[weglot_switcher]

Privatização da TAP será “um grande catalisador”

Na JE Talk desta semana, estivemos à conversa com profissionais para uma análise ao passado recente, asim como perspetivar o presente ano de 2023 e inferir sobre as oportunidades que o contexto macroeconómico proporciona.
23 Abril 2023, 12h00

Os sinais de recuperação no mercado de fusões e transações já se notam em 2023, com os números registados no princípio do segundo trimestre a serem moderadamente animadores.
Depois de, no ano passado, se ter verificado um decréscimo ao nível do valor das transações, na ordem de 39% face a 2021 e uma quebra menos acentuada no número de transações realizadas, na ordem de 8%, as expetativas existentes são agora positivas.

Para os trimestres seguintes, os especialistas contam que o mercado dê aso a um sentimento positivo, que se torne “um bocadinho mais quente, mais mexido” e, em simultâneo, mais atrativo para quem nele trabalha, de acordo com Vânia Soares, business developer na Moneris.

A situação da pandemia, a que se somam as mudanças acentuadas no plano macroeconómico, como é o cado do aumento da inflação e a subida das taxas de juro, gerou-se uma situação em que os gestores passam a centrar uma parcela maior das suas preocupações na sua liquidez. No passado, “olhava-se menos para este indicador, agora começa-se a dar mais relevância”.

De acordo com a responsável, as due diligence continuam a ter um peso acentuado na área jurídica e na financeira. Ainda assim neste momento também já se observa um papel de relevo na engenharia ambiental, que “deverá caracterizar as transações num futuro muito próximo”, refere.

Para César Bessa Monteiro, sócio da Abreu Advogados, os sinais de recuperação do sector e maior atividade do mercado são notórios já no que respeita ao início do segundo trimestre de 2023 e terão tendência para crescer até final do ano.

No entendimento do próprio, devido ao contexto macroeconómico atual, as empresas preferem optar por transações rápidas, com visibilidade e previsibilidade ao nível da rentabilidade. Deste modo, os processos roubam menos tempo aos profissionais. Por outro lado, regista-se em muitos casos uma baixa no número de transações que se concretizam, visto que, em muitas ocasiões, comprador e vendedor não chegam a acordo relativamente ao preço.

Vânia Soares destaca como emergentes em Portugal o sector energético (em particular, as energias renováveis), o do imobiliário e o tecnológico. Sublinha a importância do ESG como algo em pleno crescimento e que é transversal à economia nacional, estando presente em todos os sectores de atividade.

Na segunda parte da mesma conversa, Paulo Soares de Oliveira, partner na ONEtoONE, explicou que a situação que se coloca perante os mercados é exigente mas, ao mesmo tempo, afigura-se como uma oportunidade de negócio.

“É um desafio porque gera um conjunto de situações que é necessário acautelar, mas também é positivo, porque as empresas adquirem novas competências e acesso a novos mercados”. Deste modo, apesar da incerteza que está ligada a este tipo de operações, trata-se de uma “enorme oportunidade” de fazer negócio, nas palavras do responsavel.

João Couceiro, sócio na Eversheds Sutherland FCB, menciona a possibilidade de a venda da TAP a um operador do sector privado como algo que poderá impulsionar fortemente o sector empresarial, em paticular na área de M&A.

“Temos que pensar que vem aí um grande catalisador, que é a privatização da TAP. Eu acho que vai mexer todas as empresas à volta”, sublinha João Couceiro.
Ao mesmo tempo, o contexto português apresenta um situção favorável ao investimento de privados em sectores como a saúde e a educação, devido à “frustração” existente entre os profissionais que trabalham naqueles sectores.

O responsável daquele escritório de advocacia deixa claro que os investidores, em particular os players estrangeiros, deparam-se com um forte problema, que é o da falta de estabilidade no mercado, provocada por decisões políticas. Ora, as alterações realizadas a questões como o regime fiscal, por exemplo, podem criar “alguma desconfiança” nos mercados. Oresponsável dá o exemplo de “um investidor que fez um investimento em alojamento local e que agora as regras do jogo são diferentes” e deixa uma questão. “Como é que eu explico que [a lei] mudou?”

Nesta medida, “os investidores são extremamente sensíveis à instabilidade, seja fiscal, seja legislativa”, o que será, com grande probabilidade, um entrave aos investimentos, reitera Paulo Soares de Oliveira.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.