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Presidente da Associação da Comunidade de Imigrantes Venezuelanos na Madeira: “O nosso objetivo principal é a integração dos venezuelanos na região”

Ana Cristina Monteiro é advogada licenciada em Caracas – Venezuela pela Universidade Santa Maria em 1996. Está inscrita no “Instituto de Previsión Social del Abogado” de Caracas. Especializou-se em Direito Tributário na Universidade Santa Maria. Fez voluntariado na Sociedade de Beneficência de Damas Portuguesas de Caracas. Em 2011 obteve a equivalência em Direito pela Universidade […]
Ana Cristina Monteiro, presidente da nova Associação da Comunidade de Imigrantes Venezuelanos na Madeira – VENECOM criada recentemente no Funchal
3 Maio 2017, 01h22

Ana Cristina Monteiro é advogada licenciada em Caracas – Venezuela pela Universidade Santa Maria em 1996. Está inscrita no “Instituto de Previsión Social del Abogado” de Caracas. Especializou-se em Direito Tributário na Universidade Santa Maria. Fez voluntariado na Sociedade de Beneficência de Damas Portuguesas de Caracas.
Em 2011 obteve a equivalência em Direito pela Universidade de Lisboa, estando inscrita no Conselho Regional da Madeira da Ordem dos Advogados- Tem uma carreira profissional de mais de 20 anos em diversas áreas do direito, os primeiros 15 anos na Venezuela e os últimos na Madeira, Funchal. Desde 2016 exerce advocacia numa empresa própria.
É a nova Presidente da Associação da Comunidade de Imigrantes Venezuelanos na Madeira – VENECOM.

Económico Madeira – Até que ponto os madeirenses residentes na Venezuela arriscam regressar à sua terra e deixar tudo para trás? Podemos correr o risco de um regresso em massa de emigrantes?
Ana Cristina Monteiro – Está fora das minhas mãos calcular se haverá ou não um regresso em massa de emigrantes, pois isso depende de conjunturas alheias ao meu controlo e conhecimento. Cada emigrante que tem regressado e aqueles que ficaram lá, tem uma historia única e diferente.
EM – Como é que a vossa associação quer intervir neste contexto muito complicado, quer na Madeira, quer na Venezuela, quando se trata de abordar a realidade neste país?
ACM – A nossa função será sempre de ajuda, alheia ao debate político, isto, apesar de cada um de nos ter uma opinião formada acerca da situação que vive Venezuela, queremos servir como base de apoio aos imigrantes da Venezuela cá, sendo um fator para uma rápida integração na comunidade madeirense.
EM – Um dos propósitos da vossa associação é “defender e promover os direitos e interesses dos imigrantes venezuelanos e seus descendentes em tudo quanto respeite à sua valorização, de modo a permitir a sua plena integração e inserção”. Pode desenvolver este tema?
ACM – Claro que sim, nosso objetivo principal é a integração dos venezuelanos na região, nesse sentido, pretendemos informa-los sobre os seus direitos e deveres, bem como orienta-los e encaminhar-lhos para as entidades próprias. Adicionalmente, faze-los sentir que não estão sós, que aquelas pessoas que já passaram por isso e estão cá há algum tempo possam transmitir as suas experiencias com os que ora chegam, tudo no sentido da sua maior e melhor integração na região.
EM – Quando falam que pretendem “estimular a formação e capacitação do imigrante venezuelano”, estão a querer dizer o quê? Que há problemas a este nível?
ACM – Há muitos pessoas que chegam cá com licenciaturas ou formações especificas já acabadas ou por acabar, e que muitas vezes tem dificuldades em obter o seu reconhecimento e ficam a trabalhar noutras atividades, por isso a importância da sua formação e capacitação orientada para a sua inserção ao mercado de trabalho na região, sempre articulando com os entes competentes.
EM – Há um não um conflito geracional, entre as primeiras gerações e as seguintes, nascidas na Venezuela, integradas no país e que apesar de tudo, querem continuar por lá?
ACM – Não, de facto os que estão a voltar são os descendentes das primeiras gerações que emigraram para lá, que estavam perfeitamente integradas na Venezuela, mas que por diversas razões decidiram buscar opções fora do país e tendo suas origens e conhecimento da cultura Madeirense, a escolha natural é a Madeira.
EM – A integração de muitos antigos emigrantes na Venezuela, sobretudo os mais jovens, na sociedade madeirense não tem sido fácil. Como pode contribuir a vossa associação para alterar esta dificuldade evidente?
ACM – As pessoas sentem saudades do que tinham lá na Venezuela, do que originariamente aprenderam, dos seus costumes, da sua gastronomia, ao igual ao que sucede com os que emigraram da Madeira para Venezuela. Assim, que se nós conseguirmos recuperar essas tradições e costumes, a sua integração cá será melhor, pois sentir-se-iam valorados como pessoas, não isolados, nem deslocados, fazendo com que indiretamente se incorporem na sociedade onde residem, tal e como fizeram os seus antepassados na Venezuela. Este é um problema próprio da imigração.

EM – Um dos vossos propósitos é o de “promover a língua castelhana, bem como a língua portuguesa a fim da sua integração na região”. Como é que a questão da língua pode facilitar ou dificultar essa integração sobretudo dos mais jovens?
ACM – Relativamente ao ensino do português, temos verificado que os imigrantes mais jovens ainda estão na fase de adaptação, e embora falem a língua portuguesa, o facto de terem um sotaque diferente, pudera constituir um fator de discriminação. Por isso a importância do ensino e aperfeiçoamento do idioma português.
Relativamente ao Castelhano, a ideia surgiu por causa dos que emigraram da Venezuela há muito tempo, seus filhos já nascidos cá, assim como madeirenses interessados em aprender a língua castelhana.
EM – O caso dos lesados do BES e do BANIF persiste. Milhares de pessoas, ao que julgamos sabe, foram afetadas e milhares de emigrantes perderam poupanças. Como é que a vossa associação quer acompanhar este processo?
ACM – Como sabe, já existem associações e grupos de apoios aos lesados. Contudo, acompanharemos de forma atenta e interessada a resolução destas situações. E para aqueles que, a causa deste processo ficaram sem nada, é obvio que lhes iremos dar todo nosso apoio, ajuda e orientação.
EM – Conhecem situações de fome e de miséria entre a comunidade madeirense residentes na Venezuela?
ACM . Sim, conheço alguns casos por causa da minha participação na Sociedade de Beneficência de Damas Portuguesas em Caracas.
EM – Perante a realidade da Venezuela acha que estas associações, como a vossa, têm realmente alguma importância e sobretudo espaço de manobra?
ACM – Sim, considero que justamente por causa desta situação, os venezuelanos, mais do que nunca, sentem a necessidade de se unir e ajudar aos que mais precisam, isso é solidariedade.

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