Portugal viveu a última década assolado por dificuldades várias. A débâcle das contas públicas e as consequentes políticas restritivas impostas pela Troika. Uma solução governativa inédita que tendo gerado compreensíveis desconfianças acabou por permitir um período de paz social e política. Uma pandemia que paralisou Portugal e o Mundo, sendo que talvez só agora estejamos verdadeiramente a superar o(s) quadro(s) depressivo(s) que a pandemia gerou.

Com todas estas dificuldades, angústias e incertezas, 2.301.887 portugueses em 5.563.497, tantos quantos votaram, confiaram no PS e em António Costa para conduzir Portugal num período que todos sabíamos que seria de fortes mudanças.

Infelizmente os últimos doze meses, parece-me, não têm sido felizes para o governo. Por responsabilidade de alguns dos seus membros, por alguma irresponsabilidade de sectores socioprofissionais que nada parecem querer negociar, por algum desvario nos comportamentos de responsáveis de corpos estruturantes do Estado e, até, por questões menores a que só um ambiente político malsão dá dimensão política relevante.

Aqui chegados, analistas e políticos apressam-se a dar o governo por acabado, parlamentares começam a “desenhar” listas de deputados, alguns restaurantes animam-se. E alguns até se começam “a posicionar” para imaginários novos ciclos políticos. Também por isso é interessante convocar a atenção do leitor para a Sondagem ISCTE/Expresso, de Junho de 2023.

Depois de tudo o que se tem passado, o PS continua a liderar as sondagens com 31% das intenções de voto e, sobretudo, António Costa aparece destacado na avaliação que os portugueses fazem da sua actuação, apenas suplantado pelo Sr. Presidente da República.

Calendário Eleitoral até 2026:

2024/Junho – Eleições para o Parlamento Europeu

2025/Outubro – Eleições Autárquicas

2026/Janeiro – Eleições para Presidente da República

2026/Outubro – Eleições para a Assembleia da República

E é aqui que surgem as “Preocupações de um Socialista”.

A esperança de 2.301.887 portugueses, a credibilidade, a resistência e a determinação, pessoal e política, do primeiro-ministro impõem a quem integra o governo a responsabilidade de governar e de nisso se concentrar.

Preocupa-me que nas últimas semanas os nossos jornais estejam inundados de cenários de sucessão, de alianças para um tempo que “está quase a chegar”, de ambições deliberadamente mal disfarçadas e, por vezes, arrogantes, de falta de humildade de alguns que o actual primeiro-ministro tirou do anonimato.

Compreendo bem a legítima ambição política de muitos valorosos quadros. Já pensaram que daqui a dois anos há muitos municípios para conquistar e muitos cidadãos para servir?

Já se deram conta que daqui a um ano o futuro da Europa também passa pelo resultado do vosso trabalho político?

Acham que os cidadãos que confiaram no PS há pouco mais de um ano perdoarão a algum dirigente socialista que não cumpra o seu dever?

Ainda não perceberam que o actual primeiro-ministro tem, há décadas, um pensamento estruturado e consolidado sobre as questões centrais do regime e da governação e que nesse pensamento não cabe, nunca coube, a desistência ou o sair a meio?

Desenvolver “cenários”, especular sobre “a crise”, adivinhar “sucessores”, estimular “fontes próximas” pode parecer um jogo muito interessante, sobretudo em noites de tertúlia. Não é isso que os portugueses esperam, nem é por isso que continuam a confiar no primeiro-ministro.

Nem é essa a responsabilidade histórica dos socialistas. Talvez valha a pena recuperar o discurso de Mário Soares por ocasião da assinatura do Tratado de Adesão de Portugal às Comunidades Europeias (Lisboa, 12 Junho 1985), e de que destaco a seguinte passagem:

“A tarefa primordial que nos ocupará a partir de agora será a de reduzirmos cada vez mais a distância que ainda nos separa dos países desenvolvidos da Europa, criando para os Portugueses padrões de vida e de bem-estar verdadeiramente europeus. Gostaria que as minhas palavras fossem ouvidas pelo povo trabalhador de Portugal, para quem surgem novas perspectivas e potencialidades de progresso e justiça social”.

Continua a ser este o desígnio que é necessário cumprir.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.