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Presidenciais 2021: Tudo separa João Ferreira e André Ventura

Os candidatos à Presidência da República João Ferreira, eurodeputado comunista, e André Ventura, líder do Chega, protagonizaram o segundo debate eleitoral, realizado na televisão TVI24, numa meia hora onde o ruído se sobrepôs à exposição clara dos argumentos de ambas as partes, imperando um clima de acusações mútuas.
3 Janeiro 2021, 01h44

O frente a frente entre João Ferreira e André Ventura dificilmente conseguiria ter sido mais previsível. O segundo debate com os candidatos presidenciais decorreu este sábado, 2 de dezembro, na TVI24 às 22h00, colocando o eurodeputado pelo PCP frente ao líder do Chega. Ambos ficaram de pé durante a meia hora em que demonstraram o que já se sabia – que não têm quaisquer pontos em comum. As acusações mútuas surgiram do princípio ao fim. Desviaram constantemente as respostas para alimentarem discussões cruzadas, com afirmações sobrepostas e muito ruído. Ao estilo de alguns programas televisivos sobre futebol. A jornalista moderadora, Carla Moita muitas vezes mal se ouviu.

A primeira questão foi sobre as informações relativas ao currículo de José Eduardo Guerra, o nome escolhido por Portugal para a Procuradoria Europeia. Neste assunto, André Ventura foi irredutível: defende a demissão da ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, e também do ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, pelos problemas relacionados com estes dois ministérios e com estes ministros. O candidato líder do Chega acusa o PCP e o Bloco de Esquerda destes dois partidos da geringonça serem responsáveis por segurarem os ministros no Governo, num constante apoio parlamentar ao PS.

João Ferreira foi mais formal. Remeteu a polémica do currículo de José Guerra para a próxima audição parlamentar à ministra Francisca Van Dunem. Em resposta a comentários de André Ventura, o eurodeputado do PCP argumentou que, em matéria de mentiras, André Ventura deveria demitir-se porque se “usasse para si próprio o critério que impõe a outros – o critério do ‘mentiu, vai-se embora’ –, o próprio André Ventura não estaria aqui a debater comigo”.

André Ventura subiu de tom e acusou João Ferreira de fazer alusões e elogios aos exemplos da Coreia do Norte, de Cuba e do Vietname no site da sua candidatura. O eurodeputado comunista negou e exigiu que Ventura provasse o que estava a dizer, acusando-o de estar a ser “mentiroso”. André Ventura afirmou que eram referências feitas no próprio site do PCP, mas quando voltou ao assunto comentou que já teriam sido apagadas.

João Ferreira contrapôs a presença da líder da extrema-direita e presidente da Frente Nacional francesa, Marine Le Pen, na campanha de André Ventura, sabendo-se que em frança residem e trabalham muitos portugueses que são alvo das posições xenófobas da Frente Nacional de Le Pen. André Ventura questionou se João Ferreira preferia estar acompanhado pelo presidente da Coreia do Norte, Kim Jong-Un.

“Um Presidente não serve para tirar selfies

Em todos os temas concretos colocados aos dois candidatos pela jornalista Carla Moita, João Ferreira e André Ventura estiveram em discordância total. Relativamente ao caso do procurador europeu José Guerra, o líder do Chega aumentou a agressividade da argumentação e afirmou que se “Marcelo Rebelo de Sousa fosse um Presidente a sério, teria dito que hoje seria o último dia da ministra da Justiça em funções”,  porque – advertiu – uma Presidente “não serve para tirar selfies ou para cortar fitas”. João Ferreira, por seu turno, afirmou que André Ventura, depois de garantir a exclusividade no parlamento, acumulou salários como comentador desportivo. Enquanto João Ferreira falou, André Ventura não parou de afirmar: “continua a inventar”.

No tema seguinte, sobre o diploma da eutanásia, que em breve deve chegar à apreciação do Presidente da República, André Ventura defendeu que convocaria um referendo. Disse também que “o PCP tem medo de ouvir os portugueses” sobre a eutanásia. João Ferreira garantiu que “respeitaria a vontade da Assembleia da República” na questão da legalização da eutanásia.

Sobre a utilização da ‘bomba atómica’ – o poder do Presidente da República dissolver o parlamento –, João Ferreira afirmou que “não abdicaria de usar nenhum dos poderes do Presidente da República”, sobretudo se fossem postos em causa direitos garantidos pela Constituição, tais como os direitos à saúde ou à educação.

André Ventura afirmou que o Governo de António Costa “passou linhas vermelhas importantes”, recordando os incêndios de 2017, em que morreram mais de cem pessoas, e também o caso de Tancos. O líder do Chega considera que o Presidente da República deve ter poderes alargados que abranjam as escolhas ministeriais.

Chegando à parte final do debate André Ventura passou a tratar João Ferreira por tu. Pediu-lhe para esclarecer o seu entendimento sobre o regime da Coreia do Norte, ao que o deputado comunista disse que defende “o direito de cada povo escolher livremente o seu destino”. André Ventura contra-argumentou que um povo que é oprimido por um regime como o de Nicolás Maduro não escolheu livremente o seu destino.

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