Em 1990, Rui Veloso cantava “Não há estrelas no céu” retratando os desencontros de um adolescente borbulhento e deprimido com as transformações da idade. Os que assistiram à construção do Muro de Berlim poderiam atribui-lhe uma conotação positiva, associando a letra ao fim da Guerra Fria, na sua versão nuclear Guerra das Estrelas. À época, o problema parecia arrumado na prateleira do passado. Nem o Koweit, nem a guerra dos Balcãs conseguiam abalar a convicção de que o conflito Este-Oeste estaria resolvido.
A queda das torres gémeas, pela sua enormidade e surpresa, suspendeu as certezas. E houve Londres e a estação da Atocha. Seguir-se-ia a caça a armas químicas no Iraque. Pouco importava, tudo parecia passar-se bem longe. Paris e Nice relembraram que estes acontecimentos poderiam ser próximos, assim como os refugiados da Primavera Árabe.
E as economias lá foram resistindo – por entre um desempenho débil, a sua maior batalha foi a finança, cuja crise de 2008 produziu cicatrizes ainda por sarar, à qual se somou a pandemia. Os conflitos foram muitas vezes pretextos para fazer política económica, investindo em armamento e investigação militar.
O que esperar hoje quando uma guerra mesmo aqui ao lado compromete o abastecimento à Europa de gás e petróleo e o fornecimento de cereais em período de seca no território nacional? A pandemia pode tornar-se endemia, as taxas de juro de referência manter-se baixas, a produção e a distribuição internacional reorganizarem-se, que a inflação disparará, não existindo instrumentos de política para conter estes desequilíbrios.
A economia portuguesa, permeável, tenderá a seguir a dinâmica dos seus parceiros, mais dependentes da energia que vem da Rússia, antevendo-se uma queda do consumo e do investimento e talvez mesmo recessão. Resta-lhe o PRR, o D. Sebastião do crescimento – a curto prazo, o seu sucesso depende da injeção financeira prevista. Os problemas de dependência energética, empolados pela guerra na Ucrânia são o “estou entre a espada e a parede” da canção e serão uma importante razão para refletir sobre o longo prazo, procurando resolver as suas debilidades estruturais.
E haverá estrelas no céu a dourar este caminho? É difícil responder enquanto a incerteza se apodera do futuro.
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