Os níveis de produtividade do trabalho da economia portuguesa derivam sobretudo do baixo nível da quantidade de capital disponível por trabalhador. A conclusão é de um relatório sobre a produtividade da economia nacional, divulgado esta sexta-feira no âmbito da I Conferência do Conselho da Produtividade.
Segundo o relatório, o crescimento da produtividade do trabalho em Portugal permaneceu relativamente lento, em contra-ciclo com a zona euro. “Esta desaceleração nos últimos anos pode ser explicada pelo facto da recuperação económica portuguesa no pós-2013 ter sido acompanhada de um aumento significativo do emprego em sectores intensivos em mão- de-obra e uma acumulação de capital mais limitada”, referem.
“A tendência mais recente da produtividade do trabalho da economia portuguesa parece estar mais associada ao baixo nível de intensidade capitalística (quantidade de capital disponível por trabalhador) do que à falta de eficiência, propriamente dita, do fator trabalho”, explicam.
Os economistas defendem que as reformas implementadas nos últimos anos tiveram efeitos positivos na produtividade. No entanto, destacam que existe um potencial para crescimento através de uma melhor realocação de recursos.
Os economistas do Ministério das Finanças e do Ministério da Economia explicam que “a evolução recente da produtividade do trabalho está, em parte, associada ao aumento do emprego e ao menor nível do stock de capital por trabalhador”, salientando que a produtividade total dos fatores registou pela primeira vez desde a crise económica e financeira “um contributo positivo para o crescimento do PIB em 2016 e 2017”.
Relativamente à composição do investimento, explicam que o peso da construção reduziu-se significativamente, tendo sido em parte substituído por investimento “em ativos mais produtivos”, tais como a propriedade intelectual e máquinas e equipamentos.
Sistema financeiro “essencial” ao crescimento do investimento
Os economistas reconhecem progressos no tecido empresarial português, mas consideram que “as empresas portuguesas apresentam ainda níveis elevados de pressão financeira e reduzidos níveis de autonomia”.
“A limitada acumulação de capital, em parte determinada pelos constrangimentos ao financiamento das empresas, tem afetado o potencial de crescimento da produtividade em Portugal”, referem. “A robustez do sistema financeiro constitui assim um fator essencial ao crescimento do investimento e da atividade económica”.
Relativamente ao impacto da dimensão das empresas nacionais, realçam que a “reduzida proporção de empresas médias e grandes, face aos nossos parceiros europeus constitui um entrave ao crescimento da produtividade ao nível da empresa”.
Disparidade de qualificações continua a marcar a economia nacional
O Conselho para a Produtividade identifica ainda a persistência da disparidade nas qualificações no total da população ativa, com uma maior proporção de trabalhadores com um nível de escolaridade inferior face à zona euro. Este quadro tem especial relevância quando se analisa as qualificações dos gestores portugueses, que apontam constituir “um fator limitativo do crescimento da produtividade”.
“A qualificação dos gestores determina, em grande parte, a capacidade das empresas de se adaptarem às mudanças tecnológicas e à concorrência internacional”, realçam.
Os economistas salientam, no entanto, que o país registou uma alteração significativa nas qualificações das camadas mais jovens, colocando-se em linha com os países da zona euro. Ainda assim, alertam que Portugal é o terceiro país da zona euro com o maior desfasamento entre as qualificações dos trabalhadores e as exigências do posto de trabalho.
“Em particular, 23,6% dos trabalhadores estariam sobre qualificados face às suas funções. O mercado de trabalho português apresenta também uma das maiores percentagens de trabalhadores com áreas de estudo desfasadas face às necessidades do posto de trabalho em que estão inseridos. A elevada segmentação no mercado de trabalho, ao constituir um entrave à mobilidade, contribui para estes desfasamentos, prejudicando a eficiente alocação de recursos”, concluem.
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