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Powell não muda de rumo nem abre o jogo apesar de pressões internas e de Trump

Foi a quinta reunião consecutiva sem mexidas nos juros diretores, com Powell a considerar apropriado a Fed manter uma “postura moderadamente restritiva” face aos riscos em várias direções e apesar das críticas de Trump e do voto contra de dois governadores – a primeira vez que tal acontece desde 1993.
31 Julho 2025, 07h00

Trump pressionou e dois governadores seguiram a Casa Branca, mas a Reserva Federal acabou mesmo por manter os juros inalterados na reunião de julho, a última antes da pausa para férias. Powell falou numa “das melhores reuniões” em termos da discussão à volta da mesa, mas a primeira reunião com mais do que um dissidente mostra algumas divisões internas numa altura em que o crescimento mostra uma tendência de enfraquecimento.

Os juros diretores permaneceram entre 4,25% e 4,5% pela quinta reunião consecutiva esta quarta-feira, uma decisão que era dada como praticamente adquirida pelos mercados, dado que a inflação continua acima do objetivo da Fed e a subir há dois meses. Tal não tem impedido Trump de pedir repetidamente cortes nas taxas, algo que ecoou em dois dos governadores do banco central – um cenário que não se via desde 1993.

Christopher Waller e Michelle Bowman, dois nomeados por Trump para o cargo, haviam já apontado para alguma fragilidade no mercado laboral para argumentarem a favor de cortes já, em linha com o que defende o presidente. Na reunião de quarta-feira, votaram mesmo contra a decisão de manter os juros inalterados, sendo que devem “emitir algo nos próximos dias” a explicar a sua decisão, afirmou Powell.

O presidente falou, contudo, de “uma das melhores reuniões” no que respeita ao debate entre os governadores, reconhecendo que, num cenário tão complexo, seria expectável alguma divergência de opiniões.

“Tivemos uma boa reunião com toda a gente, em que as pessoas deliberaram cuidadosamente e expuseram as suas posições”, ilustrou o presidente da Fed aos jornalistas presentes na conferência de imprensa após o anúncio.

A pressão de Trump não deu resultados práticos, mas inclinou já o Comité Federal de Mercado Aberto (FOMC, em inglês) para uma divisão 9-2, isto depois de uma visita quase inédita do inquilino da Casa Branca na semana anterior à sede do banco central para avaliar as obras que lá decorrem há cinco anos – e que o presidente e o Partido Republicano acusam de ter derrapado 700 milhões de dólares.

Sem comentar a mensagem passada pela visita do presidente, Powell classificou o encontro como “agradável” e “uma honra”.

“Foi uma honra recebê-lo. Não é comum na Reserva Federal termos a visita de um presidente, muito menos para ver um edifício, mas foi uma boa visita”, atirou.

Quanto à economia, Powell elogiou a robustez demonstrada, mas sublinhou os riscos em ambas as direções e que se estendem para lá do crescimento e até à inflação e emprego.

“A economia está em boas condições, mas numa situação incomum”, resumiu, lembrando que o país continua a gozar de um “mercado laboral sólido”. Quanto à política alfandegária de Trump, os impactos na inflação ainda terão de ser avaliados, embora a subida da tarifa média “tenha começado a mostrar-se mais claramente no preço de alguns bens”.

Crescimento forte com detalhes fracos

O crescimento nos EUA até superou as expectativas do mercado no segundo trimestre, mas com detalhes pouco animadores. A maior economia do mundo avançou 3% em termos anualizados, acima do consenso entre investidores e analistas, de 2,5%, e após ter contraído 0,5% no arranque do ano, mas este avanço foi conseguido sobretudo à custa de menores importações.

Numa análise homóloga, o PIB norte-americano avançou 2%, igualando a prestação do primeiro trimestre. Ambos os resultados são o crescimento mais fraco numa comparação homóloga desde o final de 2022.

A componente externa recuou marcadamente depois de disparar no primeiro trimestre, quando os importadores norte-americanos procuraram antecipar a imposição de tarifas e evitar os preços acrescidos com a barreira alfandegária. O segundo trimestre mostrou uma queda de 30,3% nas importações, isto após a subida de 37,9% no primeiro trimestre, contribuindo com 5 pontos percentuais (pp) para o crescimento.

Em sentido inverso, os inventários caíram à medida que as empresas escoaram o frontloading do arranque do ano, o que retirou 3,2 pp à leitura do segundo trimestre.

Olhando para o consumo privado, que representa próximo de dois terços da economia norte-americana, este acelerou para apenas 1,5% depois de quase estagnar no primeiro trimestre. Ao mesmo tempo, o investimento privado caiu 15,6%, refletindo a incerteza acrescida que as empresas enfrentam com a política comercial de Trump.

Contas feitas, a procura interna, ou vendas finais a consumidores domésticos, cresceram apenas 1,2%, abaixo dos 1,9% dos três primeiros meses do ano e o avanço mais fraco dos últimos dois anos e meio, o que está a ser interpretado como um sinal de uma tendência subjacente de queda.

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