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Primeiro caso de surto psicótico relacionado com o Brexit diagnosticado no Reino Unido

O surto foi desencadeado pelo o último referendo do Brexit que ocorreu há três semanas, tendo provocado sérias alucinações e delírios num homem com cerca de 40 anos. Autores do relatório médico afirmam que “os eventos políticos podem atuar como fatores de stress psicológico e têm um impacto significativo na saúde mental das pessoas”.
2 Outubro 2019, 16h15

Médicos no Reino Unido identificaram o primeiro caso de um surto psicótico relacionado com o Brexit, de acordo com um relatório publicado no British Medical Journal, esta quarta-feira.

Segundo o estudo, o surto foi desencadeado pelo o último referendo do Brexit que ocorreu há três semanas, tendo provocado sérias alucinações e delírios num homem com cerca de 40 anos. Este é o primeiro caso relatado de psicose desencadeada por motivos políticos, e os médicos advertem que convulsões políticas podem afetar seriamente a saúde mental.

Segundo o British Medical Journal, o paciente encontrou a sua saúde mental “deteriorada rapidamente” logo após os resultados do referendo da União Europeia. Ele também ficou cada vez mais preocupado com os incidentes raciais e, depois de ter sido internado numa ala psiquiátrica, disse que se sentia “envergonhado” por ser britânico.

O doutor Muhammad Zia Ul Haq Katshu, que tratou o paciente, escreveu: “Apresentava-se agitado, confuso, com pensamentos desordenados. Tinha alucinações auditivas, identificações e referências erradas, paranóia e ilusões bizarras”.

“Durante o seu internamento na ala psiquiátrica, ele disse ter vergonha em ser britânico. Descreveu a sua família como sendo multicultural. Disse ter olhado para o mapa eleitoral, no que toca aos resultados, sobre a forma como as pessoas votaram sobre a UE. E pertencer a uma circunscrição que reflete uma opinião que não é a sua”, conta o médico, que foi quem o tratou.

Uma vez admitido no hospital, o paciente não identificado foi descrito como agitado, tentando “cavar” o chão do hospital com as mãos para “sair fora deste lugar”. Ele acreditava que estava a ser espiado e que as conversas na rádio eram dirigidas a ele.

“Ele tinha estado sujeito a stress relacionado com o trabalho e a família antes daquele episódio e isso pode ter contribuído”, admite o médico, deixando, porém, a seguinte ressalva: “Os eventos políticos podem atuar como fatores de stress psicológico e têm um impacto significativo na saúde mental das pessoas, especialmente daqueles que já têm predisposição para desenvolver doenças mentais”.

Esta não é a primeira vez que se fala em stress desencadeado por motivos políticos. Investigações anteriores mostraram que as preocupações com o futuro dos EUA após as eleições presidenciais de 2016 e o referendo do Brexit foram fontes significativas de stresse. A psicoterapeuta Emmy van Deurzen contou ao The Guadian, que muitos cidadãos comunitários têm procurado a sua ajuda, movidos por problemas de stress e ansiedade relacionados com o Brexit. Na sua clínica, disse na altura, recebe agora 15 cidadãos europeus por semana, quando antes recebida, durante o ano todo, no máximo 50 ou 100.

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