Ouvi recentemente num podcast sobre os limites da moral, algumas considerações que me deixaram a pensar de que forma está a moral das organizações a transformar-se. Para pensar neste tema, importa adiantar que, uma possível conceção da moral de uma organização pode ser pensar na mesma como o somatório de todas as morais de todas as pessoas que habitam nessa organização. Para esta equação, podemos pensar nos estudos de Émile Durkheim relativos à ideia de Consciência Coletiva, onde o sociólogo francês referiu o conceito como o conjunto de características e conhecimentos comuns de uma sociedade, onde as pessoas pensam e agem com uma base comum de códigos culturais, normas e as leis vigentes, às quais as organizações onde os indivíduos habitam devem de responder.

Não só pelas mudanças de paradigma que se têm vindo a observar no que respeita à responsabilização e empowerment de cada um, mas também pela capacidade de cada pessoa ativar cognitivamente as suas ideologias, parece pertinente assumir que a equação referida no parágrafo anterior pode ser bidirecional, i.e., não só a organização rege e apresenta os códigos, normas e leis a que as suas pessoas deverão responder, mas igualmente as pessoas moldam-nos, de forma consciente ou até inconsciente.

Uma das expressões que se escuta e desenvolve na área da promoção de comportamentos de integridade nas organizações é o “Tone at the Top”; ou seja, a forma como a liderança apresenta uma atmosfera ética onde comportamentos de integridade deverão ser promovidos e seguidos pelas pessoas da organização.

No entanto, surge a questão que a bidirecionalidade da equação nos sugere. Qual a importância do Tone at the Bottom; ou até, não deveria o mesmo ser capacitado e escutado?
Um Tone at the Bottom terá implicações em pelo menos duas dimensões. Primeiro no facto de que todas as pessoas têm a sua própria forma de pensar e agir. Em segundo lugar, no aspeto de que algumas das ideologias individuais poderão ser dispares da ideologia coletiva que a organização deseja promover interna e externamente. Em ambas as dimensões, parece existir a necessidade de identificar as convergências e as divergências existentes, mas não só. É importante perceber quais são os núcleos individuais que têm maior amplificação e quais as mensagens que esses núcleos querem transmitir à liderança.

Partindo do pressuposto que existirão variáveis que convergem entre o Top e o Bottom, essas variáveis deverão ser analisadas e trabalhadas de forma a convergirem cada vez mais. Para esse trabalho ser alcançado com sucesso, ferramentas como diagnósticos psicométricos podem ser aplicados ou eventualmente workshops/focus groups com diferentes pessoas que representem a organização, sendo que não existem ferramentas universais. Cada organização e as suas pessoas têm a sua própria personalidade, e a sua própria visão sobre riscos de integridade, e como tal as ferramentas a utilizar deverão seguir pressupostos científicos, mas ser adaptadas às diferentes realidades e setores.

A Association of Certified Fraud Examiners (ACFE) tem vindo a demonstrar de forma académica e prática a ligação entre um Tone at the Top saudável e a capacidade de resposta a desafios de reputação para com eventuais incidentes de fraude. Da mesma forma, parece que o Tone the the Bottom pode ser uma ferramenta de defesa e de promoção da robustez da integridade da organização como um todo, e das suas pessoas de forma individual.