A Alemanha atravessa uma recessão estrutural que vai impactar a Europa. Há consciência dos riscos que o projeto europeu enfrenta quando o motor europeu está gripado?
Numa observação mais nacional, estamos em campanha eleitoral – e eu devo dizer numa nota também de apreciação pessoal – que é justo elogiar o primeiro-ministro, que nunca negou, nem durante a campanha eleitoral nem durante o exercício de funções, que a situação na Europa é difícil e que a situação internacional, tanto do ponto de vista geopolítico, e refiro-me à guerra [na Ucrânia], tanto do ponto de vista económico, em concreto [a situação] na Alemanha, levantam desafios para um país como o nosso. É precisamente por isso que [Luís Montenegro] está, obviamente, motivado para procurar soluções. Julgo que esta proximidade à realidade é fundamental nos agentes políticos… que se querem sérios. Para dar um exemplo que as pessoas percebam, apesar de, em 2024, termos observado alguns ganhos na economia alemã do ponto de vista dos salários reais, eles ainda continuam 8% abaixo da tendência anterior à pandemia… e isso significa qualquer coisa.
Há uma política muito consolidada na Alemanha de controlar a subida dos salários, decisão que tem efeitos no mercado de trabalho e na competitividade das empresas.
Deixe-me sublinhar o seguinte. Eu fiz a volta nacional do primeiro-ministro pelo país inteiro. Assisti a todos os discursos e estes problemas foram realmente falados. Não podemos cair no paradoxo um pouco injusto de dizermos que não se abordaram os temas na campanha eleitoral quando, na verdade, o que aconteceu foi outra coisa: não se transmitiram [nos media] os temas, mas eles foram realmente abordados…. lamento, mas foram. Quanto ao Parlamento Europeu, nós estamos divididos por comissões e por pastas. O eurodeputado português Paulo Cunha, que integra a comissão da indústria, está muito empenhado no setor automóvel, uma área determinante para a economia alemã e europeia. Só para dar alguns números: a indústria automóvel emprega quase 14 milhões de pessoas na UE, o que equivale a 6% dos empregos na Europa.
Estamos a falar de empregos diretos e indiretos?
Existem 255 fábricas de veículos motores e baterias, portanto emprego direto e indireto. Estamos a falar de 8% do valor acrescentado do setor de manufactura na zona euro. Ou seja, 8% tem origem no setor automóvel. Estamos a enfrentar esta crise de frente, estamos a procurar soluções de frente, até porque as soluções para resolver este impasse [implicam perceber] que precisamos de um motor europeu para ter uma Europa robusta economicamente e para sobrevivermos geopoliticamente. Penso que esta seja a grande lição dos primeiros seis de mandato da segunda comissão de Von der Leyen e que também está muito presente no trabalho dos eurodeputados: para estarmos [sentados] à mesma mesa que os Estados Unidos, temos de usar os fatores onde podemos sobressaír de forma mais evidente. Não vamos sobressair já na Defesa, não vamos sobressair já do ponto de vista militar, mas podemos começar a sobressair do ponto de vista da economia.
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