ambiental, o segundo são as infraestruturas”, sublinha o professor da UMa.

Floresta

“Há um grande desafio quanto à questão das alterações climáticas e as previsões apontam para que no futuro as reduções de água para consumo possam atingir os 50%”, afirma Hélder Spínola.

Ora, para o professor universitário a solução passa por recuperar as florestas nas nossas serras, como forma de atenuar, pois “ao contrário do que as pessoas pensam”, essa é a grande fonte da nossa água.

“Quanto mais água mais floresta e quanto mais floresta mais água” é o que diz o antigo presidente do Instituto das Florestas e Conservação da Natureza, Miguel Sequeira, já que a água que temos disponível na Madeira provém da precipitação e das florestas.

Suponha que há um estudo que diz que o melhor sítio para se construir uma barragem é numa zona de floresta. Constrói-se a barragem que vai abastecer várias zonas da ilha, mas o que acontece é que ao construirmos a barragem, estamos a retirar uma parte da floresta, o que significa também que vamos ter menos água.

No entanto as consequências não são só a redução da água disponível, isto também faz com que a floresta passe a ser mais sensível ao fogo e às plantas invasoras.

Outro problema semelhante são o cada vez maior número de levadas e capturas de água: “evidentemente que quando retiramos água da floresta esta adapta-se e quando se adapta não fica igual”, revela Miguel Sequeira.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.